Arte, talento e ousadia de Ary Souza

Comemorações pelo Dia Mundial da Fotografia começam hoje com abertura de exposição

Enize Vidigal, em O Liberal.
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O repórter fotográfico Ary Souza completa 30 anos de carreira jornalística. Mais do que um operador das lentes, Ary é um garimpeiro das belas imagens, um despertador de emoções da cena estática, um atleta da notícia acostumado a superar obstáculos - sejam muros, morros, rios...- na busca cotidiana pela melhor foto. Esse premiado fotojornalista, que empresta uma vida de talento ao jornal O Liberal, concede entrevista hoje ao programa Sem Censura Pará, da TV Cultura, a partir das 14h30, e também é homenageado hoje no Bangalô, residência de estímulo às artes, no bairro da Cidade Velha, onde participa de um bate-papo aberto com o público, às 20 horas, numa homenagem alusiva ao Dia Mundial da Fotografia - data comemorada no próximo sábado, 19. Ainda, a noite vai contar com a exposição “Compasso”, que obteve o primeiro lugar no Arte Pará de 2013, às 19 horas.

Ary é o dono do click que se tornou personagem da cena urbana de Belém, costumeiramente avistado em alta velocidade num bugre vermelho com os longos cabelos brancos esvoaçantes. Foi vencedor de premiação internacional de fotojornalismo pela União Católica Internacional de Imprensa (UCIP), com sede em Genebra, na Suíça, em 1991, com a sequência de fotos em que uma criança de cerca de dois anos, ainda usando fraldas, cuida de um bebê de colo, sozinha, largada em meio à chuva numa praça de Belém. Na esteira desse reconhecimento, em que Ary desbancou 600 profissionais de várias partes do mundo, ele conquistou o prêmio do Banco Itaú Cultural de São Paulo, nos anos 90; a Bienal de Fotojornalismo em Ibirapuera, em São Paulo; além de prêmios regionais, como o Arte Pará em 1987 e três prêmios aquisição do mesmo salão.

Ao avistar esse profissional que desbancou mais de 600 fotógrafos do mundo inteiro na premiação da UCIP, não se imagina a difícil história de vida que ajudou a lapidar uma joia do jornalismo, extremamente rica em aventuras para contar. Nascido no interior de Abaetetuba, a família dele passava por Belém na viagem com destino a Macapá, onde o pai iria trabalhar no projeto Jari, por volta de 1959, quando Ary foi deixado na capital paraense para morar com uma senhora que o ensinou a fotografar aos 13 anos. “Eu cheguei em Belém em 1959, eu tinha uns dez anos. Naquela época era comum as pessoas pedirem uma criança para criar, mas, na verdade, era para fazer serviço doméstico. Eu fui o único filho que ficou em Belém. Só fui rever a minha família aos 18 anos. Eu parei de estudar para trabalhar. Foi árduo”, lembra emocionado. “Essa senhora tinha um lambe-lambe, uma foto-canhão que fazia fotos das pessoas na calçada”, lembra.

Já adulto, Ary encontrou na fotografia o meio de subsistência. Ele abriu uma “porta” na Rua Gaspar Viana ao lado da antiga sede de O Liberal, onde começou a fotografar o público num pequeno estúdio, garantindo mais reserva e comodidade aos clientes, que ficavam mais desinibidos do que o antigo costume de se deixar fotografar na rua. “Fiz um estúdio acanhado no prédio em que eu morava”. 

Mas os clientes faziam fotos para documentos, tarefa que não saciava a inquietante criatividade de Ary, deixando-o desmotivado. “Sempre fui fissurado por fotojornalismo, comprava o jornal todo o dia e via o trabalho dos colegas da época, o que me inspirava muito. Eu queria trabalhar em jornal, na rua, em ação. Resolvi largar o retrato e partir para o fotojornalismo com a ajuda de colegas. Conheci o fotógrafo Pedro Pinto, que chefiava o departamento fotográfico, mas não foi fácil conseguir uma vaga. Depois de dois anos, conheci o Anselmo Gama, chefe de reportagem do jornal, que me contratou. Eu tinha uma paixão pelo Liberal. Fui para o Rio de Janeiro fazer um curso e passei a trabalhar no Jornal dos Bairros, um tabloide que era encartado no Liberal, no final dos anos 80. O trabalho agradou e fui promovido para a reportagem do jornal”, recorda.

“Eu deslanchei com o meu trabalho, sempre pauleira. Peguei muita porrada de polícia nas pautas, como na época dos protestos ‘Fora Collor’. Nos protestos dos estudantes pela meia-passagem eu sofri pancadaria por mais de 20 soldados da antiga Patam. O jornal publicou na capa do jornal a foto em que apereço sendo carregado pelos colegas na Praça do Operário, no início dos anos 90”, recorda. Os projetos culturais caminharam em paralelo ao fotojornalismo, como a exposição “Margem”, que fotografou ribeirinhos e moradores de vicinais abandonados pelo poder público, feita em parceria com MIguel Chikaoka, e “Penumbra”, vencedor do edital do Banco da Amazônia, com imagens noturnas de pessoas no contraluz e na penumbra. Em “Compasso”, exposta hoje no Bangalô, Ary revela a rotina de ribeirinhos de Ponta de Pedras chegando apressados nos trapiches para vender os produtos da floresta. 

“Se eu não tivesse passado sofrimento, não estaria aqui. Sou vitorioso. Não me arrependo de nada”, resume esse artista, que, orgulhoso, conseguiu formar os dois filhos, sendo um em Jornalismo e outro em Agronomia, que já caminha para o Mestrado. “A minha família era muito pobre, a gente tinha que trabalhar. Mas eu pude proporcionar isso para os meus filhos”. Um livro biográfico do mestre Ary Souza está sendo produzido, com previsão de lançamento em 2018.

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