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Auto do Círio 2024 alerta pela preservação da diversidade ambiental da Amazônia na Mãe Terra

Evento reunirá artistas e simbologias de povos da floresta no dia 11 de outubro, em cortejo pelas ruas da Cidade Velha

Eduardo Rocha

Na Amazônia, entre as árvores da floresta, os mururés, casas simples de madeira e palafitas, botos e uirapurus, pés de açaí e toda uma culinária ímpar, desponta um ecossistema singular: a arte do carimbó, do samba de cacete, a Marujada, o Çairé, o Carnaval, enfim, a arte do teatro, da dança, do cinema, da pintura e escultura e outras expressões artísticas e culturais. Tudo isso vai se misturar em um grande bioma a ganhar vida pelas ruas de Belém em 11 de outubro próximo, com a realização do evento o Auto do Círio, com o tema “Bendita és tu, Mãe Terra: Nossa Senhora de Todas as Lutas”. Esse espetáculo serve, em particular, para que artistas paraenses demonstrem sua relação com a fé e religiosidade no momento da festa maior dos paraenses, o Círio de Nazaré. O Auto será lançado em 15 de setembro, às 10h, na Praça da República, com apresentação do Manto do evento.

 

Esse “bioma cultural” terá lugar em um espaço visceral: o bairro da Cidade Velha, onde a capital do Pará foi fundada em 12 de janeiro de 1616 e, em particular, de onde parte o Círio de Nazaré no segundo domingo de outubro.

Os preparativos para a realização do evento seguem em ritmo veloz. A coordenadora geral do Auto do Círio 2024, a professora Inês Ribeiro, do Curso Licenciatura em Teatro da Universidade Federal do Pará  (UFPA),  explica que  esse evento corresponde a “um Auto Popular que há 30 anos integra Fé, Arte e Tradição”. É promovido pela Reitoria da UFPA,  por meio da  Pró- Reitoria de Extensão, mas o Programa em si é do Instituto de Ciência das Artes e realizado pela Escola de Teatro e Dança da UFPA. 

O Auto do Círio foi fundado em 1993 pela professora e ex-vice-reitora da UFPA, Zélia Amador de Deus e pela atriz  Margareth Refkalefsky. O evento insere-se no contexto da  extensão artística universitária -  Patrimônio Cultural. 

Conscientização

“ ‘O Auto do Círio 2024’ tem como objetivo atuar como um catalisador para a reflexão sobre o meio-ambiente, a cultura e a poética amazônica, em defesa da floresta em pé, da vida, dos costumes, das lendas, da força da natureza e principalmente das águas, presentes na vida das populações dessa região", enfatiza Inês Ribeiro. Ela adianta que o público vai poder conferir nas ruas da Cidade Velha essa temática sendo apresentada por meio de “música, teatro, projeção de vídeo-mapping, a subida do Manto e um show  final com o tema  ‘festa paraense’ ".

Como ressalta a professora Inês, “Mãe Terra” é um conceito indígena. “Refletimos sobre a ligação entre Nossa Senhora de Nazaré e o planeta Terra. Encontramos um simbolismo forte da fé mariana que faz o chamado à responsabilidade ecológica. Nossa Senhora de Nazaré, a padroeira da Amazônia, nos ensina a viver de maneira mais simples e sustentável respeitando os limites da natureza. Maria de Nazaré nos convida a lutar para que a sacralidade da natureza, as populações tradicionais, a inclusão e a diversidade sejam reconhecidas e respeitadas”, sublinha.

Uma das principais atrações culturais na Cidade de Belém na primeira quinzena de outubro, o Auto do Círio será realizado no dia 11 de outubro de 2024, com a saída do cortejo ocorrendo às 19h na Praça do Carmo. Haverá apresentações na  Estação 01, na frente da Igreja da Sé; na Estação 02, em frente ao Instituto Histórico e Geográfico do Pará (IHGP) e no Palco final com Apoteose, em frente ao Museu do Estado do Pará (MEP). Cerca de 300 brincantes devem participar do evento.

“Vamos ter o cortejo cantado e dançado pelas ruas da Cidade Velha e apresentações de dança,  música, teatro e artes visuais ”, detalha Inês Ribeiro. 

“Além da Coordenação geral ser eu, uma mulher, pensei integrar todas as outras coordenações por Mulheres que são professoras do Teatro, Figurino, Dança e Música da UFPA. Elas têm pesquisas que são referências na área artística local, nacional e internacional.  Todas são artistas/ professoras/ pesquisadoras da UFPA. 

Desse modo, atuam na organização e realização do Auto do Círio 2024: Ana Flávia Mendes ( Dança); Cláudia Gomes (teatro); Mayrla Andrade (Dança); Lucia Uchôa ( Música- Coral Ellegbara); Larissa Latif (Teatro); Alana Lima (Teatro); Marluce Oliveira ( Teatro); Andrea Flores (Teatro); Ezia Neves (Figurino e Cenografia); Micheline Penaffort ( Maquiagem); Grazy Ribeiro ( Figurino) e Luiza Monteiro (Dança). 

A Orquestra de Rua do Auto, proposta no Projeto de 2023, sob a coordenação do professor Thalles Branches, da ETDUFPA, participará do cortejo deste ano. A Coordenação Geral do evento também conta com a parceria de Kleber Moraes Benigno (Paturi), músico percussionista do Grupo Musical Trio Manari e da Amazônia Jazz Band. 

Na pele

O figurinista e carnavalesco Jean Negrão, 40 anos, tem um trabalho de 27 anos produzindo figurinos para a cultura popular e outras manifestações artísticas de Belém. “Em 2023, eu completei 25 anos saindo no elenco do Auto do Círio. A minha maior motivação como artista da cidade é louvar, é agradecer, é se entregar a toda essa magia, toda essa fé que o paraense tem por Nossa Senhora de Nazaré. Mas, como artista,  o Auto do Círio me recebe, me abraça por eu louvar, agradecer, de eu fazer todas as  minhas manifestações pessoais para Nossa Senhora, da forma artística que o Auto do Círio apresenta”, ressalta. 

Para esse artista, participar do evento é um ritual, em um processo que vem desde a escolha do tema, do personagem. “Ele é uma ritualística que, no final, se encerra quando a gente entrega esse amor,  essa fé à Nossa Senhora. O Auto do Círio é um ritual”, enfatiza Jean. Há 15, 16 anos, após  o cortejo, Jean transforma os figurinos dele em mantos que repassa a comunidades com novenas e procissões em municípios paraenses.


 

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