Livro resgata a vida e a obra do editor e caricaturista J. Ozon
O carioca José Ozon Rodrigues foi caricaturista de jornais influentes nos anos 1930 e 1940, principalmente no Rio de Janeiro, e, de 1945 até o fim da vida, em 1971, se dedicou a lançar livros de vários autores nas editoras que possuiu, tendo sido o primeiro a publicar Nelson Rodrigues.
José Ozon Rodrigues (1915-1971), J.Ozon, foi um caricaturista e editor brasileiro, mestre do portrait-charge (caricatura pessoal) que publicou em influentes jornais e também em revistas e livros, entre os anos de 1930 a 1960, principalmente no Rio de Janeiro, além de ter sido pioneiro na publicação de autores como Nelson Rodrigues e Jorge Amado. Essa rica história é resgatada na biografia “J.Ozon: O Editor e o Caricaturista”, de autoria do historiador e caricaturista Luciano Magno, lançado pela Gala Edições.
Esse é o terceiro livro do historiador, que lançou anteriormente a "História da Caricatura Brasileira", vencedor do Prêmio Jabuti na categoria Artes e Fotografia, em 2013, e o "Catálogo da 1a Bienal Internacional da Caricatura", de 2014. “Me tornei um historiador da caricatura brasileira”, avalia o autor, que faz menção em agradecimento no livro ao caricaturista paraense Biratan Porto, recém falecido. “Biratan Porto foi amigo nosso muito importante, que participou da Bienal da Caricatura. Fizemos questão de lembrar dele (no livro), como forma de homenageá-lo. Foi um dos caricaturas mais importantes do Brasil e a partida dele foi muita sentida”.
Descendente de espanhóis, José Ozon Rodrigues nasceu no Rio de Janeiro e começou a fazer sucesso muito cedo. Uma resenha de Carlos Dalmar, da década de 1960, revela que o artista “mal acabara de completar 18 anos e ingressa na redação do 'Diário de Notícias' como caricaturista. Suas charges faziam a cidade rir, alegravam uns e entristeciam outros políticos”. J.Ozon publicou em grandes jornais, como A Palavra, Diário de Notícias, Diário Carioca, A Nota, Vanguarda, O Radical e A Pátria, entre os anos de 1930 e 1940, e também publicou em revistas e livros dos anos 1950 e 1960.
“Aos 18 anos, em 1933, ele já estava em atuação na grande imprensa da época, principalmente no Rio de Janeiro, embora ele tenha desenhos publicados em outros estados. Ele criou um estilo muito pessoal e se tornou um dos maiores especialistas da caricatura pessoal brasileira”, ressalta Luciano Magno.
Confira foto, caricaturas, desenho e capas de livros publicados por J. Ozon:
“Por volta de 1945, J. Ozon dá uma guinada para o campo editorial, lançando editoras, primeiro foi a Estrela Vermelha, pela qual lançou clássicos da literatura mundial e, logo em seguida, em 1946, a Edições do Povo”, conta. O nome Estrela Vermelha teria sido inspirado no fato de J. Ozon ser militante do Partido Comunista, mas, ao perceber a perseguição política aos comunistas, ele decide trocar o nome da empresa. “Ele percebeu as dificuldades que teria com o selo com esse nome, já que estava havendo a cassação de deputados comunistas e ameaças de fechamento do partido”, acrescenta o autor.
J. Ozon trabalhou com a segunda editora até meados de 1950, e, por meio da qual lançou muitos livros, incluindo Nelson Rodrigues como autor literário com os livros em conjunto “Álbum de Família” e “Vestido de Noiva”, que foram publicados em uma única edição. Em 1956, ele abre a J. Ozon Editora, pela qual publicou mais cinco livros de Nelson Rodrigues: “Asfalto Selvagem” em dois volumes, “A Vida Como Ela É” também em dois volumes e “Beijo no Asfalto”. “J. Ozon se tornou o pioneiro editor de Nelson Rodrigues no Brasil”, destaca o autor. A editora mantinha escritório de representação em Belém assim como São Paulo, Niterói, Belo Horizonte e Fortaleza.
O editor faleceu em um acidente automobilístico aos 56 anos de idade. A editora ainda resistiu até por volta de 1973, quando fechou.
Pesquisa
A biografia busca revelar ao Brasil da atualidade o gênio audacioso e visionário que encantou leitores com seu traçado de tendência modernista e também conquistou muitos leitores, ajudando a disseminar mais de 100 autores brasileiros e estrangeiros, como Jorge Amado, David Nasser e Orestes Barbosa.
A ideia de escrever esse livro surgiu da filha de J. Ozon, Kley Ozon, que contatou Luciano Magno após conhecer as obras anteriormente publicadas por ele. “Empenhada em fazer um resgate da obra do pai, ela me convidou para realizar essa pesquisa em 2015, visando a publicação de um livro biográfico”.
Foram cinco anos de pesquisa. “O J. Ozon não deu muitas entrevistas, tive que fazer um trabalho de pesquisa forte. Pude contar com o acervo da família do artista, que apoiou a pesquisa da obra, além de contar com outros acervos, como jornais contidos na Biblioteca Nacional, meu acervo particular e pesquisa em livros de uma vasta bibliografia. A obra dele é muito complexa e envolve muitas nuances, com muitos detalhes descobertos que foram trazidos à tona”.
“J.Ozon: O Editor e o Caricaturista” apresenta 320 páginas com a narrativa e quase 600 imagens produzidas pelo caricatura, que também pintava, além de registros fotográficos da vida do editor ao longo de quase 30 capítulos.
A biografia foi lançada no último sábado, 22, no antigo Palácio do Catete, atual Museu da República, no Rio de Janeiro, e terá novo lançamento em São Paulo na 9a Arte Galeria, na Rua Augusta, 1371, loja 113, bairro da Consolação, a partir das 17h. Luciano Magno pretende lançar a obra em outras capitais do Brasil, futuramente.