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Danielle Fonseca abre a exposição 'A dama do mar não sente ciúmes'

A mostra reúne fotografias, colagem, esculturas e áudio instalação na Casa das Artes

Enize Vidigal

A artista audiovisual Danielle Fonseca abre a exposição "A dama do mar não sente ciúmes", hoje, na Casa das Artes. Seguindo a temática que orienta a produção artística da paraense, o mar ressurge nesse novo trabalho inspirado na peça teatral "A Dama do Mar", do dramaturgo norueguês Henrik Ibsen, datada de 1888. Danielle assina o texto em prosa poética que faz a analogia da obra clássica com a vida pessoal, no que se refere à relação com a própria mãe, Eugênia, além de uma experiência de afogamento na infância. A mostra é completada por fotografias, esculturas e instalação sonora na voz da atriz e cantora paulista Cida Moreira, que faz a leitura do texto-tema do projeto. A vernissage acontece às 19 horas com entrada franca.

"A dama do mar não sente ciúmes" foi contemplada pelo Prêmio de Produção e Difusão Artística da Fundação Cultural do Pará (FCP), em 2019. A mostra ficará aberta à visitação pública de segunda à sexta-feiras, das 9 às 18 horas, até o próximo dia 27 de março.

Nesse novo projeto, Danielle dialoga com o público a partir de uma das falas da personagem caracterizada pela relação com o mar e por não sentir ciúmes do marido. "A gente não sabe se ela é uma sereia ou uma foca, só sabe que ela veio do mar e que foi resgatada pelo marido. No caso, faço uma analogia e, ao mesmo tempo, uma homenagem à minha mãe, Eugênia Fonseca, da qual não sinto ciúmes das minhas irmãs, Aline e Bárbara da Fonseca. Brinco com essa ideia da vida do artista também ser transformada em texto e ficção e falo de um fato ocorrido na minha infância, em que me afoguei no mar quando eu tinha cinco anos, quando a minha mãe estava comigo", detalha.

"Lembro até hoje, à minha maneira, mas não sei se as minhas lembranças foram reais. Fui resgatada pelos bombeiros. Lembro da voz da minha mãe. Tenho pouca memória sobre isso. É mais fácil transformar isso (sentimento de susto e medo) em arte. Para fazer esse texto eu fiz até conversa com terapeutas para lembrar de mais informações desse episódio, mas não lembro. Poderia ter ficado um trauma, mas se tornou um ato curioso da minha vida que eu trouxe para a arte", completa. "É mais uma obra que relaciono com a água. Nós, povos da Amazônia, temos uma relação forte com a natureza. Apesar de eu não estar falando diretamente da Amazônia (nessa exposição), mas sou parte disso, não tem como como não aparacer isso na obra".

O texto que dá nome ao projeto foi escrito em 2016 e Danielle escolheu Cida Moreira para gravar a instalação sonora. "A voz de Cida Moreira veio como uma luva, um brinde a este texto. Ela fez uma leitura dramática, por ser cantora e atriz de teatro e cinema. O canto mágico da sereia", descreve. A mostra traz também duas esculturas, que são bases de saída usada por nadadores para saltar em piscinas, com as numerações 0 e 10, que não são usadas pelos atletas. "São nas bordas que se formam ondulações, e é nessas ondas-metáforas que a arte está. Nós artistas não nadamos sem ondulações".

Ainda, Danielle apresentas três fotografias, sendo que, em duas delas, a mãe e a irmã Bárbara - esta segunda representando o alter ego da autora - usam trajes de natação sobre as bases de saída que estão instaladas em palcos de teatro. A visão por detrás do palco faz um contra-luz com os assentos vazios da plateia iluminada ao fundo. Já na terceira imagem da mostra, Danielle homenageia o artista recém falecido John Baldesari, referência para arte contemporânea mundial. Ela fez a colagem de imagens de pessoas tocando em baleias, da obra de Baldesari, datada de 2010,  sobre fotografias dela de ossos de baleia jubarte.

"Há algo de salgado nesta exposição, de cloro, de sereias em busca de liberdade, de focas que estão fantasiadas de gente e vice-versa", descreve a artista Keyla Sobral, no texto crítico sobre a mostra. Ela continua: "A artista visual Danielle Fonseca vem trabalhando com esse território marinho já tem algum tempo, com suas esculturas surfísticas - seus extracorpos, o surfe como elemento artístico-poético, um universo aquático que sempre a rodeia. Aqui também estamos diante de uma fala encharcada. Existe uma narrativa autoficcional, uma menina que quase se afoga no mar da Bahia, que reconhece seu habitat, mas que volta a superfície".

Agende-se

Vernissage da exposição "A dama do mar bão sente ciúmes", de Danielle Fonseca

Dia: Quarta-feira, 05

Hora: 19h

Local: Casa das Artes (Rua Dom Alberto Gaudêncio Ramos, 236, bairro Nazaré, ao lado da basílica)

Entrada franca

A mostra permanece aberta à visitação de segunda à sexta-feiras, das 9 às 18h, até 27 de março

Cultura