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Dona Onete discute o orgulho de ser amazônida em podcast

A diva do carimbó chamegado e a atriz acreana Karla Martins falam sobre 'A cultura e o Futuro da Amazônia'

Vito Gemaque

Há quase um ano enclausurada em casa em Belém, a cantora do carimbó chamegado Dona Onete continua divulgando o orgulho de ser paraense e da Amazônia. Com músicas que sempre trazem como referência o meio ambiente, os animais e a vida do caboclo, a dona do Pitiú participou do podcast “Nos Encontramos na Música”, que chega nesta quinta-feira, 11, nas plataformas digitais. O segundo episódio da série, intitulado “A Cultura e o Futuro da Amazônia”, é apresentado pela jornalista Sarah Oliveira.

“Falamos sobre a Amazônia e tudo o que está acontecendo, desde a Eco 93. O que eu estou vendo é que estamos perdendo muita coisa, os milionários precisam de eletricidade e pegam os nossos rios com as hidrelétricas, como de Tucuruí. A gente vem sofrendo há muito tempo por muita coisa”, reclama Dona Onete.

Ouça o podcast

Outra participante do podcast, que refletiu sobre o tema junto com a paraense, foi a contadora de histórias, ativista cultural e atriz acreana Karla Martins. As duas filhas da floresta convidadas discutem como a biodiversidade da Amazônia, etnias, linguagens e cultura podem ajudar a conhecer as raízes brasileiras e nos reconectar com o planeta.

"A floresta é a vida. Não só para quem está na Amazônia ou para quem vive no Brasil. A floresta é fundamental para o mundo. A floresta é vida e viva. É orgânica. É muito importante garantir a condição de vida de quem vive dentro da floresta para que ela se mantenha em pé. Essa é a preservação de tudo, inclusive da nossa cultura", disse.

A série “Nos Encontramos na Música” foi gravada de forma remota devido ao isolamento social provocado pelo novo coronavírus. O programa recebe, nas cinco conversas que compõem a temporada, artistas e personalidades fundamentais para a construção e o legado da música e da cultura brasileira, como Gilberto Gil, Emicida, Linn da Quebrada, Letrux, Ailton Krenak, Elza Soares, Rico Dalasam, entre outros.


Para Dona Onete, a música foi a forma que ela encontrou para expressar seu amor e preocupação com a floresta e os povos amazônicos. Divulgar o orgulho de ser paraense e da Amazônia é o primeiro passo para valorizar as riquezas da nossa terra.

“A música me possibilita falar sobre a nossa floresta, sobre o meu estado, que é o Pará, sobre o Norte. Com ela eu defendo as nossas causas, registro nossa fauna e flora”, confirma a cantora. “Há pessoas que cantam coisas lindas e que nos mostram um caminho diferente, que falam sobre amor e fraternidade. O amor transcende qualquer coisa. Eu gosto de quem canta o amor”, pontua.

Considerada atualmente uma mestra do carimbó, Dona Onete aproveita o conhecimento que acumulou nas décadas dando aula como professora de história e o conhecimento empírico do amazônida para escrever suas músicas que caem no gosto da juventude e dão novo orgulho em ser amazônico.

“Por eu ser professora de história e de estudos paraenses levei muito a sério falar da nossa história cabocla, nos salas de aulas. Eu sentia que os meus alunos não gostavam do que era da gente, gostavam da cultura dos outros”, relembra.

Quase todas as músicas de Dona Onete envolvem de alguma forma a relação do homem com o meio ambiente. Uma das músicas mais famosas da compositora, que a fez cair nas graças dos paraenses - “No Meio do Pitiú” - é uma ode ao Ver-O-Peso pela visão de um urubu que namora uma garça “namoradeira”. Outra música, que dá nome ao segundo álbum é “Banzeiro”, fala sobre as ondas do mar.

“Eu sou uma cabocla que teve coragem de falar, a gente precisa saber e falar. Não falar de uma maneira ofensiva e deturpada. Por exemplo, o pitiú eu não sabia explicar o que era. O pitiú não é o fedor, como pensam. Na verdade, é quando os pescadores colocam os peixes no Ver-O-Peso embaixo do sol. Eles vão pescando, colocam os peixes no sal e no gelo, e quando colocam embaixo do sol isso vira uma gosma, como mingau de tapioca. Aquilo é a química do pitiú”, explica.

Essa experiência já levou Dona Onete a ser convidada para eventos ambientais para discutir que envolviam a defesa do meio ambiente. A paraense inclusive compôs uma música inédita para um encontro de Alter do Chão sobre a escassez e a poluição das águas.

Ela acredita que a conscientização da população tem aumentado, apesar dos desafios para preservar a natureza. Para Dona Onete, nas décadas anteriores havia mais preconceito e menos orgulho em ser da Amazônia.  

A compositora espera que esse tempo de reclusão por causa da pandemia sirva para os seres humanos refletirem sobre os caminhos que estavam traçando para o mundo. “Estamos sobrevivendo e tenho certeza que vamos ser abençoados por Nossa Senhora de Nazaré, e quando tudo isso passar, as pessoas terão mais humildade, carinho e aceitação. Estava demais, a gente não se entendia mais, e agora temos tempo suficiente para plantar e para colher. Se você tem um pedacinho de terra plante para comer, que vamos precisar muito disso, das nossas águas e peixes. E queremos os nossos direitos para que o Pará seja reconhecido pela Amazônia”, enfatiza. 

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