Dia estadual do carimbó exalta o protagonismo feminino e relembra morte do mestre Verequete

Jornalista fez levantamento histórico da presença das mulheres no carimbó; veja

Bruna Lima
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Nesse dia estadual do carimbó, 3 de novembro, que marca a morte do mestre Verequete, é importante tratar sobre a resistência e o surgimento do protagonismo das mulheres no gênero musical. A jornalista e pesquisadora Roberta Brandão atua há seis anos na pesquisa "Feminino pau e corda", que faz um levantamento histórico da presença das mulheres no carimbó. A dissertação será defendida no próximo 24 de novembro, no Espaço Cultural Coisas de Negro, em Icoaraci.

O grupo "Sereias do Mar", de Marapanim, é o primeiro grupo de carimbó do estado protagonizado por mulheres. O grupo surgiu em 1994, quando ocorreu uma festividade do dia das mães no município e um grupo de carimbó não compareceu à programação. Diante disso, a mestra Bigica, Raimunda Vieira Carvalho, 60, resolveu se juntar a irmã e também a outras mulheres do município e fundaram o grupo.

A mestra Bigica conta que desde sempre teve contato com o carimbó por meio da convivência com os pais e tios, mas nunca esteve na linha de frente em virtude de os homens terem maior protagonismo com o movimento. "Mas em 94, quando ocorreu na cidade uma programação para o dia das mães e chamamos um grupo de carimbó que não compareceu, eu tive a iniciativa de criar um grupo só de mulheres", disse a mestra Bigica.

Outras mulheres de Marapanim toparam participar do movimento e estão no trabalho até hoje. "De início recebemos ajuda dos familiares para os ensaios e também para passar algumas dicas de levadas, mas agora já levamos o projetos sozinhas e garantimos que não há diferença entre o carimbó tocado por nós para um grupo formado por homens", destacou a mestra.

O grupo canta canções que falam sobre o protagonismo feminino, o cotidiano rural e as lendárias sereias que povoam o imaginário das populações do Salgado Paraense. Hoje, já existem outros grupos formados por mulheres espalhados pelo estado e a mestra Bigica costuma ouvir que o “Sereias do Mar” foi a inspiração.

“É muito bom ter esse retorno, pois é importante saber que demos encorajamento para muitas outras mulheres”, acrescenta a mestra.

Voltando à pesquisa, Roberta Brandão conta que a iniciativa de dar início ao trabalho surgiu após atuar no I Congresso de Carimbó. Nesse momento, ela percebeu a participação tímida das mulheres. De 250 delegados de todas as regiões do estado, havia apenas sete mulheres musicistas. A partir disso ela deu um estalo e questionou “onde estão essas mulheres ?”, disse.

“Na minha pesquisa bibliográfica a primeira mulher que eu vejo citada é a Tia Pê, pelo Vicente Sales, ela era uma fazedora de festas. Ou seja, percebo que o primeiro papel que as mulheres desempenham no carimbó é de fazedoras de festas, um papel de tremenda importância para que os eventos ocorressem. Outro  exemplo é da dona Magá, de Maiandeua, pois muito se fala de Chico Braga , mas quem levou o carimbó para Maiandeua foi a dona Magá, que também era uma fazedora de festa”, pontua Roberta.

Com a pesquisa, é possível notar que a mulher só chega ao instrumento anos mais tarde, pelo menos com registros de documentos. “Mas quando eu pesquiso o grupo Sereias do Mar elas relatam sobre a presença de outras mulheres no carimbó, sendo que nada oficial”, explica a pesquisadora. Hoje, já tem as “Boiúnas”, o grupo “Tamboiaras” e entre outros.

A mestra Mimi aprendeu a tocar curimbó com mais de 60 anos. São mulheres que fogem de estereótipos, pois quando se pensa em mulheres carimbozeiras mercadológico se pensa na personagem “Ritinha”, da novela “A Força do Querer”, que usa roupas mais sensuais.

“As carimbozeiras reais são senhoras, mulheres que trabalham na roça, fazem farinha e que também batem o curimbó. Eu penso que uma possibilidade da proibição velada da mulher no gênero se deve a postura, já que para tocar o curimbó a mulher precisa sentar de perna aberta. Mas também percebo com a pesquisa que vem ocorrendo uma invasão das mulheres nesse movimento, ou seja, temos sim a presença da mulher no carimbó”, observa Roberta.

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