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Caetano e Bethânia estreiam turnê no Rio com canção de Iza e homenagens à Gal

Show trouxe repertório de sucessos das carreiras e surpresas ao público

Abílio Dantas*
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Assistir ao show de estreia da turnê de Caetano Veloso e Maria Bethânia, no Rio de Janeiro, para um jornalista de cultura, é semelhante ao privilégio de um repórter de esporte que fosse chamado a cobrir um jogo de Pelé e Garrincha. Foi assim que encarei o convite da produção do show para acompanhar a apresentação na noite deste sábado, 03, no espaço Farmasi Arena, na Barra da Tijuca, representando a reportagem do Grupo Liberal.

Caetano e Bethânia

O espetáculo mais esperado da música brasileira em 2024 cumpriu o destino que o aguardava: o de ser um clássico, sem deixar de trazer surpresas e também deslizes. O show chega a Belém no dia 28 de setembro, no Estádio Mangueirão.

Uma canção da cantora Iza, “Fé”, foi a mais surpreendente das escolhas dos dois artistas veteranos. Com versos incisivos, que tratam da importância da fé, mas com a irritação de quem enfrenta adversidades, os irmãos de Santo Amaro da Purificação, da Bahia, levantaram o público na última parte do show com a constatação de que, apesar de integrarem o chamado panteão da música brasileira, não perderam a curiosidade de acompanhar o que as novas gerações vêm fazendo. “Fé pra quem é forte/ Fé pra quem é foda/Fé pra quem não foge à luta”, cantaram.

Com a palavra de ordem “Gal para sempre”, dita por Caetano e em seguida por Maria Bethânia, outro número importante do show foi a homenagem à amiga Gal Costa, cantora – símbolo do movimento Tropicália e parte do quarteto de baianos que sacudiu a música brasileira a partir dos anos 1960, falecida em novembro de 2022. Do repertório de Gal, Caetano e Bethânia cantaram, em duo, “Baby” e “Vaca Profana”, ambas de autoria de Caetano Veloso.

Gilberto Gil, o quarto nome do quarteto, também foi citado no repertório, com a canção “Filhos de Gandhi”, que integrou a primeira parte da relação de músicas do espetáculo. “Essa é de Gilberto Gil”, disse Caetano Veloso, antes de iniciarem os versos da canção feitos para exaltar o bloco afro Filhos de Gandhi, que desde 1949 desfila em Salvador no Carnaval.

 

 

Como não poderia deixar de ser, a Bahia esteve bastante presente no espetáculo. Tanto pela reverência ao candomblé apresentada em diversas fases da carreira dos dois, com exibição de fotos de momentos afro-religiosos no telão; pela sequência de sambas de roda, gênero típico da região do recôncavo baiano; quanto pela inclusão da canção Gita, do mais baiano dos roqueiros: Raul Seixas. A escolha da música não é novidade para quem acompanha a carreira de Bethânia, mas não deixa de merecer destaque sua presença em um repertório majoritariamente formado por canções de Caetano.

'Sozinho'

Curiosamente, no momento em que o compositor assume o palco sem Bethânia, é a primeira hora em que canções de outros autores ganham protagonismo. Caetano cantou os sucessos de sua carreira, “Sozinho”, de Peninha, e “Você não me ensinou a te esquecer”, de Fernando Mendes e José Wilson, acompanhado pelo coro de uma multidão que certamente recordava momentos de suas vidas em que as canções foram as trilhas sonoras.

No momento solo, Caetano também apresentou “Você é linda”, canção muito querida por seus fãs, e o louvor evangélico “Deus cuida de mim”, do pastor e fenômeno da música gospel Kléber Lucas, vencedor de um Grammy latino de melhor álbum de música cristã em língua portuguesa. Caetano gravou a canção com Kléber em 2022, mas para muitos que estavam no show foi uma surpresa vê-lo exaltando a importância da fé neopentecostal no Brasil. Mais uma vez, Caetano traz ao público pensamento e falas que muitos não esperariam dele, repetindo a originalidade que desencadeou novas reflexões sobre a cultura brasileira a partir da Tropicália.

'Explode Coração'

Quando Maria Bethânia iniciou o seu set list solo, o que se viu foi uma relação de grandes sucessos, músicas que cativaram gerações por meio do rádio ou pela televisão, e que trazem a marca da dramaticidade da intérprete.

 “Brincar de Viver”, de Guilherme Arantes e John Lucien; “As canções que você fez pra mim”, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos; “Explode Coração”, de Gonzaguinha; “Negue”, de Adelino Moreira e Enzo de Almeida Passos; e “Vida”, de Chico Buarque, foram as escolhidas para serem apresentadas antes dos sambas-enredo da Escola de Samba Mangueira, que defendeu junto ao irmão.

Arestas

Conforme costume em estreias, nem tudo foram acertos na apresentação. Um exemplo é o momento em que Bethânia pediu para que a banda parasse e tocasse mais uma vez a introdução da canção “Negue”, já que fora iniciada quando o público ainda aplaudia a canção anterior, segundo o que informou ao pedir a volta da parte inicial do arranjo. Outro erro, também de Bethânia, ocorreu quando cantou com Caetano a canção “Um Índio”. “Errei a letra”, disse com um sorriso tímido, o que não a impediu de seguir a interpretação com ainda mais entrega e concentração.

No caso de Caetano, pessoas do público procuraram este representante da imprensa para reclamar do som. Para um fã, a voz do cantor foi prejudicada tecnicamente por algum problema na equalização ou outro requisito sonoro específico. No saldo geral, estes deslizes podem ser considerados apenas arestas a serem corrigidas nos próximos shows. O sentimento ao final do espetáculo é de que os dois craques da música, tal como Pelé e Garrincha foram no futebol, proporcionaram uma partida inesquecível aos torcedores apaixonados.

*Coordenador de Cultura do Grupo Liberal

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