Iphan reconhece Marujadas de São Benedito no Pará como Patrimônio Cultural do Brasil

Reconhecimento enaltece ação de produtores culturais no nordeste do estado e no município de Ananindeua

Eduardo Rocha
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O Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em sua 105ª reunião, na quarta-feira (4), reconheceu as Marujadas de São Benedito no Pará como Patrimônio Cultural do Brasil.. A aprovação por parte do Conselho do Iphan, autarquia vinculada ao Ministério da Cultura (MinC), deu-se por unanimidade a inscrição das Marujadas no Livro de Registros e Celebrações.

Como pontua o Iphan, "as Marujadas de São Benedito no Pará são celebrações religiosas que promovem a devoção, principalmente a São Benedito, na região bragantina (Augusto Corrêa, Bragança, Capanema, Primavera, Quatipuru e Tracuateua) e em Ananindeua, no Pará. A marujada é tanto o corpo de associados (irmandade, associação ou grupo cultural) e o conjunto das pessoas que participam, devidamente caracterizadas, dos eventos religiosos e não-religiosos das festividades (chamados de marujos e marujas), quanto o nome usado para se referir à prática cultural formada por eventos religiosos, folguedos, comensalidades, vestimentas e danças típicas".

O pedido de registro, como repassa o Iphan, foi apresentado em 2011 pela Irmandade da Marujada de São Benedito de Bragança, organização de caráter educativo e cultural, fundada em 1798 por iniciativa de negros escravizados e libertos na então Vila de Bragança. As pesquisas que subsidiam o pedido de registro foram realizadas entre 2018 e 2022. Em 2020, foram incluídas no processo de registro as marujadas de Capanema, Quatipuru, Augusto Corrêa, Tracuateua e Primavera – na chamada região bragantina – e de Ananindeua, localizada na região metropolitana de Belém. Em Capanema e Tracuateua, as marujadas promovem, também, o culto a São Sebastião.

Luciana Gonçalves de Carvalho, antropóloga da Universidade Federal do Pará (UFPA) e relatora do processo de registro, reconhece a “relevância nacional dessas celebrações, que emergem de processos constitutivos da própria sociedade brasileira, com sua imensa diversidade”.  As Marujadas têm a presença forte das mulheres nos rituais e na organização das festividades, cabendo aos homens o papel de esmoladores, tocadores ou acompanhantes.

A origem da Marujada é do final do século XVIII e início do XIX, associada à criação da Irmandade do Glorioso São Benedito de Bragança em 1798, por iniciativa de povos negros escravizados naquela localidade. Para celebrar São Benedito, eram realizadas rezas, tambores, danças, missas, ladainhas e folias que vieram a se caracterizar com o que se entende hoje por Marujada do Pará, como registra o Iphan.

Fruto

"Essa é uma boa coisa. Há muito tempo, vínhamos trabalhando para isso. Eu estou na Marujada desde os 9 anos de idade, e a Marujada de Quatipuru completa 188 anos em 2024", afirma Raimundo Rodrigues Borges, o mestre Come Barro, uma liderança entre os produtores dessa expressão no nordeste do Pará.

Mestre Come Barro informa que na área urbana de Quatipuru são realizados dois eventos: a Marujada Amaquat, de 18 a 27 de dezembro, e a Marujada da Irmandade Maria Pretinha, de 28 de dezembro a 2 de janeiro de 2025. Na área rural do município, em Boa Vista, a Marujada transcorrerá de 24 de dezembro a 2 de janeiro de 2025. Em Quatipuru, a Marujada surgiu na Ilha de Titica por iniciativa dos negros escravizados.

Cultura e fé

O historiador e professor da UFPA em Bragança, Dário Benedito Rodrigues, destaca que “a população da nossa região Nordeste do Pará tem uma forte devoção a São Benedito e a outros santos populares do catolicismo. Em Bragança, a festa ganhou maior visibilidade a partir do aspecto devocional e celebrativo, quando se juntam cultura e fé para comemorar a festividade e a Marujada", ressalta. Dário Benedito observa que "a devoção a São Benedito em Bragança vem de 1798, por iniciativa de negros escravizados e libertos que organizaram uma irmandade associativa e iniciaram a festividade em honra ao santo".

"De lá para cá, passaram a compor a festa os ritos de dança, os eventos sociais, a Cavalhada, os almoços, as procissões e a Esmolação. A festa acontece de 18 a 26 de dezembro e se configura como a mais importante contribuição histórica e religiosa do povo desta região para com a Amazônia, mesclando diversos elementos culturais e a devoção a São Benedito", finaliza.

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