‘Deixa Falar’ celebra vitória histórica com samba-enredo paraense na Grande Rio em 2025
Diretamente do barracão da escola de samba do bairro da Cidade Velha, o Grupo Liberal conversou o diretor, compositores do samba e interpretar para falar sobre o feito, inspirações e planos para o futuro
Com o trecho "Protege Caxias nas águas de Nazaré" e carregando a força da encantaria amazônica, a escola de samba ‘Deixa Falar’, do bairro Cidade Velha, em Belém, conquistou o concurso de samba-enredo da Grande Rio para o Carnaval 2025. A final ocorreu no dia 28 de setembro, na capital carioca, após duas seletivas. O samba intitulado ‘A Mina é Cocoriô’ foi escolhido para embalar o desfile da agremiação no Sambódromo Marquês de Sapucaí.
Ouça o samba-enredo!
A composição vencedora foi inspirada no tema estipulado pela Grande Rio no início do ano, "Pororocas parawaras: as águas dos meus encantos nas contas dos curimbós", em homenagem ao Pará. A ideia se baseou na música “Quatro Contas” da cantora Dona Onete, destacando as entidades encantadas das pororocas, no encontro das águas do rio com o mar.
Esmael Tavares, presidente da ‘Deixa Falar’, descreveu a emoção do momento da vitória: “Nosso carnaval paraense merece esse reconhecimento porque temos grandes profissionais e poetas. Quando subimos para cantar, a comunidade já gritava: 'É campeão!'".
O presidente da ‘Deixa Falar’ também exaltou a importância de representar a cultura local, sobretudo, trazendo para a força da encantaria que emana da natureza amazônida. Agora, o samba-enredo pertence à Grande Rio, mas Esmael Tavares garantiu que a escola belenense vai acompanhar os preparativos.
“Vamos estar presentes, não sei se na bateria, pode ser que sim, ou pode ser que não, mas tenho certeza que uma grande caravana paraense estará na Marquês torcendo e vibrando pela Grande Rio”, afirmou otimista em entrevista exclusiva ao Grupo Liberal.
MUSICALIDADE
Os compositores Marcelo Moraes e Tayane Coelho, junto com Mestre Damasceno, Ailson Picanço e Davison Jaime, foram os responsáveis por fazer a letra do samba cantando em forma de oração nascer.
Marcelo explicou que a inspiração veio da vivência na escola de samba, pautada no Tambor de Mina e na rica tradição das encantarias. Além das três princesas turcas, Janira, Herondina e Mariana, são lembrados na letra o fenômeno natural da pororoca, a boiúna, o banho de cheiro e o patchouli.
“Nós sempre acreditamos no projeto, desde o início da composição até o lançamento do clipe, mas ninguém imaginava a repercussão maravilhosa. Fomos muito acolhidos no Rio de Janeiro. Nossa maior missão foi sempre levar o nome do Pará, elevando o samba do nosso Estado e fizemos parte desse feito histórico”, disse Moraes.
Tayane destacou a força do samba-enredo, mencionando que a frase "A Mina é Cocoriô" rapidamente ganhou o público. "O samba falou tudo o que precisava ser falado sobre esse enredo", ressaltou.
Ela também reforçou o quanto a troca com o Mestre Damasceno foi especial, ressaltando a humildade. “Ele aceitou o convite sem titubear. Além de ser acessível, o mestre tem uma carga muito grande de sabedoria como compositor”, acrescentou.
O intérprete Fábio Moreno destacou a responsabilidade de representar o Norte no maior palco do samba. Segundo ele, o momento foi de grande responsabilidade e preparação. "Foi uma valia muito grande para nós como intérpretes do Norte, competir com grandes compositores e talentos do Rio de Janeiro", afirmou.
Ao refletir sobre o sucesso do projeto, Fábio apontou a melodia diferenciada, que mesclou elementos do boi e do carimbó, mas sempre mantendo a essência do samba, como um dos pontos que fizeram a diferença. “É uma letra que você encontra ordem cronológica do enredo, uma forma poética e pode ser cantada em forma de oração, da forma que o samba aconteceu”, acrescentou o intérprete.
REPRESENTATIVIDADE
O presidente da presidente das Escolas de Samba Associadas (ESA) de Belém, Fernando Guga, destacou a importância da seleção de samba-enredo ter envolvido as escolas da cidade na iniciativa, que surgiu a partir de uma proposta do governador do Pará, Helder Barbalho, após seu desfile pela Grande Rio.
Guga destacou que o diferencial desta parceria foi o intercâmbio cultural que começou desde o lançamento do enredo, com a participação ativa de artistas locais em todas as etapas do processo.
Ele também relembrou que o Pará já esteve presente no Carnaval carioca, como em 2018, quando a Beija-Flor foi campeã com um enredo sobre a Amazônia, mas, desta vez, houve uma maior valorização dos talentos locais. "Nossos mestres-salas, portas-bandeiras, mestres de bateria, cantores, ritmistas e compositores foram ouvidos e contemplados", ressaltou.
A vitória dos compositores paraenses em um concurso que contou com grandes nomes como Diogo Nogueira e Xande de Pilares foi destacada como um marco. O presidente da ESA afirmou que essa conquista mostra a força do talento e da energia dos paraenses. "Ninguém melhor para compor e falar sobre as nossas coisas, os nossos jeitos, as nossas crenças do que o paraense", completou.
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