Curta-metragem 'Mestras da Ginga' tem pré-estreia em Belém e reforça a luta das mulheres na capoeira
O projeto destaca a resistência e a força das mulheres na capoeira por meio de uma ficção que retrata desafios, conquistas e a luta por espaço dentro da modalidade
Neste sábado (08/03), data em que se celebra o Dia Internacional da Mulher, o curta-metragem de ficção "Mestras da Ginga" terá sua pré-estreia na Escola Municipal Manuela Freitas, no bairro de São Brás, em Belém. O evento, que tem entrada gratuita e início às 18h, incluirá uma roda de conversa com lideranças femininas da capoeira e apresentações culturais, incluindo uma roda de capoeira conduzida por mulheres. Após a pré-estreia, o público poderá assistir o curta no canal do YouTube do Grupo Berimbau Brasil.
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Dirigido, roteirizado e protagonizado por Jamile Andrade, também conhecida na capoeira como Contramestra Pretta Nzinga, o filme retrata os desafios enfrentados pelas mulheres dentro desse universo, trazendo à tona situações de preconceito e desigualdade de gênero que persistem ao longo dos anos.
O curta-metragem foi gravado em Marapanim, município do Pará, e Belém, na capital paraense, tendo como cenários um terreiro, a orla de Icoaraci, uma escola municipal e a Praça da República. O projeto foi viabilizado pelo edital de audiovisual fomento inciso I, da Lei Paulo Gustavo, e conta com a realização do Grupo de Capoeira Berimbau Brasil, em parceria com o Movimento Capoeira Mulher, o Coletivo Nzinga Cultura Afro e a Pupunha Produções.
A história por trás do curta
"Mestras da Ginga" narra a trajetória de Nzinga, uma jovem capoeirista que enfrenta resistência dentro de seu grupo pelo simples fato de ser mulher. Ao lado de outras figuras femininas que passaram por situações semelhantes, ela se une para mostrar à comunidade que são plenamente capazes de praticar e dominar a arte da capoeira.
Jamile Andrade explica que a inspiração para a obra veio da necessidade de retratar os desafios que muitas capoeiristas mulheres ainda enfrentam, mesmo depois de décadas de luta contra o machismo dentro dessa arte. Segundo ela, a exclusão feminina na capoeira está enraizada historicamente.
"Antigamente, mulheres não participavam da prática da capoeira propriamente dita, ficando por trás da roda apenas fazendo coro. Para entrar na roda ou praticar os exercícios, algumas se disfarçavam de homens", relembra.
Ela reforça que os avanços são inegáveis, mas ainda há um longo caminho a ser percorrido. "Hoje somos educadoras e mestras de capoeira, nos firmando nesse espaço. Diante disso, vimos a importância de mostrar, em uma ficção muito realista, a história de resistência ao machismo nos grupos de capoeira, evidenciando que a força coletiva das mulheres vence todas as barreiras impostas nesse contexto", afirma a diretora.
Legado
Durante a produção do filme, diversos debates foram promovidos sobre a resistência da mulher na capoeira, com ênfase na realidade do Pará. Para Jamile, um dos aspectos mais importantes do curta é evidenciar que muitas capoeiristas ainda naturalizam atitudes machistas dentro do meio, sem perceber que se trata de violências simbólicas.
Entre os episódios frequentes, ela cita situações como serem retiradas do jogo antes da hora correta, terem seus cantos interrompidos, serem empurradas na beira da roda e a imposição de entregar o berimbau a um homem.
A diretora acredita que ao trazer essas questões à tona, o curta-metragem também presta uma homenagem ao Movimento Capoeira Mulher, criado em Belém há 23 anos por Silvia Leão (Pé de Anjo). O coletivo surgiu da necessidade de enfrentar a discriminação de gênero na capoeira e promover espaços de protagonismo para as mulheres dentro da modalidade.
"Nosso filme retrata o que muitas de nós vivemos. A ideia de uma roda de capoeira liderada por mulheres já foi colocada em prática há décadas, e seguimos firmes nessa luta", pontua Jamile.
Segundo ela, a exibição do filme na data de hoje vem ao encontro do simbolismo do dia, que representa a luta histórica das mulheres por direitos e igualdade.
"Nossa luta continuará enquanto existir uma mulher em situação de violência, seja ela qual for. Queremos mostrar para o mundo nossos avanços e conquistas, mas também lembrar que ainda há muito a ser feito”, afirma Jamile.
Visibilidade feminina
A artista e jornalista Vitória Negrada, uma das coadjuvantes do curta-metragem, ressaltou a importância da produção na valorização da figura feminina dentro da capoeira. Para ela, o filme não apenas evidencia a luta das mulheres nesse espaço historicamente desigual, mas também inspira outras a conquistarem visibilidade e reconhecimento.
“Poder contribuir para esse projeto me faz refletir sobre o meu lugar de fala e de vivência. Me faz reafirmar os caminhos percorridos por mim e pelos meus ancestrais, me colocando também como protagonista da minha história enquanto mulher capoeirista, jovem e preta”, afirmou Vitória.
Segundo ela, essa trajetória a torna um espelho para outras mulheres que decidem se inserir nesse universo. Com sete anos dedicados à capoeira, Vitória destacou o impacto de interpretar um papel relevante na produção.
“Foi uma experiência incrível! Poder interpretar um papel de grande destaque é de suma importância nesse cenário atual, onde a história da mulher no Brasil e na capoeira se entrelaçam”, disse.
O curta-metragem "Mestras da Ginga" é uma produção da Pupunha Produções, com roteiro e direção de Jamile Andrade, produção executiva de Jamile Andrade, Cecilia Leal, Alessandro Campos e Fernanda Campos, fotografia de Alessandro Campos e San Marcelo, som dirigido por Alessandro Campos e Jairo Augusto, e montagem assinada por Alessandro Campos.