Ator e diretor Geraldo Salles celebra 80 anos em plena atividade

Fundador e presidente do Experiência, ele dirigiu todos os espetáculos grupo de teatro fundado há 50 anos, incluindo o icônico "Ver de Ver-o-Peso"

Enize Vidigal O Liberal
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O premiado ator e diretor de teatro Geraldo Salles chega aos 80 anos em plena atividade, na próxima quarta-feira, 18. Considerado o “pai” do Grupo Experiência (atual Associação Cultural Grupo Experiência), um dos mais antigos do Pará, Salles não apenas é um dos fundadores, como também presidente e dirigiu todos os espetáculos desde a fundação em 1971, incluindo “Ver de Ver-o-Peso”, o mais encenado e aclamado da história do teatro paraense, no qual também atua em três papéis.

A história do teatro paraense não seria a mesma sem Geraldo Salles. Ele soma 65 anos de trabalho pelas artes cênicas e não pensa em parar por aqui: “Pra mim ainda foi muito pouco. Quero muito mais”, avisa. No próximo mês de outubro, “Ver de Ver-o-Peso” volta em cartaz; em novembro, será a segunda temporada de “A Pensão da Cotinha”; e ainda, o diretor prepara para 2022 o espetáculo “Estrada de Ferro Belém-Bragança: os trilhos da esperança”, dramaturgia finalizada por outro grande nome do teatro paraense, José Leal, poucos meses antes do recente falecimento.

Geraldo Salles conta que a história de amor pelo teatro iniciou aos 10 anos de idade a partir de outra paixão, o cinema. “Eu adorava Oscarito e Grande Otelo e Chanchadas da Atlântida. Assistia as matinês diariamente e, à tarde, montava o pano de boca no quintal de casa e tentava reproduzir o que via no cinema com os amigos da vizinhança”, recorda.

A visibilidade veio com o concurso de declamação de poesia do Colégio Nazaré, que teve Claudio Barradas e Adelermo Matos como jurados. Salles venceu e foi convidado por Barradas para encenar a primeira peça de teatro, “Auto da Compadecida”, de Ariano Suassuna. O jovem artista conquistou o papel de Chicó e contracenou com o João Grilo de Barradas, que também assinava a direção.

Geraldo Salles chegou a trabalhar no Rio de Janeiro, onde atuou em “Tempestade”, de William Shakespeare, sob a direção de Tite de Lemos, e “O Chão dos Penitentes”, no qual contracenou com José Wilker em início de carreira. De volta a Belém, retomou os estudos na Escola de Teatro (atual Escola de Teatro e Dança da UFPA).

Ele recebeu menção honrosa como Melhor Ator no I Festival Latino-Americano de Teatro, na Colômbia, em 1967, com a peça “A pena é a lei”, de Suassuna. Também foi reconhecido como Melhor Ator no I Festival Goiano de Teatro, de 1968. Ele foi premiado duas vezes como Melhor Diretor no Festival Nacional de Teatro, na Paraíba e no Rio de Janeiro, pelod espetáculos “Quem te fez saber que estavas nu?” e

“Don Chicote Mula Manca e seu fiel companheiro Zé Chupança”, nos Anos 80; e também na XVII Mostra Estadual de Teatro, em Belém, em 2001, por “ZAMA– Uma Aquarela Amazônica”.

Ver de Ver-o-Peso, espetáculo de um grupo que virou família

O emblemático “Ver de Ver-o-Peso” conquistou lugar cativo no coração dos expectadores paraenses. A peça ambientada no lugar que é o cartão postal de Belém foi montada no início dos Anos 80 a partir de uma pesquisa “in locu” realizada sob a coordenação de Geraldo Salles. A partir do texto coletivo, nascia ali o principal e mais encenado espetáculo de todos os tempos no Pará. Nascia também um grupo de artistas que, sob a liderança e a direção de Geraldo Salles, se perpetua no palco e fora dele em franca relação de arte e de amizade.

“Ver de Ver-o-Peso” retrata o cotidiano e as pessoas da cidade com abordagem cômica e acidez política. A peça encenada inúmeras vezes, se manteve em constante adaptação acerca das novas tecnologias, da linguagem e dos temas da atualidade.

Além de dirigir, Geraldo Salles interpreta três personagens: o bêbado, a pupunha e, ainda, um feirante que recita o poema em alusão à personagem folclórica Maria Igarapé (vivida por Natal Silva), cujo texto é de própria autoria. O poema é o ponto alto do espetáculo que leva à reflexão sobre a vida, pois Maria Igarapé é um personagem folclórico.

Alguns atores se mantém ativos na peça desde o início, como Paulo Fonseca (Paulão), Natal Silva, Yeyé Porto e Klaus Costa. “Geraldo Salles é nosso querido mestre”, afirma Paulão. “É um privilégio estar próximo dele. Convivo com ele desde 1978. Ele ensinou toda uma geração de atores que passou pelo Grupo Experiência. Ele sempre foi inventivo, criativo e inquieto. Se tornou uma lenda viva. O conhecimento dele é muito vasto e consegue nos envolver (aos atores) e encantar o público pela qualidade e consciência da sua mensagem. Muitos aplausos demorados para ele”.

“Digo que o Geraldo é um bruxo, um mágico, porque ele transforma um texto em algo novo que a gente nem imaginou. Ele consegue colocar beleza (nas coisas) porque isso está dentro dele”, destaca Yeyé. “Ele é nosso ‘pai de palco’. A gente se emociona muito quando fala nele porque é muito bonita a relação dele conosco. Tem autoridade e também liberdade de criação. Estamos juntos há mais de 40 anos e nos amamos muito”.

“O Geraldo Salles é um dos grandes mestres do teatro e da cultura desse estado”, aponta Klaus. “Ele é uma das grandes referências nessa área. Trabalho com ele desde os Anos 80. Fizemos vários trabalhos juntos e, hoje, faço a produção dos espetáculos dele também e atuo sempre que posso. É uma felicidade ele estar completando 80 anos de vida e ainda fazendo vários trabalhos”.

“Ver de Ver-o-Peso” foi um dos destaques da programação da ECO/92, no Rio de Janeiro, e também levou o Experiência a ser uma das três companhias representantes do Brasil no VIII Circuito de Teatro em Português, que reuniu grupos de teatro de oito países de língua portuguesa, em 2013.

 

 

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