Exposição de joias faz homenagem aos orixás no Espaço São José Liberto
Divindades como Xangô e Iansã estão entre as inspirações das peças da mostra 'Sou do Santo'
Xangô e Iansã são dois dos orixás homenageados na Exposição “Sou do Santo”, que será aberta nesta quarta-feira,18, e fica disponível para visitação até 31 de agosto, no Salão de Exposição do Espaço São José Liberto. Promovida pela Secretaria de Desenvolvimento Econômico Mineração e Energia (Sedeme) e Instituto de Gemas e Jóias da Amazônia (Igama) ,”Sou do Santo” é realizada através do edital Moda e Design e da Lei Aldir Blanc.
São mais de 100 joias inspiradas nas armas e paramentos usados pelos orixás ou que retratam sua simbologia, como a sereia que representa Iemanjá, a rainha das águas. Mas há também raios, machados de duas abas, coração e espelho, entre muitos outros elementos que identificam as entidades, produzidos usando prata, ouro, pérolas e gemas como citrino, granada, quartzo verde e opala.
Cada material foi casado com as características de cada orixá. A criação é da designer Lídia Abrahim, que já faz joias voltadas para as religiões afro brasileiras há mais de 10 anos. Filha de santo, a artista começou atendendo pedidos dos irmãos de terreiro. “Quando souberam que eu era designer de joias, eles me pediam para criar joias de proteção, de amuleto, joias pra agradecer aos orixás deles. E na minha carreira como designer, uma das vertentes de estudo e experimentação que eu desenvolvo, fortemente, é criar joias para os orixás, os caboclos, as entidades trabalhadoras das religiões afro-brasileira”, conta a designer.
Desde 2011, quando realizou a exposição “Minha Fé”, Lídia consolidou a carreira e ganhou maturidade, refletida hoje em uma coleção muito maior dentro da mesma temática. “O processo de criação faz parte do meu dia a dia. Por eu ser praticante de uma dessas religiões de matriz africana, eu tenho alguns conhecimentos que são passados na nossa vivência do chão do terreiro, dos rituais, das cores, do tipo de flor ou de mato que os orixás gostam, cada um tem suas características, seus domínios naturais e uma série de elementos ligados à energia daquele orixá. Para o orixá de Xangô eu criei, por exemplo, joias mais masculinas, com a simbologia dos oxés, trazendo a gema granada que é vermelha, eu trabalhei o ouro e a prata, que dão significado de realeza”, explica Lídia.
O principal objetivo da exposição é homenagear todo o conhecimento ancestral que faz parte da raiz da cultura brasileira e vem do continente africano. “Eu, como praticante, me sinto no dever de divulgar, de levar ao público o conhecimento dessas religiões. Eu sou só uma aprendiz, mas o que eu puder fazer para levar ao público esse conhecimento, eu vou fazer, porque é uma forma de instruir, de educar e de, principalmente, combater o preconceito. Mostrar que a cultura advinda do continente africano é tão importante quanto a cultura que veio do continente europeu, é uma grande mistura, que cada um tem o seu papel e sua importância na sociedade”, conclui.
Aline Janey Melo, advogada, professora de Linguagens e filha de Òsún Apará, tem várias joias criadas por Lídia Abrahim, algumas exclusivas, todas muito elogiadas pelo trabalho delicado e detalhista, que consegue traduzir aquilo que o cliente espera. Mas para Aline, a beleza e o cuidado com as peças tem uma representatividade muito maior. Ela acredita que no momento em que esse trabalho ganha a visibilidade de uma exposição também se transforma em ferramenta de combate ao preconceito.
“Como filha de santo eu acho que toda forma de combate ao preconceito é fundamental. A partir do instante que se propõe levar uma exposição que trabalhe a cultura, as religiões de matriz africana, você desafia uma visão intolerante, essa intolerância que faz parte do nosso dia a dia de uma forma tão cruel, tão escancarada. E se é escancarada dessa forma, porque não dar a possibilidade de informação, de acesso, de apreciação a uma cultura que faz parte da construção do nosso povo? É uma ferramenta, uma forma, um caminho de combater o preconceito, um conceito que, às vezes, está incutido no sujeito sem nem mesmo ele saber”, argumenta a advogada que já foi vítima do preconceito e da intolerância religiosa, antes de arrematar que está ansiosa para visitar a exposição “Sou do Santo” e adquirir novas peças.
A Exposição “Sou do Santo” apresenta uma coleção de joias para Exu, Ogum, Oxossi, Oxum, Iansã, Xangô, Iemanjá e Oxalá, e terá, ainda, uma poesia, para cada um dos orixás. Também ficará disponível aos visitantes um QRCode,contendo características e informações de cada um deles.
Agende-se:
Exposição Sou do Santo
Local: Salão de Exposição do Espaço São José Liberto
Data: 18 a 31 de agosto
Visitação de terça a sábado, de 10h às 18h e aos domingos e feriados, de 10h às 14h