Jovem escritor paraense indica os melhores livros de ficção científica
Integrante de coletiva literário Elves Cunha, de 28 anos, faz três recomendações na ficção científica
Integrante de coletiva literário Elves Cunha, de 28 anos, faz três recomendações na ficção científica
O dia 15 de agosto é o Dia da Informática. Esses equipamentos que mudaram o mundo drasticamente há muito tempo são imaginados nas páginas de livros, seja em futuros apocalípticos, ou em futuros brilhantes com muitas invenções fascinantes. Independentemente de qual for, a tecnologia está presente, junto a humanidade com suas complexas relações sociais. Nenhum tipo de estilo conseguiu fazer melhor esse exercício de futuro do que a ficção científica. Neste Eu Recomendo, o jovem escritor paraense Elves Cunha, de 28 anos, indica três livros de ficção científica que considera fundamentais para qualquer pessoa conhecer.
“Quando penso na relação entre tecnologia da informação e seus impactos na sociedade, vários livros cyberpunk vem à mente. O fim da separação entre espaço físico e digital, formas de vida artificiais, computadores tomando consciência, etc. Mas hoje vou recomendar alguns livros que tem uma abordagem menos óbvia desses problemas e que discutem esses temas de formas curiosas. Minhas recomendações são ‘O Problema dos Três Corpos’ de Liu Cixin, ‘Nós’ de Yevgeny Zamyatin e sim, ‘Frankenstein’ de Mary Shelley”, enfatiza Elves.
Elves integra o Coletivo Potocando, que ele descreve como uma iniciativa independente de escritores belenenses cujo foco é a publicação de Literatura e RPG. O grupo de jovens escritores conta com a Revista Potocando (potocando.org), uma revista semestral onde são publicados contos e os autores são remunerados. A seleção é feita por do edital. A publicação também tem as Potoquinhas, contos curtos escritos por colaboradores, além extras como cenários de RPG, séries de contos, relatos de eventos, mesas, oficinas entre outras atividades. Para ele, cada um dos três livros tem uma característica especial. O primeiro livro “O Problema dos Três Corpos” é de uma trilogia que mistura hard sci-fi e cosmicismo.
“Sem dar muitos spoilers, a história começa quando vários cientistas altamente qualificados começam a cometer suicídio ao redor do mundo, e o que os liga é uma súbita crença de que a física não existe. A história segue um físico experimental, considerado uma potencial vítima desses estranhos acontecimentos, que colabora com um investigador do governo chinês em busca de respostas. A história tem várias discussões interessantes, que vão desde o desenvolvimento da ciência, filosofia, o lugar da humanidade no universo e o desenvolvimento e morte de civilizações. É uma das grandes obras do gênero da última década, fugindo um pouco do eixo EUA e Europa. Existe uma série de televisão chinesa, e também uma adaptação da Netflix está a caminho”, adianta Elves.
“Nós”, de Yevgeny Zamyatin, é uma distopia futurista publicada na Rússia Soviética nos anos 20 sobre a história de “um matemático que vive numa sociedade na qual tudo é determinado por algoritmos e governada por uma entidade que pode ser considerada uma espécie de inteligência artificial. É uma daquelas histórias clássicas de um protagonista conformado com uma sociedade rígida que pouco a pouco vai se tornando um dissidente”, explica.
De acordo com Elves, há até um debate se o clássico “1984”, de George Orwell, pode ter sido inspirado em “Nós”. “O mais interessante da narrativa é a presença dessa lógica desumanizante da vida ser regulada por algoritmos, algo extremamente atual, e a questão da onisciência de um sistema de vigilância social (hoje muito presente com o fluxo de dados)”, compara o escritor.
O terceiro e último livro é o clássico Frankenstein, da escritora Mary Shelley, considerada a fundadora da ficção científica na literatura. “É impossível falar de ficção científica e sua relação com a humanidade sem citar Frankenstein de Mary Shelley, a mãe da ficção científica. Quando observamos esse gênero, uma das ideias elementares é o medo que as pessoas têm dos impactos que os avanços tecnológicos podem trazer. O monstro de Victor Frankenstein incorpora todos esses medos, uma criatura que se volta contra o criador e o persegue para puni-lo. É uma história sem dúvida trágica, pois somos apresentados a perspectiva da paranoia do médico em fuga, aterrorizado, mas também todas as desgraças que a criatura sofreu devido ao abandono e que levam ao caminho do ódio. Se você substituir a criatura de Frankenstein por um robô ou inteligência artificial, vai encontrar metade das histórias já escritas de sci-fi. É um livro incontornável”.