Á beira dos 110 anos, Cine Olympia é importante capítulo da história do cinema na capital

Construído na Belle Epoque, na época do cinema mudo, as poltronas do Olympia receberam gerações de expectadores da Sétima Arte.

Enize Vidigal O Liberal

Impossível falar de Belém e não lembrar de uma das salas de cinema mais antigas do país que se mantém como cinema. O Cine Olympia está prestes a completar 110 anos. Fundado em 24 de abril de 1912, nos tempos áureos do Ciclo da Borracha, em que a sociedade paraense se espelhava no movimento cultural europeu da Belle Epoque, o Cine Olympia pôs Belém no circuito mundial dos primórdios do cinema mudo.

“No início (da história do cinema), as salas de exibição de filmes eram improvisadas. No caso de Belém, foi o primeiro cinema realmente feito com certo cuidado, arquitetura com mais espaço, poltrona mais confortável, trouxe um padrão de qualidade que não tinha na época”, destaca o Presidente da Associação de Críticos de Cinema Pará (ACCP), Marco Antônio Moreira.

“O Cine Olympia passou por várias reformas, sempre ameaçado de ser comprado por igreja e grandes redes comerciais, devido à localização em área nobre. Mas soube se reinventar com uma programação ágil, trazendo mostras, pré-estreias, palestras e projetos sociais, foi sede do primeiro e único Festival de Cinema de Belém organizado por Pedro Veriano e Luzia Miranda Álvarez, apesar de permanecer fechado durante a pandemia”, aponta o crítico de cinema e jornalista Ismaelino Pinto.

O Olympia pertence hoje à Prefeitura Municipal de Belém. O espaço já foi um cinema comercial, aliás, um dos principais da capital paraense, reconhecido como “lançador de filmes” na época em que integrou o grupo nacional do Luiz Severiano Ribeiro. Grandes longas da história do cinema mundial estrearam nessa sala, inclusive, formando filas de expectadores em frente à bilheteria.

O Olympia chama atenção pela arquitetura antiga na fachada e também no seu interior, com destaque para o tamanho da sala de cinema que possui pelo menos o dobro do tamanho das salas de cinema da atualidade. “O Olympia tinha uma coisa diferente dos outros cinemas: a entrada é por baixo da tela do cinema, a plateia se olha, era uma forma de ver quem está no cinema”, destaca Ismaelino. “É um dos poucos cinemas de rua. Os cinemas começaram a ir para os shoppings”, acrescenta Marco Antônio.

Além disso, o espaço maior entre a tela e as poltronas se justifica porque, na época do cinema mudo, os filmes eram acompanhados por pianistas e outros músicos, que tocavam a trilha sonora ao vivo, possibilitando a emoção dos expectadores com o desenrolar dos enredos. “A função do Cine Olympia é conquistar o público. É importante que ele exista, representa uma atividade cultural importante, é patrimônio da cidade”, defende Marco.

Inusitado

Uma das histórias inusitadas sobre o Cine Olympia foi a revelação do ator paraense Syn de Conde, que gravou com o diretor norte-americano David W. Griffith, conhecido como o Pai do Cinema. “Syn de Conde foi considerado o primeiro brasileiro a fazer cinema nos Estados Unidos, antes mesmo de Hollywood (ser criada)”, recorda Ismaelino.

Assista o filme "A garota que ficou em casa", de 1919, aqui.

O nome verdadeiro do astro paraense era Sinésio Mariano de Aguiar, um jovem que havia sido enviado pela família de Belém para estudar em Paris, mas, sem avisar os pais, ele foi fazer cinema mudo nos Estados Unidos. A farsa foi revelada quando ele foi reconhecido pela plateia de Belém quando o Olympia exibiu o filme “A garota que ficou em casa", produção de 1919, no qual ele atuou. Tão logo a mentira foi descoberta, os pais ordenaram que Sinésio voltasse para casa, interrompendo, assim, a carreira promissora.

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