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'Desmedida': Peça de teatro discute transição de gênero em Belém, nesta quinta e sexta-feira

'Desmedida', peça da Trupe Vira Tempo, adapta texto de Newton Moreno em sessões no Teatro Waldemar Henrique

Lucas Costa

Uma história que explora diversas possibilidades da atuação no teatro, junto a uma trama que discute gênero, ganha duas sessões no Teatro Experimental Waldemar Henrique (Praça da República). “Desmedida”, montagem da Trupe Vira Rumos dirigida por Mika Nascimento, terá apresentações nos dias 31 de março e 1º de abril, sempre às 20h. Baseado no texto “Agreste (Malva-Rosa)”, do pernambucano Newton Moreno, a montagem tem classificação de 16 anos.

A palavra que dá nome à peça, é descrita em sinopse como “a medida que a sociedade usa para (des)valorizar as pessoas, de acordo com seus próprios valores e suas próprias medidas”. No texto adaptado por Mika Nascimento, a narrativa entra na vida de um casal que tem sua vida calma e tranquila, sacolejada pela intolerância e preconceito da comunidade que os rodeava.

Mika conta de onde parte a vontade de adaptar a obra de Moreno. “Esse texto foi feito como uma espécie de exercício para atores. Demos uma olhada nele e achamos que seria interessante para fazer uma montagem. Só fizemos uma adaptação porque o texto original é quase um monólogo, e nós trabalhamos com um grupo”, explica.

Com um elenco de três atrizes, formado por Biank Brito, Julianne Stael e Jessica Brito; Mika teve o desafio então de não apenas distribuir o texto, mas de adaptá-lo para uma espécie de rodízio feito ali mesmo no palco.

“Essa adaptação é justamente o meu trunfo e meu precipício. Tenho três atrizes e elas fazem todos os personagens, porque a história tem basicamente um homem, uma mulher e um narrador. Seria fácil dividir entre três, mas o que fizemos foi adaptar para que todas fizessem o homem, a mulher e o narrador”, conta o diretor.

A montagem tem ainda entrada de outros personagens secundários, estes também interpretados pelo elenco de três atrizes. “Elas correm contra o tempo, tem que se virar nos 30”, diz Mika.

“Desmedida” tem um ponto de partida simples. “Em tese, é a história de um casal que se conhece desde pequeno, e vão aos poucos convivendo junto, crescem, casam e tudo mais. Até aí nada de muito extraordinário, tirando o fato de que eles moram em uma parte árida, já que a história se passa no sertão”, explica o diretor.

A virada da narrativa ocorre mesmo cerca de 20 anos depois do casamento. O marido morre, e é o contato com pessoas fora do círculo do casal que dá o tom da continuidade na história - e o desenvolvimento dos dramas.

“O problema é quando o marido morre, porque vem as rezadeiras e outras pessoas, e então descobrem que ele é ela, e que a esposa - que sempre conheceu uma pessoa só - não sabia e não tinha essa percepção”, revela o diretor.

E é a partir da percepção de gênero e performance que a narrativa se desenrola. “É quando batem os preconceitos. Todo mundo era querido e de repente não é mais. Então são levantadas questões de preconceito social, homofobia, todo o juízo de valor a partir dessa história”, conta o diretor.

O texto original de Newton Moreno, artista pernambucano, tem como base o dia a dia nordestino, e foi escrito para ser um exercício teatral, como explica Mika. Na adaptação paraense, “Desmedida” elimina a característica de teatro de rua da obra original, dando à história uma carga dramática.

“Fizemos um grande drama do espetáculo”, explica Mika. “Só tem um momento mais de graça, quando as mulheres estão desnudando o defunto para descobrir que ele é ela. O resto não é engraçadinho. Tiramos o farsesco para dar um ar mais árido, mais pesado”.

Peça não tem pessoas trans no elenco

Histórias que giram em torno da vivência de pessoas transgênero vem ganhando mais espaço na cultura pop há certo tempo. Exemplo é a série “Transparent” (2015), que chegou a vencer alguns prêmios Emmy. Mesmo com histórias sobre pessoas trans em alta, outra discussão passou a tomar conta de tais produções: em muitas delas, assim como em “Transparent”, personagens transgênero eram interpretados por pessoas cisgênero.

Essa abertura para atores e atrizes transgênero em grandes produções pode ser considerada recente, e até mesmo tímida. Somente em 2021, o Emmy teve sua primeira mulher trans indicada à categoria de atuação, com Mj Rodriguez, que concorreu ao prêmio de melhor atriz em série dramática por “Pose”.

Em sua peça de teatro, com três mulheres no palco, Mika diz que a possibilidade de escalar artistas transgênero para a produção nem chegou a ser cogitada nos processos de desenvolvimento.

“Não houve uma preocupação com essa questão, mas a gente que é do meio artístico está acostumado a conviver com homossexualidade”, diz. “A minha preocupação inicial era a seguinte: como são três mulheres, queria um texto que pudesse trabalhar com as três, onde elas pudessem coringar. Minha preocupação era um texto que pudesse tirar muito delas, e acho que funcionou muito bem”, completa.

O espetáculo “Desmedida” explora ainda as linguagens do teatro, da música e da dança na mesma montagem. Para este trabalho o grupo conta ainda com a colaboração de Marcelo Vilela, na co-direção e iluminação cênica; Pawer Martins, na direção musical; e Cacau Novais, na preparação vocal do elenco.

Agende-se:

Espetáculo “Desmedida”, da Trupe Vira Tempo
Dias: 31/3 e 1/4
Local: Teatro Experimental Waldemar Henrique
Hora: 20h
Ingressos: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia), à venda no Sympla
É obrigatório apresentar o comprovante de vacinação no dia do evento.
Classificação: 16 anos

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