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Belém recebe aulas gratuitas sobre cinema; confira a programação

O diretor de “Cabeça de Nêgo”, Déo Cardoso, e a produtora de arte de “Ainda Estou Aqui”, Paloma Buquer, conversam com o público durante a 1ª F.R.A.M.E. — Formação Regional de Audiovisual e Mercado

Lívia Ximenes | Especial para O Liberal

A 1ª Formação Regional de Audiovisual e Mercado, conhecida como F.R.A.M.E., traz a Belém aulas gratuitas sobre cinema. O evento é aberto ao público e conta com profissionais renomados da área, como o diretor e roteirista Déo Cardoso e a produtora Paloma Buquer. A programação iniciou nessa quarta-feira, 16, e se estende até o dia 25 de abril no Sesc Ver-O-Peso.

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“É um momento em que eu posso trocar com os irmãozinhos e irmãzinhas aqui de Belém, aqui do Norte, experiências”, fala o cineasta. Déo relembra que morou em Belém quando criança, mas que lembra de poucas coisas. Para ele, as regiões Norte e Nordeste, quando contempladas, são como uma grande comunidade.

O longa “Cabeça de Nêgo” surgiu a partir de inquietações de Déo no âmbito de formação, educação pública e racialidade. “É um filme feito com muito empenho, muita garra e pouco dinheiro. [Tem] um elenco maravilhoso de jovens de Fortaleza”, destaca. A obra acompanha Saulo (Lucas Limeira), um rapaz expulso da escola após reagir a uma situação, e está disponível no Globoplay.


Entre os desafios de produzir obras para televisão aberta, streaming e cinema, Déo ressalta as peculiaridades de cada formato: enquanto para televisão e streaming se pensa em planos mais fechados e menores, para o cinema se imagina algo maior e mais aberto, por exemplo. “Claro que quando a gente faz um filme para cinema, a gente também já sabe que a vida desse filme vai pro streaming ou tem tendência a ir pro streaming. Mas o pensamento primeiro é esse, é o zelo, o cuidado na imagem, independente pra qual mídia se vai. O som também é extremamente importante”, afirma. Para Déo, em questões técnicas, tudo deve ser feito na maior qualidade possível.

Quando se trata de dramaturgia, o cineasta comenta sobre a importância de uma trama lenta. “A história não precisa ser acelerada. A gente pode se demorar um pouco, desenvolver um pouco mais um personagem, dar mais nuances e camadas para um personagem”, diz. Déo explica que, por isso, às vezes os filmes ganhadores de Oscar ou Cannes não são muito velozes ou têm tantos efeitos especiais.

O filme “Ainda Estou Aqui”, eleito o Melhor Filme Internacional no Oscar 2025, teve Paloma Buquer como produtora de arte. O prêmio, para ela, é importante para o crescimento da força, autoridade e legitimidade do cinema brasileiro. “Ter um Oscar tem me possibilitado ainda mais falar de toda essa Arte que praticamos, batalhamos e produzimos, lançar um olhar sobre a camada criativa que é a Produção de Arte dentro da Direção de Arte tem sido uma janela importante para avistarem como o universo sensível visual de um filme é feito de tantos diálogos e profissionais diferentes”, pondera.


Paloma conversa com o público em Belém sobre “A memorabilia da família Paiva em Ainda Estou Aqui”, na próxima terça-feira, 22 de abril. A produtora explora a memória, o afeto e os objetos narrativos aplicados no longa de Walter Salles. “É uma honra ser convidada para participar de um evento como o F.R.A.M.E., onde o incentivo de formação regional de audiovisual desse mercado de trabalho existente e talentoso no Norte, deslocando esse eixo que fica tão centrado no Sudeste”, revela.

A adaptação cinematográfica do livro de Marcello Rubens Paiva a respeito da luta de sua mãe, Eunice, após o desaparecimento do pai, Rubens, durante a ditadura militar no Brasil teve uma pré-produção extensa, segundo Paloma. A produtora lembra que houve um mergulho na década de 1970, bem como nos contextos intelectual, político e social em que as pessoas retratadas estavam envolvidas. “A gente tinha como desafio o fato dessa família ter existido antes, seus móveis, costumes e vestígios. E como não fizemos reprodução dos ambientes, era muito importante que as sensações desses ambientes e vivências fossem captados, honrando a história e existência da família Paiva”, aponta.

“Todas as artes são políticas. Se você consegue aliar entretenimento com consciência crítica, você alcançou o máximo do que aquele filme pode despertar no seu espectador. Esse filme tem uma importância histórica ampla e essencial porque evoca a memória dos que foram silenciados através de torturas, assassinatos e desaparecimentos durante a ditadura militar, como também alerta o momento sombrio atual do Brasil de revisionismos que valorizam e exaltam ditaduras”, comenta Paloma sobre “Ainda Estou Aqui”.

A programação da 1ª F.R.A.M.E. também conta com aulas da produtora Júlia Alves, de Minas Gerais, e da distribuidora Talita Arruda, do Rio de Janeiro. As profissionais ministram as classes nos dias 17 de abril e 24 e 25 de abril, respectivamente.


Serviço

1ª Formação Regional de Audiovisual e Mercado — F.R.A.M.E.
Datas: 16 a 25 de abril
Local: Sesc Ver-O-Peso. Boulevard Castilhos França, 522/523 - Campina. Belém, Pará.
Evento gratuito e aberto ao público, sujeito à lotação.
Programação:

  • 16/04, quarta-feira: Aula de Direção “Imaginar imagens, dirigir pessoas”, com Déo Cardoso
  • 17/04, quinta-feira: Aula de Produção “Se não se pode dançar, essa não é a minha coprodução”, com Júlia Alves
  • 22/04, terça-feira: Aula de Direção de Arte “A memorabilia da família Paiva em Ainda Estou Aqui”, com Paloma Buquer
  • 24 e 25/04, quinta e sexta-feira: Workshop de Distribuição “O filme acontece no encontro com os públicos”, com Talita Arruda

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