De 'Verde Ver-o-Peso' a 'Casa das Madalenas': as histórias da cidade contadas no teatro
Gerações de dramaturgos do teatro paraense tem se dedicado a contar as narrativas da cidade
Se a música aborda Belém em seus diversos aspectos e períodos, o teatro da cidade também retrata a cara da cidade. Montagens como “Casa das Madalenas” (2015), e “Verde Ver-o-Peso” (1982), por exemplo, mostram como gerações diferentes das artes cênicas levam a cidade ao palco.
LEIA MAIS - De Vital Lima a Pratagy: Belém que inspira gerações na música
Letícia, uma das diretoras e dramaturgas de “Casa das Madalenas”, conta que a ideia surgiu quando um dos diretores teve vontade de adaptar o filme “Moulin Rouge” para o teatro. Ela então sugeriu que em vez de uma adaptação, o filme burlesco podia ser inspiração para ambientar um cabaré no período da Belle Époque, em Belém.
“Fizemos uma pesquisa extensa, lemos diversos artigos e também conversamos com a Lourdes Barreto, uma das prostitutas mais antigas da cidade”, relembra.
O roteiro então foi desenvolvido tendo Belém como pano de fundo, incluindo ainda nomes de mulheres que ficaram marcadas na história, como Matarrare e Maria Flor, ambas prostitutas famosas no período da Belle Époque.
Aos 24 anos de idade, Letícia integra o movimento do teatro paraense que conta a história de seu próprio povo. Ela avalia o cenário como necessário.
“Durante muito tempo o teatro paraense teve essa ideia de fazer clássicos de grandes dramaturgos, e acho que o teatro comercial ainda entra nesse eixo. Mas quando a gente para de olhar para fora desses nomes, e olha a nossa própria história, a gente consegue colocar nossa história dentro da história do teatro. Contando nossas narrativas a gente consegue transformar isso num produto artístico, e demarcar isso é importante e potente”, destaca.
A atriz Yeyé Porto, 63, é uma das integrantes do elenco de uma das peças teatrais mais conhecidas pelo público belenense: “Verde Ver-o-Peso”. A montagem do Grupo Experiência, dirigida por Geraldo Sales, chega a 38 anos com pelo menos uma temporada ao ano desde sua estreia.
Assim como “Casa das Madalenas”, “Verde Ver-o-Peso” foi construído com muita pesquisa, com parte do elenco passando dias na feira, inclusive. Para Yeyé, o espetáculo é uma ferramenta de defesa de nossa cultura.
“O ‘Verde Ver-o-Peso é um espetáculo que não para. Hoje temos no elenco netos e netas de integrantes da primeira montagem. Minha filha, por exemplo, é iluminadora. Sempre está mudando; eu mesma sou a terceira Matilda e estou há quase 30 anos no espetáculo”, conta Yeyé.
O espetáculo também segue sendo atualizado a cada temporada, com novos personagens e situações. Yeyé relembra que o vendedor de CDs e DVDs, por exemplo, não estava na primeira montagem porque não existia.
“Eu acho que eles contam nossa história, contam nossa vida. O ‘Verde Ver-o-Peso’ faz a gente refletir sobre nossa vida, e acho muito bacana essa iniciativa dos grupos quando falam das coisas de Belém, e falam com muita propriedade. Acho muito bom e positivo”, justifica Yeyé.