Edição rara de obra de Machado de Assis é resgatada
'Memórias Póstumas de Brás Cubas' chega agora ao grande público acompanhada de textos exclusivos
Depois de estrear no mercado editorial com "A metamorfose", de Franz Kafka, em novo projeto gráfico e com 93 ilustrações exclusivas de Lourenço Mutarelli, a editora Antofágica apresenta seu segundo lançamento: uma edição memorável da obra de Machado de Assis, um dos mais influentes autores da literatura nacional.
"Memórias Póstumas de Brás Cubas" ganha nova vida acompanhado de 88 ilustrações de Candido Portinari, um dos maiores artistas plásticos do nosso país, feitas na década de 1940 para uma edição particular de 400 exemplares, encomendada pela sociedade dos bibliófilos do Brasil. Atualmente, uma edição fac-similar àquela, reeditada em 1973, é vendida por mais de R$ 4.000,00 e a Antofágica agora leva essa obra artística ao grande público.
O relançamento chega em momento muito oportuno já que Machado de Assis tem sido pauta constante, especialmente pelo projeto “Machado de Assis Real”, da Faculdade Zumbi dos Palmares, criado para corrigir o racismo na literatura brasileira que, ao longo dos anos, embranqueceu o escritor.
O site do projeto disponibiliza para download uma foto de Machado com o seu tom de pele real. A ideia é que o público o reconheça como negro e que as editoras incorporem esta imagem em seus livros. A edição da Antofágica já traz a foto atualizada.
As ilustrações de Portinari e o fiel retrato do autor não são a única novidade da edição. Rogério Fernandes dos Santos, especialista na obra machadiana, colaborou com notas exclusivas e posfácio, Isabella Lubrano, do Ler Antes de Morrer – um dos maiores canais de literatura do Youtube – , foi responsável pela apresentação do livro e João Candido Portinari, diretor do Projeto Portinari, filho de Candido Portinari assina um texto em que fala sobre a importância em resgatar uma obra como Memórias Póstumas, em um projeto único como o que a Antofágica apresenta.
“Esta publicação, que traduz um belíssimo diálogo entre literatura e arte, representa uma grande oportunidade para o grande público, especialmente para as novas gerações conhecerem uma obra exemplar que une dois grandes nomes da cultura brasileira”, diz João Candido Portinari.
Outra contribuição valiosa desta edição é a de Ale Santos, que fez um perfil do autor traçando uma análise do Brasil no século XIX, que com toda complexidade de sua história – principalmente a construção da noção racial que recaía não apenas sobre o escritor mas sobre todos os afrodescendentes da época – foi responsável por fazer nascer um dos maiores nomes da literatura brasileira.
Ale Santos resgata as raízes de Machado de Assis, desde seu nascimento, influências, estudo, crescimento de seu discurso antiescravagista e ainda enaltece o discernimento de Machado na época, que “compreendia claramente algo que até hoje muita gente não percebe: a abolição não significou o fim do racismo”.
“Hoje estamos cada vez mais perto de enxergar a grandeza de Machado, não apenas como um mestre literário e gênio da época, mas como um revolucionário em sua própria existência”, destaca Ale Santos.
O texto de Machado de Assis – publicado em 1881 e escrito com a pena da galhofa e a tinta da melancolia – é inovador, irônico, rebelde e toca no que há de mais profundo no ser humano. A obra foi um marco inaugural do Realismo no Brasil e mudou radicalmente o panorama da literatura no país.
Ela estabelece um diálogo crítico com a estética realista em que Machado retrata a escravidão, as classes sociais, o cientificismo e o positivismo, além de expor de forma irônica os privilégios da elite. Muito além de seu tempo, o texto de Machado de Assis causou estranheza em sua época, mas hoje é celebrado como um dos romances mais importantes da literatura brasileira.
Além da edição cheia de atrativos e itens inéditos, a Antofágica continua sua comunicação com o público por meio de seu canal no Youtube, em que apresenta um vídeo que conta a história de Machado de Assis e o traz para os dias atuais, com referências e a influência do autor em criações contemporâneas.