Maíra Azevedo fala sobre humor, ativismo e carreira em entrevista exclusiva
Maíra participou de séries como ‘Rensga Hits!’ e ‘Nada Suspeitos’ e dos filmes ‘Vale Night’ e ‘Medida Provisória’ em 2022
A atriz, comunicadora e humorista Maíra Azevedo, 41 anos, também é conhecida como "Tia Má". A comunicadora começou no jornalismo em Salvador (BA), e ganhou repercussão na internet por misturar pautas importantes com um toque de humor. A atriz também protagonizou várias produções, entre as mais recentes: “Rensga Hits!” (Globoplay),“Nada Suspeitos” (Netflix), e os filmes “Vale Night” e "Medida Provisória". A Redação Integrada de O Liberal conversou com exclusividade com a artista sobre humor, ativismo, carreira e planos para o futuro.
1. O humor sempre esteve presente na sua vida ou teve um ponto de virada para usá-lo?
O humor sempre esteve presente na minha vida. Rir sempre foi pra mim uma forma de resistir. Sempre fui uma menina fora do padrão. Muitas vezes eu usava piada, para esconder as minhas questões, e as questões, na verdade, que as pessoas tinham com a minha cara, com o meu corpo, com a minha pele. [...] E eu venho de uma família muito engraçada, eu sou nordestina, e a gente no nordeste tem essa veia cômica muito forte. Tem uma música de Jorge Portugal, imortalizada na voz de Lazzo Matumbi que eu sempre sinto, que é 'apesar de tanta dor, apesar de tanto não, somos nós a alegria da cidade, a alegria do estado, alegria do país'. Porque a gente ri mesmo tendo milhões de motivos para chorar. Rir para mim também é resistência.
2. Tens mais de 1 milhão de seguidores e ficaste conhecida como 'Tia Má' na internet, como é a recepção do público?
Comecei a ser conhecida, na verdade, como Maíra Azevedo. Eu era repórter, então já era conhecida na minha cidade. Tia Má me dá uma proporção nacional, as pessoas começam a me conhecer fora de Salvador, porque eu comecei a fazer vídeos bem humorados. Era isso que eu queria: ser imparcial na redação, mas na minha vida eu tenho um lado e eu sempre faço questão de dizer qual é o meu lado.
A Redação Integrada de O Liberal conversou com exclusividade com a humorista Maíra Azevedo sobre humor, ativismo, carreira e planos para o futuro. (Reprodução / João Lins)
3. Como foi atuar em 'Medida Provisória' e quais são os teus próximos projetos?
Medida provisória é um marco nacional que vai fazer todas as pessoas que produzem cinema no Brasil refletir, porque é até hoje o filme com o maior número de profissionais negros da história do cinema no Brasil. Foi muito emocionante, primeiro por ter sido dirigida por Lázaro Ramos, que é um grande profissional, tenho muita admiração, mas que é meu amigo desde que nós somos adolescentes. [...] E essa distopia, algo que parece ser tão distante em Medida Provisória, na verdade a gente vive no nosso cotidiano. Porque as pessoas pretas aqui no nosso país vivem à margem. A gente já tem um país muito desigual economicamente. E aquele filme, acho que incomoda exatamente porque faz a gente olhar para um Brasil real, mesmo ali sendo uma distopia.
4. “Rensga Hits!”, “Nada Suspeitos" e “Vale Night” como foi essa maratona de trabalhos?
Três produtos que foram os mais vistos em 2022, e que pra mim, são obras que fizeram muita diferença na minha vida. Eu tenho um carinho muito grande por Nada Suspeitos, porque me dá a Bete, minha primeira protagonista. personagem que se parece comigo, mas ao mesmo tempo é distante da minha realidade. Já Rensga me dá uma família, o elenco dessa série fez com que eu descobrisse grandes amigos e grandes amigas, pessoas que eu sei que eu vou levar para o resto da minha vida. Esse texto de Renata Corrêa é delicioso. Eu mesmo participando do produto, eu queria assistir e ver o desfecho. Vale Night me colocou em uma condição inusitada, onde eu faço uma avó. É muito bom a gente poder sair da nossa realidade e poder emprestar o nosso corpo para várias outras pessoas.
5. Como estás conciliando a maternidade e o que esse maternar agregou à Maíra?
Quem falar que tem uma resposta pronta para isso, precisa vender e vai ficar bilionário (risos). A gente não concilia, a gente vai dando aquele jeitinho e não tem equilíbrio. Essa é a verdade. Muitas vezes eu estou estudando um texto com minha bebê no braço dando comida à ela. Muitas vezes eu estou aproveitando o tempo que eu teria para descansar, pra escrever e produzir. E eu sei que esse é um 'privilégio' de várias mulheres que têm a maternidade e uma vida profissional, a gente termina acumulando tarefas. Mas a gente está seguindo e se reinventando, tentando dar conta de coisas que a gente não vai dar conta, e é importante ter essa compreensão. Eu acho que para mim, a melhor forma de lidar com isso, é saber que nem sempre eu vou dar conta.
6. Como avalias a luta antirracista no Brasil, tendo em vista o último mês e seus debates acerca do tema?
A luta antirracista no brasil tem tido grandes avanços, é verdade, mas a gente precisa compreender que a gente está vivendo a sociedade que tem celebrado ser reacionário, onde as pessoas não têm mais vergonha de te mostrar o seu racismo. As pessoas tem medo de serem descobertas que são racistas, mas elas não se propõem a fazer um debate real sobre a pauta antirracista e como o racismo influencia na nossa sociedade, porque quando um jovem negro é assassinado a gente tem que entender que a gente pode estar perdendo um grande talento. O racismo não atinge a vida apenas de pessoas não brancas, atinge a vida de toda uma sociedade. Mas a gente está mudando, avançando e vamos seguir nesse lugar de ocupar esses espaços e de não aceitar mais retrocessos.
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