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Caetano e Maria Bethânia: show em Belém traduz obra inovadora dos irmãos

Público vai poder conferir uma playlist reunindo canções emblemáticas desses dois artistas que servem de referências para gerações

Eduardo Rocha

Em 1968, em plena Ditadura Militar no Brasil, um jovem cantor e compositor baiano chamado Caetano Veloso lançou a música "Alegria, Alegria" que tem como refrão o verso: "Por que não? Por que não?". De lá para 2024, lá se vão 56 anos. No entanto, o brado de Caetano continua reverberando na obra dele em diálogo com a irmã, a cantora Maria Bethânia, e com outros nomes da música brasileira e de fora do país e, de maneira especial, junto ao público. Tanto que ele e Bethânia vão se apresentar em Belém no próximo dia 28, no estádio Mangueirão, e como sempre provocando o plateia a descobertas em todos os sentidos. 

A playlist do show dá o tom desse passeio sonoro e cultural da obra de Caetano e Maria Bethânia, não apenas para serem revisitados sucessos mas, sobretudo, para que as canções possam ser relacionadas ao que acontece e ao que pode acontecer no Brasil e no mundo, a partir da leitura de cada fã ou espectador. E a troca de energia entre quem estará no palco e na plateia e vice-versa deverá começar justamente por "Alegria, Alegria", prevista para abrir o show.

Acerca das músicas que Caetano Veloso e Maria Bethânia deverão apresentar ao público em Belém, o pesquisador musical Leo Bitar, 52 anos, colecionador de discos e que atua com desenho de som, comenta que o repertório do show passa por vários momentos da carreira desses dois artistas. "É a primeira vez que o Caetano e a Maria Bethânia estão revendo a obra deles, dessa forma. Então, vai ter canções desde o início da carreira, antes da Tropicália, passa pela Tropicália, vai pelos anos 70, tem canções da época em que o Caetano foi exilado, por causa da Ditadura Militar. E tem coisas que o Caetano fez depois que ele voltou do exílio, que ele trabalhou com a Bethânia, ele fez direção musical de alguns discos da Bethânia", diz Leo. Maria Bethânia sempre interpretou canções de Caetano, como ressalta o pesquisador. 

"A gente vê por esse roteiro (playlist) que eles passam pela carreira, desde os anos 60 até os dias de hoje. Então, passam um pouco pelos anos 70, com os 'Doces Bárbaros', e nos anos 80, com os grandes sucessos que eles fizeram quando se tornaram grandes figuras da música popular brasileira, lançando discos incrivelmente bem produzidos, bem trabalhados, enfim. Nesse repertório, eu incluiria uma música do Jorge Ben, que é 'Mano Caetano', uma música representativa de quando Caetano estava voltando do exílio e Maria Bethânia gravou no disco dela, 'A Tua Presença'(de 1971), com o Jorge Ben. Se a Bethânia cantasse para ele, ao vivo, seria bonito. Mas, o roteiro do show é uma celebração de uma obra magniífica, incrível, de um legado absurdo que o Caetano e a Maria Bethânia deixam na múscia brasileira", enfatiza Leo.

Transformações 

Sobre esse legado, Leo Bitar destaca a inventividade e a mudança que esses dois irmãos fizeram na música brasileira, junto, inclusive, com outros artistas ligados a outras linguagens artísticas, como o teatro, o cinema e a literatura, por exemplo. "Eles fizeram parte de um movimento que transformou a cultura brasileira. Na verdade, era um movimento que estava rolando na Europa, nos Estados Unidos. Era a contracultura. Então, foi uma mudança comportamental no Brasil em sintonia com movimentos fora do país. Eles fizeram parte dessa história, com a Tropicália, junto com Hélio Oiticica nas artes plásticas, José Celso no teatro, Glauber Rocha no cinema, Torquato Neto, Gilberto Gil. E a música é muito importante, porque chega mais perto das pessoas", ressalta Leo.

Caetano Veloso e Maria Bethânia e inserem-se em um movimento cultural criativo em misturar ritmos e construções poéticas arrojadas na música, como frisa Leo. Ou seja, misturar no samba e no maxixe o rock and roll com batidas africanas. Caetano, por exemplo, chegou a gravar a música "Jokerman", do menestrel norte-americano Bob Dylan. A gravação com os arranjos e a interpretação para lá de inventiva de Caetano é de uma qualidade inquestionável. Ainda tem a percussão baiana na música. Eles resgataram o samba e (re) valorizaram o trabalho de autores de épocas anteriores, como Lupicínio Rodrigues, Luiz Gonzaga e Pixinguinha, entre outros.

A canção "Alegria, Alegria", na avaliação desse pesquisador musical, é um marco na virada de mesa proposta pela Tropicália, com uma letra falando do clima contestador da época, do psicodelismo, da atitude de que tudo é possível, de se olhar o mundo de outra forma. Na música, a presença inovadora de guitarras distorcidas. Veja se está certo: M. Bethânia não atuou diretamente na Tropicália, mas cantou músicas desse movimento cultural, ou seja, esteve de uma forma ou outra relacionada a esse processo histórico. 

A penúltima música prevista para o show é "Tudo de novo", que Caetano escreveu com Maria Bethânia para o disco deles, um ao vivo de 1978, primeiro encontro deles. Aliás, como diz Leo Bitar, os dois irmãos sempre estiveram juntos ao longo da carreira. Em 1971, Maria Bethânia lançou "A Tua Presença", que traz a música "Mano Caetano", falando da volta dele do exílio. E, em 1972, quando Caetano regressa do exílio, ele dirige o disco "Drama", da irmã. No disco "Pássaro Proibido", de Maria Bethânia, de 1976, a faixa-título que fecha o álbum é cantada por Caetano. Esse fato curioso reforça a parceria artistica dos irmãos, o que será compartilhado com o público no show em Belém no dia 28 próximo. 

Confira a playlist do show: https://open.spotify.com/playlist/7AW8HKtuSyhOe2b8BrOzPc

 

 

 

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