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Livro 'Lourdes Barreto: Puta Biografia' é lançado nesta quinta, 23

Ativista da luta por direitos humanos e das mulheres, Lourdes completou 80 anos.

Enize Vidigal

Lourdes Barreto, ativista dos direitos humanos e feminista, lança nesta quinta-feira, 23, o livro “Lourdes Barreto: Puta Biografia” (Editora Paka-Tatu), no Theatro da Paz, às 18h. Aos 80 anos recém-completados, Lourdes foi homenageada no Carnaval de Belém, este ano, pela escola de samba Piratas da Batucada, e também será tema de um vídeo-documentário, cujo teaser será exibido durante o lançamento do livro. A programação no Da Paz contará ainda com a apresentação do samba-enredo do Piratas e a apresentação do espetáculo teatral “Nas Brenhas”, produzido pelo Grupo de Mulheres Prostitutas do Estado do Pará (Gempac).

O livro traz o relato da trajetória de vida e das lutas por políticas públicas que fizeram de Lourdes uma referência nacional. “A palavra ‘puta’ toda a sociedade usa, mas não respeita. Faço questão que seja uma palavra pública. Sou puta”.

Natural da Paraíba, Lourdes narra que saiu da casa da família aos 14 anos, após sofrer uma violência doméstica e sexual. “Resolvi ser um a mulher livre, fazer o que eu quisesse da minha vida, usufruir desse direito após tudo o que aconteceu. Encontrei acolhimento na prostituição”, conta. Após trabalhar em cabarés de vários estados, como Pernambuco, Ceará, Rio Grande do Norte, ela fixou residência em Belém do Pará em 1955, onde revela que atendeu personalidades da elite local. “Escolhi essa cidade morena, linda e maravilhosa para morar”. E da capital paraense foi uma das primeiras a ir trabalhar nos garimpos de Serra Pelada e de Itaituba.

A realidade forjou em Lourdes a liderança social que, inicialmente, organizava as prostitutas contra a exploração de trabalho e a violência e na busca por direitos. A luta se ampliou para a educação sexual de vários segmentos da sociedade, inclusive, de forma a prevenir o contágio por HIV e Aids, firmando parceria inicialmente com setores da igreja católica, junto à qual fundou o Movimento de Promoção da Mulher (Mopram). Essa luta se expandiu pela busca da liberdade sexual das mulheres sem estigmas e preconceitos.

“No dia que eu entrei na zona, percebi a necessidade das mulheres se organizarem por direitos, como pausa para alimentação e jornada de trabalho. Eu mobilizava as mulheres, fazia greve, as botava no meu quarto. Atrasávamos o atendimento em 2 horas com o salão cheio de homens, isso dava prejuízo. A gente era castigada, mas passou a melhorar a alimentação, a exploração diminuiu”, recorda.

Lourdes Barreto fundou em 1987, ao lado da parceira de lutas Gabriela Leite, a Rede Brasileira de Prostitutas, a primeira organização da categoria a nível nacional na América Latina. O movimento organizado ajudou a instituir o 2 de junho como o Dia Internacional da Prostituta, o “Puta Day”, data que serve de referência à busca por políticas afirmativas dos direitos das prostitutas, incluindo as políticas de prevenção da Aids e da violência contra a mulher.

Nessa trajetória, Lourdes já foi candidata a vereadora de Belém, no ano 2000, foi conselheira nacional dos Direitos da Mulher e, hoje, é conselheira estadual dos Direitos da Mulher. “Aprendi com a vida que o que você puder fazer, faça”, destaca.

“Esse livro não é só uma história minha, é de cada uma de nós, de cada uma das mulheres que nunca nem ouviram falar no meu nome, de cada mulher que está dentro de sua casa sofrendo violência, de cada mulher que nunca na sua vida teve direito de gozar sua sexualidade e de expressar sua sexualidade. Esse livro é isso”, enfatiza Lourdes.

Programação

Durante o evento de lançamento do livro, será apresentado o espetáculo “Nas Brenhas”, produzido pelo Grupo de Mulheres Prostitutas do Estado do Pará (Gempac), que fala sobre amor, maternidade, violência, militância, trabalho prazeres e desprazeres da prostituição. A concepção e direção do espetáculo é assinada por Carol Castelo e direção teatral por Carol Magno.

Logo após será exibido o teaser do filme “Ondas de Lourdes”, documentário biográfico sobre a vida e o ativismo de Lourdes Barreto. A direção do filme é de Elaine Bortolanza em co-direção com Dário Jose e o roteiro é da própria Lourdes Barreto. Ainda, o Piratas da Batucada fará uma homenagem com a apresentação do samba-enredo deste ano, intitulado “Um Rendez-Vous de Grandes Mulheres”.

Ficha técnica

O livro teve como editor-geral Armando Alves Filho e editora-adjunta Suely Nascimento, capa e design editorial de Luciano Silva e curadoria e edição de textos de Elaine Bortolanza e Leila Barreto, filha de Lourdes.

A publicação teve o apoio de emendas parlamentares da ex-deputada estadual Marinor Brito (PSOL) e do então deputado federal Edmilson Rodrigues (PSOL), por meio da Universidade Federal do Pará (UFPA) e Fundação de Amparo e desenvolvimento à Pesquisa (Fadesp). O apoio cultural da Namazônia sob a coordenação de Fatinha Silva, governo do Estado do Pará, por meio da Secretaria de Cultura (Secult) e Fundação Cultural do Pará (FCP), da Prefeitura de Belém, por meio da Fundação Cultural de Belém (Fumbel) e da Coordenadoria da Mulher (Combel), e da deputada estadual Lívia Duarte (PSOL).

Agende-se:

Lançamento do livro “Lourdes Barreto: Puta Biografia”

Dia: Quinta-feira, 23

Hora: a partir das 18h

Local: Theatro da Paz (Rua da Paz, s/n, Praça a República)

Cultura