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Artista venezuelana morta na Amazônia estava indo para casa, conta amiga

Julieta Inés Hernández Martínez, de 38 anos, percorria os estados brasileiros de bicicleta fazendo apresentações circenses

Elisa Vaz, Gabriela Gutierrez e Vito Gemaque

A artista venezuelana e cicloviajante que foi encontrada morta em uma área de mata no município de Presidente Figueiredo, a 117 quilômetros de Manaus, estava pedalando em direção à sua casa, segundo informações repassadas ao Grupo Liberal na tarde deste domingo (7). Julieta Inés Hernández Martínez, de 38 anos, morava no Brasil havia cerca de oito anos, mas seu objetivo era voltar para o país de origem. Aqui, trabalhava como artista de rua, palhaça e pedalava por diversos estados do país fazendo apresentações circenses.

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Em contato com a reportagem, a amiga de Julieta Romana Melo, de 41 anos, também palhaça, contou que o objetivo da venezuelana era “continuar sua jornada até chegar em casa”. “Ela já estava muito perto”, lamenta. Embora as duas não fossem amigas íntimas, tiveram contato próximo durante as viagens de Julieta a Belém. Duas vezes, ela se apresentou na capital paraense para arrecadar fundos e seguir sua viagem.

“Conheci ela em 2018, no Rio de Janeiro, foi um encontro breve, mas caloroso. E em 2022 a gente organizou nosso Festival Internacional de Mulheres Cômicas do Pará, do qual ela participou da live de abertura falando sobre como era ser uma mulher imigrante e artista. Ela chegou em Belém um mês após esse festival, em dezembro de 2022. Nos mobilizamos para conseguir uma apresentação para ela no Waldemar Henrique, conseguimos de graça para ela arrecadar fundos e continuar a jornada. O objetivo dela era chegar em casa”, lembra Romana.

Depois disso, segundo a amiga, Julieta deixou Belém para fazer alguns cursos e participar de eventos em outros estados, mas depois retornou, em abril de 2023. Novamente, os colegas conseguiram uma apresentação para a artista levantar recursos para sua viagem. “Por onde ela passava, levava seu trabalho e alegria. A última vez que falei com ela foi em abril de 2023”.

Crime

Desaparecida desde 23 de dezembro de 2023, Julieta Inés Hernández Martínez foi encontrada morta, enterrada, com as mãos e pés amarrados, em uma área de mata próxima à Manaus. A informação foi confirmada na sexta-feira (5), pelo delegado Valdinei Silva, titular da 37° Delegacia Interativa de Polícia (DIP). O casal Thiago Agles da Silva, de 32 anos, e Deliomara dos Anjos Santos, de 29, foi preso por suspeita homicídio qualificado, estupro e ocultação de cadáver.

Em depoimento, os suspeitos revelaram que a causa da morte de Julieta foi asfixia. Segundo o delegado, Julieta passou a noite na casa do casal, local que serve de apoio para pessoas que transitam de bicicleta ou a pé pela BR-174. O crime teria ocorrido neste local. Inicialmente, Thiago, interrogado na manhã de sexta-feira (5), disse que Julieta seguiu viagem, mas depois ele confessou que matou a artista.

Na delegacia, Deliomara contou que, na madrugada do dia 23 de dezembro, o companheiro queria pegar o celular da vítima, que estava deitada em uma rede na varanda da casa. De acordo com a suspeita, Thiago foi até Julieta com uma faca nas mãos e exigiu o celular da venezuelana. Depois, ele teria enforcado a circense e pedido para a companheira amarrar os pés da vítima.

Deliomara ainda relatou à Polícia Civil que o companheiro abusou sexualmente de Julieta. Ela teria ficado com ciúmes e ateado fogo na vítima e em Thiago. A suspeita ainda amarrou uma corda no pescoço de Julieta, que estava desacordada, e a arrastou para uma área de mata próxima, onde o corpo da artista foi enterrado e encontrado pelos policiais civis do 37° DIP. Thiago negou a versão apresentada pela mulher.

Em nota, a Secretaria de Estado de Segurança Pública do Amazonas (SSP-AM) confirmou que um corpo foi encontrado por volta das 18h de sexta-feira (5), enterrado no município de Presidente Figueiredo. Na região onde o corpo estava, a polícia apreendeu partes da bicicleta, a barraca e o celular de Julieta. "O Departamento de Polícia Técnico-Científico (DPTC) vai trabalhar na identificação do corpo para confirmar se trata-se da venezuelana Julieta Inés Hernández Martínez, que estava desaparecida desde o dia 23 de dezembro”.

Mobilização

Após a confirmação da morte, grupos começaram a organizar uma vaquinha, inicialmente para arrecadar fundos para custear o translado do corpo da artista circense. Como o governo da Venezuela decidiu arcar com os custos da viagem, o dinheiro arrecadado agora será direcionado à família de Julieta. Pelas postagens do Coletivo Circo Di Soladies no Instagram, agora as doações devem ser feitas diretamente para a família de Julieta na conta Paypal sophialarouge@gmail.com ou, em caso de dificuldade, para o PIX contato@circodisoladies.com.br.

Artistas e amigos da venezuelana fizeram um protesto na tarde deste sábado (6), em Manaus. Indignados com a brutalidade do crime, eles ocuparam um dos símbolos do turismo no estado, o Largo de São Sebastião, que fica diante do Teatro Amazonas, e chamaram a atenção das autoridades para o caso.

Em Belém, Romana Melo diz que o ato ainda será organizado, com data provável no próximo domingo (14). “A gente começou a conversar agora em grupos para tentar se mobilizar e articular isso, ver a data, o local. Amanhã a gente deve se encontrar para decidir e deve ficar para domingo”, adianta a amiga da vítima.

A Fundação Nacional de Artes (Funarte) se pronunciou por meio de seu site, lamentando “profundamente” a morte da artista, palhaça e cicloviajante. “Julieta cultivava a liberdade e estava sempre em movimento, pedalando por diversos estados do país compartilhando a sua arte, levando a alegria da palhaça Jujuba para toda gente”, diz a entidade, que também garante estar acompanhando, junto ao governo do Amazonas, o desdobramento das investigações e o apoio necessário à familia, colegas e companheiras de oficio e amigos de Julieta.

Segundo a Funarte, informações sobre homenagens e translado do corpo serão divulgadas assim que possível.

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