Exposição 'Sagrado Dissidente' celebra a decolonialidade artística no Museu de Arte de Belém

Projeto visual busca trazer reflexões que contribuam com a diminuição de atos preconceituosos, de intolerância religiosa e da efetivação vívida da riqueza religiosa do “Brasil de dentro” – negro, indígena, festeiro e multicultural

Gabriel Bentes
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Inaugurou no último dia 21 de agosto a exposição “Sagrado Dissidente”, que transformou parte do Museu de Arte de Belém (MABE), no bairro Cidade Velha, em um espaço para o público mergulhar na dualidade do sagrado contra o profano, mas, agora, com a inclusão de novos corpos e, consequentemente, das religiosidades historicamente marginalizadas.

Com 67 obras partindo das especificidades da fotoperformance/fotomontagens, gravuras, instalação, mosaico e esculturas, a exposição busca trazer a reflexão sobre “o sistema normativo opressor, que opera como máquina de extermínio”. 

A “Sagrado Dissidente” reúne obras de 20 artistas, tanto paraenses quanto de outras regiões do Brasil, e tem o intuito de agregar novas dimensões de valor e alcançar diferentes corpos dissidentes em suas diversas performances.

A exposição surgiu a partir do resultado da pesquisa de mestrado do performer Raphael Andrade, denominada “Flores para Pietá”, em que o "corpo transgressor" de Raphael apresenta a dualidade "sagrado versus profano", por intermédio da ação performática urbana realizada no Brasil e na Europa Ocidental.

Em entrevista à Redação Integrada de O Liberal, Raphael Andrade, performista e um dos curadores da exposição, explica que "as obras da exposição apresentam uma concepção de mundo em que cabem a simpatia sincrética e o altar, a ideia do corpo profanado LGBTQIAPN+, do corpo mais pura, os ícones mais elevados das imagens sacras, mas também a subversão de iconografias marginalizadas historicamente".

"As imagens de deusas, seres mágicos e corpos demonizados são apresentados como áurea sagrada, com o intuito de ser dissidente contra a regra hegemônica e de fazer o público pensar sobre a dicotomia maniqueísta entre o bem e o mal, que nada mais é que uma invenção da colonialidade", explica o pesquisador.

image Raphael Andrade é performista e um dos curadores da exposição "Sagrado Dissidente" (Foto/Divulgação)

Decolonialidade

O projeto visual coloca em destaque o respeito à diversidade religiosa, amplificando, assim, as vozes dos socialmente excluídos e marginalizados. De acordo com Raphael, “as obras se conectam pela crença, pela fé, pelos rituais representados nas imagens, mas também com a poderosa dissidência em ressignificar os corpos profanados historicamente na representação de diversas matrizes religiosas”.

“Acreditamos que a aliança decolonial dissidente é uma carga viva heterogênea e pode ser reelaborado por outras vivências que queiram explodir a condição de estarem à margem e terem voz. E, por isso, faz-se necessário o diálogo transgressor entre o cristianismo dissidente, a cultura afro brasileira e a cultura indígena, a fim de combatermos e ressignificarmos a colonização, a intolerância religiosa, o racismo e a LGBTQIAPN+fobia por meio da decolonialidade.”, conclui Raphael.

Assim, a relevância social da exposição se inscreve no letramento religioso, de modo a contribuir com a diminuição de atos preconceituosos, de intolerância religiosa e da efetivação vívida da riqueza religiosa do “Brasil de dentro” – negro, indígena, festeiro e multicultural. 

Serviço:

(*Gabriel Bentes, estagiário sob supervisão de Abílio Dantas, coordenador do Núcleo de Cultura)

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