Exposição mostra as multilinguagens indígenas

O Instituto Cultural Vale proporcionou à equipe de O Liberal a experiência de viver a mostra

Bruna Lima
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A exposição “Nhe’ẽ Porã: Memória e Transformação” promove um banho de boas palavras aos visitantes do Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, em um cenário montado com uma atmosfera da floresta, com canto dos pássaros, som das águas e um efeito de chuva de palavras indígenas, que por muito tempo vem se perdendo até mesmo entre os próprios povos. A exposição além de resgatar parte da história ainda promove um encontro com a esperança e força dos povos originários. Quem estiver ou for a São Paulo, vai poder conferir a exposição até 23 de abril.

O Instituto Cultural Vale proporcionou à equipe de O Liberal a experiência de viver a mostra, que trata sobre diversos aspectos e perdas que os povos indígenas sofrem ao longo da história. Com efeitos de luz e sons, é possível sentir em meio ao passeio pelo museu as dores da violência com cenários de devastação e apagamento, mas também é possível sentir esperança, pois o visitante consegue visualizar por meio das imagens, das pinturas e de todos os objetos de arte expostos, a luta e a resistência dos povos indígenas em manter a cultura viva.

 A exposição tem curadoria da artista, ativista e comunicadora Daiara Tukano, que explica que “Nhe’ẽ Porã" significa boa palavras, palavras doces que vem do coração para tocar as pessoas. E que também refletem bons pensamentos e bons sentimentos. "Falar dos povos indígenas e da língua indígena é falar da vida, da diversidade, da sabedoria de andar nesse mundo com respeito pelos rios, pelas florestas, pelas montanhas", diz a curadora durante uma visita mediada.

A exposição ajuda a compartilhar a força que motiva a luta dos povos indígenas, pois já são mais de 500 anos de resistência ao apagamento da memória, da língua e da cultura. A exposição não mostra apenas a beleza das línguas, serve para convidar também o público a olhar para cada árvore, para o rio, apreciar cada história, pois cada língua é um universo de sabedoria. 

Cada língua representa uma filosofia de vida, pois se trata de infinito conhecimento das ciências do planeta. A exposição serve também para diluir as fronteiras colocadas diante aos povos indígenas, principalmente sobre o pensamento a respeito deles.

"O Brasil é o país mais multilíngue do mundo por conta dos povos indígenas. Mas a gente também representa a defesa da Amazônia, de todos os biomas, da mata atlântica, dos rios, dos rios voadores. O momento de aprender a respeitar a vida, aprender a amar a terra como uma grande mãe é agora, pois é ela que nos dá todo o alimento. E como filhos, devemos aprender a amar, a cuidar para continuarmos existindo", pontua Daiara.

Entre tantas informações, a exposição apresenta um mapa continental mostrando as famílias linguísticas indígenas de norte a sul, pois para a curadora é importante pensar no território além das narrativas coloniais que foram passadas na escola.

O Brasil tem a lei 11.645, que fala da obrigatoriedade do ensino da história e cultura indígena e afro-brasileira nas escolas, porém, ainda existem poucos recursos para as salas de aula de como contar essas histórias. Daiara dá como exemplo sobre o que não é contado, as inúmeras guerras no Brasil que dizimaram a população indígena de mais de mil povos que existiam antes de 1500.

"Muitos momentos históricos que não são conhecidos estão aqui no Museu por meio de uma animação, pois sempre tivemos grandes lideranças e grandes caciques que estavam defendendo seus territórios dos invasores, pois o Brasil não foi descoberto, ele foi invadido e criado em cima de territórios indígenas. É importante mostrar essa parte da história que muitos não conhecem", destaca a curadora.

A história dos povos indígenas começam milênios antes do ano de 1.500 e é possível mostrar por meio dos objetos de arqueologia e etnografia cedidos pela Universidade de São Paulo (UDP), que servem de testemunho da história e memória viva dos povos indígenas.

As peças são tesouros que contam a história graças ao trabalho e dedicação de algumas pessoas. E uma delas, é a antropóloga Lux Vidal, que estuda o povo Xikrin desde 1969 e foi uma das especialistas consultadas para a montagem da exposição “Nhe’ẽ Porã: Memória e Transformação”.

O Laboratório de Imagem e Som em Antropologia (Lisa) foi inaugurado em outubro de 1991. Desde então, atua como um centro básico de pesquisa e treinamento para estudantes das áreas de Antropologia Visual e Etnomusicologia, permitindo que professores, alunos e pesquisadores produzam e usem imagens e sons.

O laboratório guarda desde 1999 o acervo da coleção Lux Vidal. Ao todo, o Lisa possui cerca de 256 pranchas de pintura corporal, 4 mil fotografias e mais de 100 horas de gravações em fitas de rolo e fitas cassete de cantos individuais, rituais, narrativas míticas, falas e histórias do cotidiano. Existem também 432 desenhos, ainda em fase inicial de documentação.

Os Xikrin desenhavam nos papéis que Lux levava para escrever durante o trabalho de campo. Há desenhos de escrita, de guerra, de animais terrestres, peixes, aves, da aldeia e de pessoas. As coleções de Lux estão guardadas tanto no Lisa quanto no Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE) da USP, onde estão objetos do cotidiano do Xikrin recolhidos ao longo dos anos pela antropóloga.

A exposição Nhe’ẽ Porã é uma iniciativa do Museu da Língua Portuguesa em parceria com o Instituto Cultural Vale, articulador e patrocinador máster da iniciativa. Tem patrocínio do Grupo Volvo e da Petrobras, e apoio do Mattos Filho, todos por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura. 

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