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Do hiato do carnaval, Baianasystem lança o curta "Manifestação - o carnaval do invisível"

O curta apresenta registros de carnavais desde a década de 40 até os dias atuais:

Bruna Lima

O grupo BaianaSystem é indescritível, pois não se trata apenas de uma banda musical, é um instrumento de arte que circula por diversas modalidades. Como disse Russo Passapusso, vocalista da banda, nesses dois anos de pandemia o grupo ouviu som e escreveu imagem. E essa tarefa resulta no lançamento do curta "Manifestação - o carnaval do invisível", nesta segunda-feira (21), às 9h, por meio do canal da Amazon Music no Youtube.

Em entrevista exclusiva para oliberal.com, Russo diz que a modernidade impulsiona que os artistas façam coisas diversas. Não é mais só a música, o teatro, a pintura, a literatura. As artes se relacionam. E a pandemia deixou a expressão artística aflorada. "O Baiana tem essa característica simbólica e imagética. A cara da banda é uma máscara, um simbolismo. E tudo vai trazendo mais unidade. Nós temos essa preocupação em não criar rótulos", introduz o artista.

A produção do curta acabou acontecendo de forma despretensiosa. Ele diz que o Baiana não tem uma estética rotulada e em meio a todo o "hiato do carnaval", como descreveu Russo, o grupo começou a refletir sobre o momento em que a representação do silêncio abre novos caminhos. 


O documentário também retrata a necessidade de renovar as esperanças, de acreditar que a ocupação dos espaços é uma maneira de transformar e o Carnaval continua sendo esse ato de manifestação.

"De repente estava ouvindo som e escrevendo imagem. Há 12 anos o grupo existe e nos últimos dois anos percebeu que o hiato do carnaval traz reflexão e conteúdo forte. Com a pandemia vem a nova forma de viver: o uso das máscaras, o comportamento, as relações. É possível ter uma reflexão com relação a vivência com as pessoas e acredita-se que esse novo formato deve perdurar pelos próximos anos", destaca o vocalista do Baiana.

O documentário tem duração de 22 minutos, realizado pela Máquina de Louco com produção associada da Janela do Mundo.  Um manifesto visual contado a partir do olhar do personagem "Invisível”, que volta à cena para manifestar.  O filme foi realizado nas ruas do centro antigo de Salvador, onde o Carnaval acontece. Um território marcante, de construção de identidades, mas também de conflitos e tensão social. Por meio de depoimentos, imagens de arquivo e metáforas visuais, a narrativa é costurada pela onipresença da música, substrato e fundamento da festa.


O curta apresenta registros de carnavais desde a década de 40 até os dias atuais: Fotografias do Acervo Afro Fotográfico Zumvi, idealizado pelo fotógrafo baiano Lázaro Roberto; fotografias e imagens em Super 8 realizadas na década de 70 pelo fotógrafo musical Mario Luiz Thompson; imagens do acervo da TVE Bahia e do Arquivo Público Municipal; além dos registros documentais dos carnavais do BaianaSystem e seu Navio Pirata, feito por diversos fotógrafos ao longo dos últimos 10 anos. 

A produção conta com a presença de quatro personagens que têm uma forte ligação com o Carnaval em seus diversos aspectos: A antropóloga baiana Goli Guerreiro, autora dos livros “A Trama dos tambores" e "Terceira Diáspora"; O músico e educador Mestre Jackson, história viva do Carnaval, com passagens pelo Olodum, Apaxes do Tororó e Comanches do Pelô, um dos criadores de células rítmicas que deram origem ao samba reggae e suas derivações; O músico e educador Ubiratan Marques, regente e diretor da Orquestra Afrosinfônica; e Mateus Rocha, cineasta e folião do BaianaSystem. 

A trilha sonora que costura todo o filme se baseia na importância que os ritmos tiveram na construção dessa história. Criada a partir do repertório do Baianasystem, com destaque para o Ijexá e o Samba Reggae como células fundamentais, as faixas se intercalam com a narrativa em diferentes versões, somadas a um encontro musical entre Ubiratan Marques e Mestre Jackson, produzido especialmente para o documentário.

Com relação ao carnaval, Russo acredita que vai voltar e que será uma explosão, pois a impressão que se tem é que as pessoas querem viver como se não houvesse o amanhã. Mas que o grupo como um instrumento formador de opinião e que tem o acesso aos trios e aos microfones, sente a responsabilidade de conduzir o público e guiar para o melhor caminho possível.

“Nós estamos há dois anos sem fazer shows, pois a nossa responsabilidade não é apenas com a banda, mas também com o público. Em uma participação que fiz senti a ansiedade do público e de viver o hoje, mas nós não fazemos apenas entretenimento tem muita coisa além disso, por isso temos a preocupação de conduzir da melhor forma”, explica o artista.

No último sábado a banda retornou aos palcos, em Florianópolis. O grupo está trabalhando de forma equilibrada. Russo falou da vontade de retornar aos palcos de Belém, lugar onde ele gosta de circular e consumir a cultura do norte do país.

 

 

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