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Filme “Ver-o-Peso” celebra 40 anos com exibição e debate; participe!

A programação ocorre no dia 19 de outubro, às 16h.

O Liberal
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Em 1984, novas circunstâncias sociais, políticas e culturais pareciam fazer chegar ares renovados ao país, a sensação era de que o brasileiro, o paraense, queriam e precisariam se recontar e se reencontrar em suas expressões. Esse espírito chegava ao Pará, à Amazônia, de formas diferentes. Umas das expressões nas quais se podem ver esse momento é o curta-metragem “Ver-o-Peso”, de Januário Guedes, Sônia Freitas e Peter Roland, de 1984.

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O documentário é, de certo modo, fruto de um contexto histórico de exibição e produção no Estado, em especial Belém que desenvolveu décadas anteriores. Belém, por exemplo, na década de 1960, faria parte de um movimento técnico e estético promovido pelas mudanças no cinema, como o neorrealismo italiano, a nouvelle vague, os grandes clássicos hollywoodianos e o cinema novo brasileiro. E, por outro lado, as formas de filmar mudariam radicalmente, especialmente com o surgimento das câmeras super 8 e 16 mm, mais acessíveis, mais fáceis de manusear e com modos mais práticos para revelar um filme.

image Filme "Ver-O-Peso", de Januário Guedes, Sônia Freitas e Peter Roland (Reprodução)

A cidade se aproveitou dessa situação. Seus novos diretores, muitos deles pertencentes aos importantes cineclubes que atuavam na cidade, iriam desenvolver uma produção de caráter amadora, mas em alguns casos, com pretensão e alcance de profissionalismo e, principalmente, como filmes autorais. O filme “Ver-o-Peso” estava dentro desse contexto experimental e, também, foi o resultado desse momento de um arroubo de produtivo cinematográfico na região.

Mas os seus 40 anos, completados este ano, não devem ser comemorados apenas por essa importância. Além de sua importante história, o filme tem em sua temática um de seus principais destaques. O curta conta a história do encontro inesperado de um turista com um velho mendigo (é como à época o filme descreve o personagem), interpretado por Alberto Bastos, na feira do Ver-o-Peso. O turista, Peter Roland, tem sua câmera roubada, mas ela é recuperada pelo experiente ancião.

O que pode parecer um simples ato do cotidiano, na verdade, revela um momento de representação do complexo cultural mais importante da cidade até então. Uma representação que prenunciava, ou anunciava, as mudanças pelas quais a região já vinha passando. Essas mudanças econômicas, culturais e sociais talvez possam ser vistas na defesa de uma identidade regional e belenense, que estariam encarnadas no Ver-o-Peso, e sobre a qual se sentia uma ameaça de perda.

image Januário Guedes (Agência Pará)

O local é visto com as características que o consagram, a história, os vendedores, os mitos que habitariam o lugar, mas também com a pobreza que ali existiria. A identidade amazônica, então, é celebrada com a intenção de que aqueles que a desconhecem, como o turista do filme, possam conhecê-la e preservá-la. Esse papel de mostrar o que seria essa cultura ao turista, através do microcosmo do Ver-o-Peso, é feito pelo ancião, o portador das histórias, dos segredos do lugar, de seus verdadeiros significados.

Nesse sentido, o curta-metragem de 1984 está inserido em um debate não apenas cultural e social, mas profundamente político, na medida em que as modificações pelas quais a região, o Estado, já vinha passando são um dos motivos pelos quais podemos ver o filme como uma reação. Uma reação cultural e política à ameaça da perda de uma essência.

Como assinala Relivaldo Pinho em seu livro “Antropologia e filosofia: experiência e estética no cinema e na literatura da Amazônia” (2015): “nessa sensação, o consolo para o protagonista[o velho ancião] é se apegar às memórias, ao devaneio, àquilo que representa os fundamentos de uma cultura, de um modo de existir. O caboclo, o barco, o rio, a feira, a lenda, a história, são os elementos utilizados para evocarem esse sentimento, e o devaneio, o poético, é a linguagem dominante escolhida para representá-los”.

Januário Guedes, um diretores do filme afirma em Pinho (2015) que o filme é uma “declaração de amor, o Ver-o-Peso é onde nossa memória afetiva está ancorada”, nesse sentido, para o diretor, filmar o lugar, a região, é se “posicionar diante do mundo” e ao fazer isso “você está refletindo no espelho sua própria imagem”. Como poderíamos pensar essa representação da Amazônia 40 anos depois? Ainda podemos falar de uma identidade regional? Ainda podemos eleger o Ver-o-Peso como o símbolo dessa cultura? Ainda nos olhamos como detentores de uma cultura única? Dentro de um mundo interconectado, ainda se pode ser guardião de uma tradição? E ainda, os discursos culturais da região atuais, especialmente os ficcionais, carregam ainda um tipo de manifestação política?

image Filme "Ver-O-Peso", de Januário Guedes, Sônia Freitas e Peter Roland (Reprodução)

Essas e outras questões atualizam a necessidade de celebramos o filme de 1984 e, fundamentalmente, de olharmos como aquele momento e aquela história, tão decisivos da produção cultural nacional e regional, podem ser pensados agora, com aquele contexto e com o contexto atual da realidade política e sociocultural da região. Esse é um dos objetivos do evento “Avant- Première: Ver-o-Peso, o filme, 40 anos, hoje” que será realizado dia 19 de outubro, às 16 horas, no Auditório do Centro Universitário Fibra.

O evento, aberto ao público em geral, contará com a exibição do filme seguida de um debate que terá a presença de seu diretor Januário Guedes, do professor e pesquisador Relivaldo Pinho e do crítico de cinema e cineclubista Marco Antônio Moreira. A iniciativa é do Cine Clube e doCurso de Direito, do Centro Universitário Fibra.

Serviço

“Avant-Première: Ver-o-Peso, o filme, 40 anos, hoje”: exibição do filme “Ver-o-Peso”, seguida de debate com o Diretor Januário Guedes e Relivaldo Pinho

Data: 19 de outubro

Horário: 16h

Local: Auditório da Fibra (Avenida Gentil Bittencourt, 1144 - Nazaré)

Carga horária complementar: 4 horas.

Evento com entrada franca e sorteio de livros. Inscreva-se aqui.

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