Cantora Reddy Allor fortalece a arte drag no universo sertanejo
Pabllo Vittar e Marília Mendonça são as grandes inspirações da artista que teve a música sertaneja presente em sua vida desde a infância
A drag queen brasileira Reddy Allor iniciou a carreira na música sertaneja no começo da adolescência. A artista cantou com o irmão Gabriel dos 12 aos 18 anos, mas desejou buscar por outras referências quando não se sentia representada pelo sertanejo. Reddy, ao se encontrar no meio, teve a cantora Marília Mendonça como inspiração.
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Reddy Allor, a drag queen sertaneja, começou sua trajetória como Guilherme Bernardes nas festas de família. Ao ver que não sentia acolhida por esse estilo musical, Reddy - que, na época, se identificava como Guilherme - conheceu a arte drag com a cantora Pabllo Vittar.
"As pessoas me apontavam muito. Não podia usar a roupa que eu queria, não podia usar maquiagem. Não podia falar desse jeito, ou cantar muito fino, ou fazer muitos agudos. E era uma coisa que me limitava demais", relembra.
A cantora diz que não conhecia a arte drag ou sabia sobre pautas LGBTQIAP+. “Quando eu entendi a possibilidade da arte drag, que era tipo tudo que eu sempre amei fazer mais a música, foi algo que explodiu minha cabeça, porque me trouxe um mundo novo”, afirma.
No início da carreira, Reddy Allor foi convocada pelo reality musical “Queen Stars Brasil”, em 2022. O programa, apresentado por Pabblo Vittar e Luísa Sonza, teve três vencedoras: Reddy Allor, Leyllah Diva Black e Diego Martins (Kelvin, em na novela "Terra e Paixão").
O trio Pitayas foi formado pelas drag queens vencedoras, que lançou um EP com cinco músicas e um videoclipe. Reddy, Leyllah e Diego ficaram sem gravadora e não puderam seguir com o projeto de forma independente, o que resultou em pausa do grupo no final de 2022.
Reddy brinca que o assunto é sensível, mas esclarece que o fim do Pitayas não é para sempre - mesmo não sendo o foco dos artistas no momento.
Junto com Diego, Reddy traz novidade aos fãs do trio: a convite dela, juntos eles devem lançar um novo single logo.
A cantora deixa claro: "O Diego é meu amigo, então não é um shade em Pitayas. Não tem a ver com Pitayas. Tem a ver com a nossa amizade e é algo que a gente conversa há muito tempo de fazer.”
Em suas músicas, Reddy aborda temáticas comuns do estilo sertanejo, como amor, sofrência e bebida. A cantora acredita que a militância de pautas LGBTQIAP+ está na existência dessas pessoas e na bandeira que é levantada, diariamente, em suas vidas.
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A militância é considerada por muitos no meio sertanejo como algo desnecessário, o “mimimi”, e Reddy entende que não é disso que o ramo gosta.
“A gente sabe que não é [mimimi], porém a gente precisa ser esperto também. Tipo, se eu tô tentando, sozinha, uma pequena camponesa drag, entrar no mercado que já tá consolidado, que já é gigante, e é regido por majoritariamente homens héteros, eu não vou poder chegar com dois pés no peito, falando o que eu quero e da forma como eu quero, porque isso não vai ser aceito”, esclarece.
Recentemente, com Luiza Martins, Reddy lançou a música “Pessoa Certa (Momento Errado)”. A parceria é um exemplo do que Reddy acredita.
“A Luiza até falou que essa representatividade, que é unir uma drag sertaneja com uma mulher lésbica sertaneja, não precisa ser verbalizada”, ressalta.
Uma história com referências
Reddy cresceu ouvindo música sertaneja. Milionário de José Rico, Chitãozinho e Xororó, Zezé Di Camargo e Luciano, e Jorge e Mateus são apenas alguns dos artistas que marcaram a história da cantora. Entretanto, duas pessoas em especial marcaram sua história: Pabllo Vittar e Marília Mendonça.
Pabllo foi aquela que, indiretamente, apresentou a arte drag para Reddy. Por sua vez, Marília, com sua potente voz, foi quem se tornou a primeira diva pop de Reddy. “A primeira vez que eu ouvi Marília, foi com a música 'Flor e o beija-flor'. E eu arrepiava de uma forma que eu falava: 'gente, como assim?' Foi algo muito forte para mim. A partir disso, comecei a consumir Marília todos os dias da minha vida”, relembra.
Reddy considera Marília Mendonça como a figura feminina que a fez entender essa possibilidade dentro da música sertaneja. “A Marília já veio: 'mulher trai, eu vou trair, amante não tem lar...'. Umas coisas muito reais e indo contra todo o machismo estrutural que o sertanejo carrega. Foi aí que as coisas começaram a se formar na minha cabeça”, explica.
Após a chegada de Marília no mundo sertanejo, mudanças ocorreram no cenário para as mulheres. As artistas Lauana Prado, Yasmin Santos e Luiza Martins, por exemplo, assumiram relacionamentos homoafetivos.
Reddy acredita que todo esse processo foi natural e de forma inconsciente. A artista observa que a representatividade chegou com a necessidade de evolução do sertanejo e da sociedade.
(*Lívia Ximenes, estagiária sob supervisão do Coordenador de Conteúdo de Cultura, Abílio Dantas)