Espetáculo 'Cavalas' chega ao Pará, com apresentações e oficinas em Belém e Alter do Chão
No palco, estarão Alana Falcão e Ana Brandão, protagonistas e diretoras do espetáculo de dança que versa sobre a relação entre os opostos nos seres e no mundo
Como um galope sem fim, a arte, em particular, a dança, é capaz de cruzar fronteiras e trazer à tona o que de mais essencial reside no fundo dos seres, do mundo, da vida, investigar a borda tênue entre semelhança e diferença a partir de práticas de improvisação e autoficção, como na proposta do espetáculo de dança "Cavalas", concebido na Bahia e a ser apresentado em Belém, neste começo de 2025. Essa obra é protagonizada e dirigida pelas dançarinas Alana Falcão e Ana Brandão e fará temporada em Belém e Alter do Chão, acompanhada de oficinas para adultos e crianças. A programação começará no próximo dia 8.
"Cavalas" parte de uma brincadeira de meninas furiosas que querem inventar-se a si mesmas, e cujo resultado pode ser um assombroso espelhamento. Na programação de apresentações e oficinas no Pará, Alana Falcão e Ana Brandão irão ministrar “Doses Cavalares” nos dias 8, 9 e 10, das 9h às 12h, na Escola de Teatro e Dança da UFPA (ETDUFPA) e se apresentam nos dias 9 e 10, às 15h e às 19h, no Espaço Experimental de Dança.
Em seguida, em Alter do Chão, ocupando o Centro Cultural Banzeiro, serão realizadas duas oficinas entre os dias 14 e 16 – novamente “Doses Cavalares”, das 9h às 12h, e a turma infantil “Doses Cavalinhas”, das 14h às 17h. A peça é encenada nos dias 15 e 16, às 20h. Para fechar, no dia 17, às 20h, uma noite de variedades será um espaço de trocas em festa, com mais uma sessão de “Cavalas”, o Grupo de Carimbó do Centro Cultural Banzeiro e artistas locais. Todas as atividades são gratuitas e as inscrições nas oficinas adultas devem ser feitas por meio de formulários disponíveis no Instagram @cavalascavalas. O projeto é fomentado pela Bolsa Funarte de Dança Klauss Vianna 2023.
A coreografia de 'Cavalas" se alimenta de paradoxos: animal e humano, terror e beleza, mítico e físico, dominação e cuidado, leveza e tensão, com intenso vigor em dois corpos em que convivem o desejo de liberdade e a disciplina da equitação.
Construção
As dançarinas Ana e Alana se conheceram há uma década. Nascida em São Paulo, Ana chegou a Salvador (BA) e encontrou a parceira soteropolitana. Elas vieram se cruzando em criações artísticas pelo caminho. O processo que culminou nesta obra foi desenvolvido por dois anos, até a estreia, ocorrida em outubro de 2023 no JUNTA Festival, no Piauí. De lá para cá, o espetáculo já passou por contextos artísticos em São Paulo, Pernambuco, Ceará, Paraná, além da própria Bahia.
“Ambas temos um grande tesão em pesquisa de movimento. Estávamos saindo da pandemia e nos encontrávamos para estudar a partir de uma técnica chamada Fighting Monkeys”, lembra Ana Brandão. Durante o período de isolamento, ela havia participado com Alana de um curso online com a artista grega Linda Kapetanea, que desenvolveu esta pesquisa de movimento que utiliza tarefas e jogos. “Nesses estudos, acabamos percebendo que havia algo sendo criado ali. E fomos adentrando em histórias de um feminismo que flerta com o gênero do terror, em encontros entre macabros e encantadores”, completa ela.
Houve outros três importantes disparadores. Um deles é o conto “As coisas que perdemos no fogo”, da argentina Mariana Enríquez, que fala de mulheres vítimas de tentativa de feminicídio e que, sobreviventes, se unem para fundar uma nova beleza que fosse insuportável no mundo patriarcal que conhecemos. “É uma beleza que precisa ser aturada”, descreve Alana Falcão. Outro é o cabelo, simbólico na crina de cavalos, em filmes de terror japoneses e na obra “As xifópagas capilares”, do artista visual Tunga, que retrata mulheres unidas por suas cabeleiras.
Daí, por fim, surge a imagem da gemelaridade e suas questões de espelhamento, identificação, singularidade. “Todas essas ideias de horror e mulheridade nos acompanham desde o início do processo. O cabelo e o cavalo se encontraram e ficamos mexendo nessas interseções até o nascimento de ‘Cavalas’”, acrescenta Alana. O espetáculo tem Lais Machado na dramaturgia, Diego Gonçalves na concepção de luz, Bernardo de Oliveira na cenografia, Marlan Cotrim no figurino e Paulo Pitta na concepção de som, com trilha sonora original.
'Cavalas'
Com 20 vagas em cada turma, voltada a pessoas adultas interessadas em práticas de dança, sem necessidade de experiência prévia, a oficina “Doses Cavalares” é ministrada por Alana Falcão e Ana Brandão. A atividade se desenvolve em torno da “cavala”, esse instinto animal de verve feminina que corporifica selvageria, força, liberdade, elegância, beleza, fantasia. São treinados procedimentos físicos, como o hobbyhorse, para acordar no corpo as “cavalas” que são vividas e domadas cotidianamente, e então construir universos ficcionais, dramatúrgicos e de movimento.
Na versão infantil, “Doses Cavalinhas”, a experiência se adequa às infâncias. Também com 20 vagas, o público-alvo é de crianças de 7 a 12 anos que gostam de se mover.
A dançarina baiana Alana Falcão é mãe e mestra em Dança pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Atua como professora de dança da rede pública e crítica da área, codirige o Nii colaboratório desde 2018 e é diretora editorial da Revista Barril de crítica em artes e mantém parceria criativa com o multiartista Leonardo França no projeto “Envultações” desde 2020.
Já a paulistana Ana Brandão vive na Bahia há 10 anos. Essa artista atua em diferentes campos da cena cultural, sobretudo como dançarina, educadora e iluminadora. Professora de artes da rede pública, é também mestranda em Dança na UFBA, onde desenvolve a pesquisa “Dobras: procedimentos poéticos para danças político-afetivas”. Ana também está em circulação com o espetáculo “Lá vem ela”, em homenagem a Rita Lee, no qual é dirigida por Ana Paula Bouzas e Jussara Setenta.
Serviço:
= Espetáculo 'Cavalas'
Com as dançarinas Alana Falcão e Ana Brandão
Classificação indicativa: 10 anos
= Serviço Belém:
Oficina 'Doses Cavalares'
Quando: 8, 9 e 10 de janeiro, 9h às 12h
Onde: Escola de Teatro e Dança da UFPA (Tv. Dom Romualdo de Seixas, 820 – Umarizal)
Quanto: Gratuito (20 vagas) – Inscrições no Instagram @cavalascavalas
= Espetáculo 'Cavalas'
Quando: 9 e 10 de janeiro, 15h e 19h
Onde: Espaço Experimental de Dança (Rua Domingos Marreiros, 1775 – Fátima)
Quanto: Gratuito
= Serviço Alter do Chão:
Oficina 'Doses Cavalares'
Quando: 14, 15 e 16 de janeiro, 9h às 12h
Onde: Centro Cultural Banzeiro (Tv. Francisco Pedroso, 25 – Nova União)
Quanto: Gratuito (20 vagas) – Inscrições no Instagram @cavalascavalas
= Oficina 'Doses Cavalinhas':
Quando: 14, 15 e 16 de janeiro, 14h às 17h
Onde: Centro Cultural Banzeiro (Tv. Francisco Pedroso, 25 – Nova União)
Quanto: Gratuito (20 vagas)
= Espetáculo 'Cavalas'
Quando: 15 e 16 de janeiro, 20h
Onde: Centro Cultural Banzeiro (Tv. Francisco Pedroso, 25 – Nova União)
Quanto: Gratuito
= Noite de Variedades
Quando: 17 de janeiro, 20h
Onde: Centro Cultural Banzeiro (Tv. Francisco Pedroso, 25 – Nova União)
Quanto: Gratuito
COMPARTILHE ESSA NOTÍCIA