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Fotógrafas paraenses fazem homenagem a Adélia Prado em exposição

A mostra "Nós. Inteiras?" é composta por 21 imagens assinadas por nove artistas paraenses

Bruna Lima

"Quando dói, grito ai, quando é bom, fico bruta. As sensibilidades sem governo. Mas tenho meus prantos, claridades atrás do estômago humilde e fortíssima voz pra cânticos de festa". Os versos do poema "Com Licença poética", da poetisa e filósofa mineira Adélia Prado foram os pontos de partida para a montagem da mostra "Nós. Inteiras?", que tem abertura nesta terça-feira (5), às 18h30, no Espaço Cultural Banco da Amazônia.

A mostra é composta por nove artistas paraenses que transbordam em cores e luzes o retrato de força, conquistas e lutas que as mulheres passam na sociedade. A concepção do projeto foi toda montada dentro do universo feminino e idealizado pela fotógrafa e curadora Fatinha Silva, que diz que a escolha de nove artistas mulheres é propositalmente para marcar o período normal de uma gestação.

"Quando pensei nesse projeto resolvi chamar mais oito artistas para formar a composição da mostra, pois nove é o período marcado pela gestação de uma mulher", pontuou Fatinha. Partindo dessa ideia, ela convidou Ana Catarina, Elza Lima, Evna Moura, Luciana Magno, Marise Maués, Paula Giordano, Tília Koudela e Úrsula Bahia, que disponibilizaram obras entre fotos e vídeos para compor a mostra.

A escolha do título "Nós. Inteiras?" é uma forma de incentivar o público a refletir sobre várias questões, principalmente a de violência por que passam mulheres em vários cantos do mundo. E a poesia de Adélia Prado foi o ponto de partida para a inspiração e concepção das imagens.

Vários poemas de Adélia Prado foram analisados pelo time de artistas até o "Com licença poética" ser escolhido como mote da mostra. "Após passarmos por esse processo de contato com a obra de Adélia Prado de forma conjunta selecionamos o poema e escolhemos um trecho em específico para servir de ponto de partida para a construção de nossas imagens", detalhou Fatinha.

Algumas das artistas já tinham essas imagens arquivadas e escolheram entre três a cinco obras para passar pelo crivo da curadoria. "Essa seleção eu propus que fosse realizada entre a gente. Com isso, foi formado o trio entre eu, Marise Maués e Paula Giordano para a seleção final do material", completa a artista.

O trio selecionou 21 imagens, entre coloridas e em preto e branco, para compor a mostra. A união dos diferentes olhares das artistas forma o trabalho. E Fatinha Silva faz questão de enfatizar que existe um diálogo entre as obras. "Nós fizemos uma costura e o olhar de cada artista dá significado a esse trabalho, que é um só", pontua.

Paula Giordano, fotógrafa e uma das curadoras do projeto, argumenta que mulher é feita de reinvenção e de adaptação, além de resistência. Que, de maneira bastante flexível em sua pesquisa e experimentação, vai buscando se inspirar num cenário poético composto de palavras e imagens que tergiversam no íntimo, eternizado no cotidiano simples e permeado por crendices que integram os versos de Adélia e que atravessam o imaginário criativo da fotógrafa.

A mostra provoca um (re) fundamento do valor histórico da mulher na arte, como aponta a fotógrafa Ana Catarina: “Com a licença poética da Adélia desdobramos a sua matéria – poesia - nas esquinas, águas, pedras, chão a transbordar do peito. São mulheres vistas, sentidas por todas nós e nós mesmas”.

Ela acredita que mobilizar as melhores energias na construção dessa mostra é uma maneira de reconhecer a existência de um tempo e lugar hostis para muitas, mas que não se bastam quando as próprias mulheres se excedem e reivindicam, com a vontade de alegria da poeta, um lugar na história da arte.

Essa reivindicação é feita tendo como aparato muitas vezes o próprio corpo, evidenciado em trabalhos como o de Marise Maués, que dialoga na mostra com as outras abordagens desse cosmos feminino. “É um corpo que sofre os impactos do dia a dia, que luta para conquistar o devido respeito”, descreve.

Elza Lima é apaixonada pela poesia de Adélia Prado e para representar a poética da escritora mineira usou fotografias de um trabalho realizado com mulheres de Nhamundá, no Amazonas. "A interpretação que dei para a poética de Adélia Prado é da mulher amazônica que domina a água, quase uma Iemanjá. A foto representa a retirada do barro para a produção do Muiraquiã", explica a fotógrafa.

Serviço:

Mostra fotográfica “Nós. Inteiras?”
Local: Espaço Cultural Banco da Amazônia (Av. Presidente Vargas, 800 – Campina).
Data: Abertura dia 5 de fevereiro,  18h30. Entrada Franca.
Visitação: 6/02 a 5/04/2019, de segunda a sexta-feira, das 9h às 17h.
Agendamento de Escolas: (91) 99116-4988

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