Curta-metragem 'Chama Verequete' completa 20 anos

O filme paraense, vencedor do Kikito, ganha programação com reexibições, bate-papo e roda de carimbó.

Enize Vidigal, O Liberal
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O premiado curta-metragem paraense “Chama Verequete”, de Luiz Arnaldo Campos e Rogério Parreira, completa 20 anos. O documentário, vencedor do Kikito na categoria de Melhor Música, no Festival de Gramado de 2002, aborda a vida e a obra do aclamado mestre de carimbó Augusto Gomes Rodrigues, o “Verequete”, falecido aos 93 anos, em 2009. O aniversário do filme ganhou uma programação com exibições, bate-papo e rodas de carimbó com o Grupo Uirapuru do Verequete, promovida pela Prefeitura de Belém, a partir desta segunda-feira, 14.

A programação intitulada “Chama e Canta Verequete” abre com a exibição do curta no Cine Líbero Luxardo, do Centur (Av. Gentil Bittencourt, 650), às 19h, com ingresso a R$ 12,00 (inteira) e R$ 6,00 (meia). O público vai poder conferir o filme em película original, de 35 milímetros, que foi a mesma exibida no lançamento em Belém, em sessão aberta ao público que contou com a presença do Mestre Verequete, em 2002.

“O Verequete foi aplaudido de pé, na exibição. Vimos o filme juntos. Tinha muita gente do lado de fora do cinema, e, por isso, houve uma segunda sessão, que ele quis ficar pra ver de novo. Ele dizia: ‘Tô me afogando’ (chorando). Foi a primeira vez que ele entrou no cinema e foi para assistir a um filme sobre ele”, recorda Luiz Arnaldo, emocionado.

"Chama Verequete" também é nome de uma música do mestre. Ouça aqui.

A exibição será seguida de um bate-papo com a participação dos diretores, de familiares do mestre e do prefeito de Belém, Edmilson Rodrigues. "O filme é uma homenagem ao maior ícone da música popular paraense, gênio e rei do carimbó, Verequete", celebra o prefeito Edmilson Rodrigues. O evento tem o apoio da Fundação Cultural do Pará (FCP), do governo do estado. 

“O filme Chama Verequete é um dos maiores tesouros que nós temos na família, pois conta toda a história do mestre. Fazer essa homenagem (reexibição do filme) nos deixa emocionado. A nossa família assumiu o grupo de carimbó que ele nos deixou de herança (Grupo Uirapuru, que passou a se chamar Uirapuru do Verequete)”, conta o neto do artista, Felipe Rodrigues, de 29 anos. Os cinco filhos do mestre assumiram o grupo após o falecimento da mãe, Josenilda, conhecida como Cenira, viúva de Verequete.

A celebração pelo aniversário do filme não para por aí. Na quarta-feira, 16, o filme terá exibição gratuita, dessa vez em formato digital, no Anfiteatro do Memorial dos Povos (Av. Governador José Malcher, 257). Logo após, haverá um debate sobre o carimbó, patrimônio cultural e imaterial brasileiro, seguido de roda de carimbó com o Uirapuru do Verequete. E no domingo, 20, a Feira do Açaí vai receber uma nova roda de carimbó com o mesmo grupo para encerrar a programação de aniversário do filme.

"É o momento para festejar o Verequete e a importância do carimbó para as nossas vidas. Teremos o lançamento do programa de Valorização do Carimbó na Feira do Açaí", anuncia o presidente da Fundação Cultural de Belém (Fumbel), Michel Pinho. Haverá um evento por mês do gênero musical nessa feira."

Documentário poético

O filme gravado no ano 2000 homenageia o Mestre Verequete, ícone do carimbó, bem como retrata o preconceito a esse gênero musical do interior paraense. Em 2002, “Chama Verequete” foi vencedor dos prêmios de Melhor Música no Festival de Gramado, Melhor Filme no Festival de Cinema de Belém, Melhor Fotografia no Festival de Documentários de Santa Catarina e merece Menção Honrosa no Festival de Curitiba.

 “A gente teve a ideia de fazer o filme sobre o Verequete, mas não um filme tradicional de uma pessoa absolutamente não tradicional. Pensamos num documentário poético com atores, intervenções ficcionais, que fosse capaz de traduzir a poesia do Verequete e do próprio carimbó, pois a história dele é a história do próprio carimbó”, resume Luiz Arnaldo.

A produção audiovisual contou com o incentivo do Prêmio Estímulo, concedido pela Prefeitura de Belém, em 1999. O início da filmagem atrasou para aguardar a recuperação do mestre, que havia sofrido um acidente vascular cerebral.

“Conseguimos fazer um filme que fosse capaz de reunir uma série de manifestações culturais do Pará, como cordão de pássaro, marujada, carimbó... e, principalmente, de dar ao Mestre Verequete o reconhecimento merecido. Tivemos uma cena gravada no Palácio Antônio Lemos em que ele sobe a um trono ficcional, de onde reina entre negros e indígenas”, pontua o diretor.

A história 

O filme também revela a origem do nome artístico, recebido em um terreiro de Tambor de Mina, que o mestre frequentou ainda jovem por conta de uma namorada que praticava essa religião. “Ele tinha o físico semelhante ao vodum Verequete, que anda na frente e vê que mais longe, e o pessoal começou a chamar ele assim no terreiro. Fomos reproduzir essa cena com os filhos de santo cantando o ponto desse vodum: ‘Verequete é o rei coroado lá no mar...’”, descreve Arnaldo.

Verequete surpreendia pelo talento, pelo fato de ser cantor e compositor autodidata e pelo sincretismo religioso que envolvia voduns e encantarias. “Ele era analfabeto, só sabia escrever o nome Verequete em letra de forma, não tirava um dó do violão, mas tirava letra e música da cabeça dele, que a banda do Uirapuru tirava nos instrumentos. Ele tinha uma poesia musical tão forte! ‘Tenho verso na cabeça como letra no jornal, tenho verso na cabeça como areia tem no mar’, cantava ele”, recorda o diretor.

Nos anos 90, Verequete era um idoso que vivia com a família em condições difíceis. Mesmo tendo gravado vários LPs e CDs de carimbó, ele morava numa residência de chão de terra batido, no bairro do Jurunas, e vendia churrasquinho na rua para sobreviver.

A situação melhorou com o incentivo da Prefeitura de Belém, que patrocinou a gravação do CD musical "Verequete da Coluna" e levou o fez shows de rua ajudando a difundir e a perpetuar a cultura do carimbó em Belém.

O documentário também circulou pela França e pela Alemanha, foi exibido na TV Cultura e comercializado em formato de DVD, com toda a renda tendo sido destinada ao Mestre Verequete. 

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