Artistas praticamente moraram no Ver-O-Peso para criar o espetáculo
Grupo escreveu várias cenas que presenciaram no dia-a-dia do Veropa
Antes de “Ver de Ver-o-Peso”, O Grupo Experiência já havia produzido um espetáculo com características da cultura regional, intitulado “Mãe D’Água”, onde remontavam o mito da sereia amazônia Iara. A peça recebeu um prêmio do Ministério da Cultura e foi apresentada em outros estados. O grupo repetiu o sucesso com “Ver de Ver-o-Peso”, que também viajou pelo Norte e Nordeste.
"Depois de 'Mãe D’Água' veio a ideia de construir um espetáculo que tivesse a cara de Belém, então surgiu a ideia de fazer algo sobre o Ver-o-Peso, esse grande cartão postal da cidade. Nós reunimos um elenco que passou a pesquisar e dormir na feira, então a gente se reunia todas as noites para montar um cena a partir de algo que tínhamos observamos”, conta o diretor da peça Geraldo Salles.
O grupo então definiu alguns temas para construir cenas, como: o rapa, os passarinhos, e até o Círio de Nazaré. “Nós selecionamos o que estava bom, mas percebemos que faltava alguma coisa para unir essas cenas”, relembra. Foi então que que surgiu um dos personagens mais característicos da peça, e da própria feira: o Urubu. “Eu lembrei que nas feiras nordestinas tinha sempre um cantador, que cantava rotina da feira. Mas Belém não tinha isso, então pensei: ‘qual personagem observa a feira desde o amanhecer até o final do dia?’. Aí veio a ideia do Urubu, então colocamos dois para comentar a feira e fazer ligações entre as esquetes, porque são animais que estão ali desde o amanhecer até a hora da xepa”, explica o diretor.
Ao longo de todos esses anos, “Ver de Ver-o-Peso” segue lotando plateias em suas temporadas ao longo do ano. Para Geraldo, o sucesso se explica no fato de o espetáculo ter a cara de Belém. “As pessoas se identificam. Tem gente que já assistiu mais de dez vezes e vai de novo, porque sabe que a narrativa se renova”.
Além de um espetáculo popular, “Ver de Ver-o-Peso” não deixa de lado o caráter crítico em seu texto. Geraldo explica que a montagem é uma mistura de comédia de costumes, teatro de revista e musical, tudo isso, segundo ele, construído a partir da célebre frase de Gil Vicente: “rindo se castigam os costumes”.
Ao longo de toda essa trajetória, não é apenas o texto da peça que se renova. Atualmente o elenco conta com atores e atrizes que estão na montagem desde a primeira apresentação, assim como novos nomes que passaram a integrar o grupo com o passar do tempo. O Experiência chegou a promover oficinas de teatro, e Geraldo conta que os destaques eram sempre chamados para integrar o elenco. “É uma família. Prova disso é que mesmo depois de tanto tempo, sempre que nos reunimos não são necessários grandes ensaios, porque o elenco é afinadíssimo”, conta.
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Geraldo destaca ainda que nos planos para 2019, “Ver de Ver-o-Peso” receberá um prêmio, e fará apresentações em Ananindeua, Marituba, Barcarena, Abaetetuba e Pontas de Pedras; o grupo também trabalha em uma apresentação especial para os próprios feirantes do Ver-o-Peso.
Aos 75 anos, Geraldo segue em atividade no teatro. São 38 anos como diretor de “Ver de Ver-o-Peso”, em uma trajetória que passa por diversas montagens e um período morando no Rio de Janeiro. Ele relembra que na década de 80 chegava a montar três espetáculos por ano, e conta que atualmente o cenário para o teatro é difícil. Sobre “Ver de Ver-o-Peso”, diz: “minha relação com o espetáculo é que ele é minha alma e minha visão de paraense. Eu faço teatro desde cedo, é uma paixão, sou apaixonado pelo que eu faço, e pretendo continuar por muito tempo”.