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Netflix lança 'Os Quatro da Candelária' com ângulo humanizado de crianças que vivenciaram a tragédia

A produção aborda a vida de três vítimas que tiveram suas infâncias interrompidas pelo crime.

Há mais de 30 anos, oito adolescentes e jovens, de 11 a 19 anos, foram mortos a tiros por policiais militares na Chacina da Candelária, no Rio de Janeiro. A história, que ocorreu em 23 de julho de 1993, será contada pela Netflix

A partir desta quarta-feira (30), a minissérie "Os Quatro da Candelária", retrata a fatídica ação. São quatro episódios baseados na perspectiva de quatro personagens distintos que mostram uma abordagem inédita ao trágico evento. 

Sob a direção do cineasta Luis Lomenha, que também participou do roteiro, a produção foi desenvolvida ao longo dos últimos dois anos. Na obra, a vida de quatro jovens é contada durante as 36 horas precedentes à tragédia.

Douglas (Samuel Silva), Sete (Patrick Congo), Jesus (Andrei Marques) e Pipoca (Wendy Queiroz) são jovens que encontram nas ruas do Rio de Janeiro a companhia mútua para sobreviver.

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“Esses quatro personagens é uma mistura de muitas histórias de sobreviventes e de pessoas que foram, das que estiveram na sala de roteiro, histórias minhas, enfim, isso foi um grande desafio de como nós faríamos esses quatro personagens. Eles não só representam os mais de 70 da Candelária, mas a nossa ideia é que eles representassem crianças no mundo inteiro, como uma referência de uma música da Nina Simone (Mississippi Goddamn) que fala sobre o assassinato de crianças em frente a uma igreja nos anos 70 nos Estados Unidos, no estado de Mississippi. Eu acho que esse conteúdo é universal, que a gente consegue identificar este problema em muitos lugares. Esse foi o nosso ponto de partida: humanizá-las e infantilizá-las, porque elas foram desumanizadas e desinfantilizadas. Nosso objetivo era devolver a infância e a humanidade a partir dos sonhos que foram interrompidos”, acrescenta Luis Lomenha.

Além dele, Marcia Faria também está na direção de "Os Quatro da Candelária", que aponta esse projeto como um dos mais desafiadores da sua carreira.

“Cada história fala de um de uma situação de vulnerabilidade diferente, todas muito terríveis. Um que foi abusado pelo padrasto, outra que teve uma situação com a mãe, que foi praticamente obrigada a deixar ela dentro de uma instituição, outro que não conhece os pais. Então são histórias ficcionais, mas baseada em fatos reais. A gente tem essa vivência da pesquisa do Luís, ela está fortemente dentro da narrativa da série”, destaca a diretora.


Esse olhar sobre as vítimas mostrando sonhos interrompidos descreve nas narrativas ficcionais relações de amor, família e amizade. A vida dos personagens se alinha em um contexto de racismo e preconceito.

“Não tinha outra alternativa para essas crianças, se não fosse fazer o que elas fizeram. Elas conheceram a violência desde pequena e também não tem como a gente reduzir isso e culpar os pais dessas crianças, porque a gente traz na série todo um histórico de início da construção daquela igreja no século XVII, que eu acho que é muito importante. O porque que ela foi construída, a forma e por quem ela foi construída. O Rio de Janeiro recebeu aproximadamente três milhões de africanos escravizados que desembarcaram a menos de 150 metros daquela igreja onde hoje tem um prédio barroco da mesma época, que é a Casa França Brasil antigamente era a alfândega onde chegavam as mercadorias e onde os africanos eram escravizados, na sequência eles eram violentados e estuprados em um lugar que chamava beco da vadiagem. Na sequência eles iam para frente da igreja ganhar alma porque eles não tinham alma, mas ainda com alma eles continuavam desumanizados, no lugar de desumano cumprindo a penitência por serem desalmados”, explica Luis.

Todo esse contexto histórico se alastrou até a atualidade. “Quando a gente analisa a história da elite brasileira, não existe povo mais cruel do que a nossa elite. Acredito que essas crianças são verdadeiros anjos ali, como ladrões de galinhas, tentando sobreviver e preocupados em manter essa sensação de liberdade, família, comunhão e grupo. Esse senso de generosidade e de humanidade que eles tinham. Esse foi o nosso objetivo, devolver a infância e humanidade a esses indivíduos que perderam nestes trágicos séculos que nós vivemos toda essa opressão”, finaliza o diretor.

 

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