Humanismo fotográfico de Maycon Nunes
O catarinense de 39 anos viaja captando pelas lentes as feições dos povos amazônicos
O fotojornalista Maycon Nunes, de 39 anos, se importa pouco com o formato que suas fotos serão expostas. Mais importante do que participar de uma exposição, ou se as imagens serão vistas em formato digital ou impresso, Maycon realmente se preocupa com os seres humanos que fotografa. O catarinense, que se considera adotado pelo Estado do Pará, já participou de exposições internacionais e se emociona quando fala sobre as pessoas que encontrou durante esses quase 20 anos de profissão.
“Minhas inspirações em relação à fotografia são os seres humanos, eu amo fotografar a Amazônia. Amo fotografar tudo na Amazônia. Defender ela através da fotografia, através das crônicas, defender através da arte. Eu gosto muito de fotografar o ser humano que mora aqui. Porque se o meu trabalho não for humano de que vai adiantar?! Se o meu trabalho não for humano será apenas mais um trabalho frio, sem emoção, sem sentimento, a minha inspiração é o ser humano, são suas histórias”, assegura.
Maycon está há algum tempo em uma aldeia dos Tembé Tekohaw, na divisa do Pará com o Maranhão. O contato direto com aquele povo e o aprendizado que eles proporcionam não é possível mensurar para o fotógrafo. “Essas coisas para mim não têm preço. Com uma exposição eu fico lisonjeado, é legal, seria mentira se dissesse que não fiquei feliz, mas realizar a fotografia para mim é o que é importante”, enfatiza.
Produções de Maycon, que é especializado e apaixonado em fotografar os povos da Amazônia, foram expostas no NFT Meets Artverse, em Nova York, em junho deste ano, somente com fotografias digitais. Entretanto, essa não foi a primeira exposição internacional. Ele participou de uma exposição em Dubai com 20 fotos sobre o Marajó, e também esteve na abertura do encontro do G20 com uma exposição coletiva em Veneza, na Itália, em 2020. Neste mês de julho, as fotografias de Maycon somam-se em uma exposição com outros artistas brasileiros em Bagdá, capital do Iraque.
“Eu me sinto muito bem quando consigo produzir uma foto bacana, conhecer alguém, conversar com a pessoa, me tornar amigo e depois fotografar. Para mim a fotografia é um meio, o que vai acontecer dela depois só Deus sabe”, conta. “A fotografia nunca é nossa, no mínimo ela é dividida, entre o fotografado e o fotógrafo. A gente deixa um pouquinho da gente e leva um pouquinho do outro”, complementa Maycon, que vende nenhuma foto retrato de seus personagens.
O sonho de conhecer a Amazônia vem desde a infância quando tinha 12 anos e um dos tios contava histórias sobre a região. “Eu cresci sonhando em morar perto da floresta, do rio e trabalhar com o povo do norte. Anos depois descobri que o povo do norte é maravilhoso, acolhedor, grato, um povo querido, que sabe receber as pessoas”, relembra. Desde então ele se tornou fotojornalista passando por alguns veículos da capital paraense e por assessorias de imprensa, formou família e começou a viajar pelo interior da Amazônia, onde descobriu sua razão de viver.
Para ele, a fotografia é um registro de luz, registro de um momento e de um tempo. A fotografia para Maycon é a vida. “Viver é o único legado que a gente deixa na terra. É o que você viveu, cara. E eu sou vivo nas fotografias que eu fiz, quando eu for embora desse plano, quando meu tempo chegar as pessoas vão me encontrar nas fotografias que eu fiz, e na luz que eu mandei também. Eu sempre digo, o fotógrafo anda tanto em busca na luz até um dia ser parte dela. E um dia, eu vou embora, e o dia em que for embora, as pessoas vão encontrar um pouquinho do Maycon em cada amizade que eu fiz através da fotografia”.