Dança e teatro ajudam na integração das pessoas com deficiência
Grupo "Corpo e Movimento" mostra no Dia Internacional das Pessoas com Deficiência como se tornar um artista completo
A possibilidade de se expressar e socializar pela dança e pelo teatro tem mudado a vida de 16 crianças e jovens com deficiência da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) ao longo de 13 anos de existência. No Dia Internacional das Pessoas com Deficiência, celebrado no dia 3 de dezembro, os integrantes do grupo “Corpo e Movimento” mostram que qualquer limitação fica para trás quando se sobe no palco. Criado em 2010, o projeto já formou 40 artistas que representaram a instituição em diversos festivais locais e estaduais.
O “Corpo e Movimento” foi criado para representar a instituição nas apresentações internas e externas a APAE, participar dos festivais e eventos com fins educacionais e artísticos. “As artes de um modo em geral são importante para as pessoas com deficiências, pois é um movimento transformador onde percebemos o quanto eles se tornam protagonistas de suas vidas, descobrindo e apurando habilidades para o seu processo de aprendizado ao longo da vida”, ressalta a coordenadora Estadual de Arte e Cultura da Federação Estadual das Apaes do Pará (Feapaes), Gemille Sales.
Para compor o grupo, os usuários participam de atendimentos de danças, ofertado por meio do Centro de Atendimento Educacional Especializado (CAEE). Os alunos matriculados passam por uma avaliação, onde são observadas a coordenação motora, interação, integração, independência, ritmo, e responsabilidade dos atendidos.
Uma das selecionadas para participar do projeto foi a jovem lediane Luiza dos Santos, de 25 anos, que tem hidrocefalia. No total, Iediane já fez nove apresentações. Ela diz se sentir livre ao dançar. “Me sinto leve, acho que liberdade pra pode viver”, enfatiza. A jovem entrou no grupo em agosto do ano passado. O carimbó e a dança moderna e contemporânea são as paixões de Iediane na dança. “Amo a dança e o projeto me deu essa oportunidade”, agradece.
Esse sentimento de liberdade e autonomia é o que busca e o que tem alcançado o projeto. “A dança e o teatro têm grande impacto na vida de nossos atendidos, pois o artista recebe aulas de dança, teatro, aulas de improvisação, alongamento, cria sequências coreográficas a partir do seu entendimento com os estímulos ofertados. As mudanças são percebidas em suas vivências sociais, integração, interação, socialização, responsabilidade, organização, são pessoas mais participativas e seguras em suas vidas cidadãs”, detalha a professora Gemille.
Outro exemplo é Felype Rafael Leal, de 26 anos, que é ator, bailarino, modelo e influencer. Felype, que tem Síndrome de Down, mostra sua rotina, trabalhos e ensaios nas redes sociais (@felypeleal_). O início no projeto foi justamente para buscar o sonho de atuar e dançar. “Me sinto muito feliz”, confessa. “Significa, liberdade se soltar ser feliz”, completa.
No decorrer da existência o grupo já se apresentou em diversos municípios e estado do Brasil, com diferentes composições, sempre levando em consideração disponibilidade dos artistas e os requisitos do grupo.
O Festival Nossa Arte que reúne as APAES do Brasil é um dos principais palcos para o grupo. O primeiro trabalho do grupo foi “Canções Que Embalaram Nossa História”, em 2010, para o encenado em Bento Gonçalves (RS). Depois veio o espetáculo “Colorindo”, em 2013, na capital São Luiz (MA).
Um dos ápices do grupo foi com “A Lenda do Açaí”, em 2016, quando os paraenses ganharam em Recife (PE) no Festival Nossa Arte o título de campeão em artes cênicas. Depois vieram os espetáculos “Entre Amores” (2017), “Piratas do Caribe: O Baú da Morte” (2019), “Batuque” (2019), inspirado na obra de Bruno de Menezes, que foi escolhido em 2021 para participar do I Festival de Dança Virtual Inclusivo da Fundação Cultural do Pará (FCP), com premiação em cache distribuído aos artistas.
O grupo está planejando para o próximo ano dois novos trabalhos para participarem das etapas estadual, regional e nacional do Festival Nossa Arte. Em 2024, a etapa nacional do festival será realizada em Joinville (SC). Outro projeto é conseguir ser selecionado em editais de artes. “Estamos escrevendo projetos para estarmos participando dos editais voltados aos artistas com deficiências múltiplas e cognitivas, pois o anseio é que futuramente nossos artistas possam ter suas apresentações remuneradas”, almeja a professora Gemille.
A ideia é que no futuro os artistas formados pelo Corpo e Movimento possam ser profissionais remunerados por seus espetáculos. “As artes cênicas estão em constante movimento de transformação e assim também caminhamos. Ainda temos muito a percorrer. Hoje já falamos em mercado de trabalho para os artistas com deficiências e isto é um grande avanço. Até um tempo atrás a dança era uma ‘dancinha’, movimento pelo movimento. Hoje trabalhamos com base em pesquisas, com técnicas da dança e teatro, o artista tem voz, onde ele exprime seus sentimentos e suas vontades”.