Devotos de Bragança se despedem da Marujada
Marujos de São Benedito ganham as ruas da cidade
A data em que os marujos e marujas de Bragança vestem vermelho para celebrar o ano São Benedito e se despedir da festa da Marujada, sempre um dia após o Natal, reuniu milhares de devotos na procissão do Espírito Santo, realizada nesta quarta-feira (26).
A professora Aline Miranda, que é maruja desde os 11 anos, hoje, aos 34, mantém a tradição ao lado de toda a família. O filho, Diogo, de seis anos, se junta a ela e ao pai, na Marujada.
“Essa é uma tradição que carregamos conosco, e que passa de geração a geração. Ver agora o meu filho trilhando esse mesmo caminho é uma emoção enorme. É lindo ver nossa família reunida em torno da fé em São Benedito, pedindo que ele nos proteja”, disse Aline.
Detalhe das vestes e cores usadas durante a manifestação (Igor Mota / O Liberal)
AS CORES DA TRADIÇÃO
Saia vermelha, camisa branca, uma rosa e um chapéu com longas fitas coloridas recoberto por flores feitas de penas de pato. Essa é a vestimenta tradicional das marujas, escolhida para celebrar o dia do padroeiro. Já os homens vestem calça e camisa branca, mantendo os pés descalços durante a procissão.
Leonardo Lima, 24 anos, marujo desde os 10, este ano foi à festividade sem a família, que está em São Paulo. Junto da namorada e da sogra, ele cumpriu a tradição.
“Participar da Marujada é uma tradição que acompanho desde criança, eu jamais poderia deixar de vir. A fé e a devoção no nosso Santo Padroeiro vem desde lá, é de coração e não pode se quebrar”, relata Leonardo.
O dia de São Benedito, o mais esperado pelos bragantinos durante a Marujada, começa com uma missa na igreja do jardim. Antes da procissão, que sai às ruas durante a tarde, os fiéis rezam a ladainha. O cortejo, que sai da Igreja de São Benedito, leva a imagem do padroeiro, animado por uma banda e seguido pelos marujos e marujas. A procissão terminou na mesma igreja, com a celebração de uma missa na praça, na ocasião também foi retirado o mastro, fincado ao lado da igreja no início da festividade.
Elis de Oliveira e Lucas Mauro vieram de São Paulo para conhecer a Marujada. Atualmente, os dois viajam pelas regiões Norte e Nordeste do país para encontrar e participar de manifestações tradicionais."Gosto de conhecer e descobrir as procissões que existem por todos os cantos. É muito bonito ver como as pessoas respeitam a fé: a vestimenta, a organização, tudo nessa festa é muito bonito", comentou Lucas.
HISTÓRIA
São Benedito nasceu no sul da Itália, em 1524. Ele era filho de um casal de escravos e foi liberto por um costume dos senhores daquela época, que beneficiava com a liberdade o último filho homem. Foi pastor de ovelhas e acabou descobrindo sua vocação religiosa ainda jovem, se tornando um eremita. Um monge franciscano, tocado por sua força de vontade, resolveu convidá-lo para a vida religiosa e ele então se tornou um membro da ordem franciscana.
Conta a história que, sempre que saia do mosteiro, levava de sua cozinha alguns pães escondidos debaixo de sua batina para aliviar a fome e o sofrimento dos escravos, pobres e necessitados. Certa vez seu superior, desconfiado, pediu a ele que erguesse suas vestes. Ao invés de pães, como que por um milagre, surgiram flores. Por isso, as flores estão sempre presentes nas fantasias e em outros detalhes da Marujada, parte mais conhecida da Festa de São Benedito.
A tradição da festa começou com os escravos, em meados de 1879, que iam de casa em casa dançando em agradecimento à permissão dada pelos senhores para que pudessem criar a Irmandade de São Benedito e sua igreja. Ao longo do tempo, o povo passou a realizá-la também como motivo de agradecimento ao santo pelas preces e milagres alcançados, assim como ainda permanece até hoje.
Palavras-chave
COMPARTILHE ESSA NOTÍCIA