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Antônio Tavernard, um poeta inesquecível

Na próxima quarta-feira, 26, o poeta, contista, compositor e dramaturgo paraense, completa 85 anos de falecido

Enize Vidgal
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Antônio Tavernard, o poeta, contista, compositor e dramaturgo paraense, completa 85 anos de falecido na próxima quarta-feira, 26. Autor do Hino do Remo e parceiro do Maestro Waldemar Henrique como letrista dos clássicos “Foi Boto, Sinhá” e “Matinta Perera”, canções que eternizam elementos místicos da cultura amazônica. Ele fincou os pés na história do estado apesar do curto período de produção artística, cerca de 10 anos apenas, pois faleceu ainda muito jovem, aos 27 anos, em decorrência da hanseníase.

O poeta Antônio Tavernard dá nome ao Terminal Hidroviário da ilha de Cotijuba. Ele nasceu em Icoaraci, no dia 10 de outubro de 1908, e foi batizado de Antônio de Nazaré Frazão Tavernard numa homenagem ao Círio. iniciou a carreira por volta dos 17 anos de idade, conforme relata o sobrinho-neto Cássio Tavernard, que é autor da tese de mestrado sobre a obra do parente ilustre.

O artista não demorou muito a descobrir que estava doente e abandonou o curso da Faculdade de Direito do Pará, mas se manteve ativo nas artes em um modesto escritório erguido nos fundos do terreno em que a família residia, na Avenida Gentil Bittencourt com a Tv Generalíssimo Deodoro que alcançava a Av. Conselheiro Furtado. O escritório ficou conhecido como “Rancho Fundo”, onde ele passava o dia produzindo.

Diferente do costume da época, em que os portadores de hanseníase eram afastados da família, normalmente enviados para a Colônia do Prata, em Marituba, o poeta foi mantido próximo à família, segundo Cássio. O artista evitava ser fotografado devido à evolução da doença. Tornou-se reconhecido por sua obra ainda em vida, na década de 30.

Ele tinha o apelido de “Tony” ou “Toni”. A janela do “Rancho Fundo” era ponto de encontro de seresteiros e boêmios que iam tocar para ele. “Ele não tocava, mas sabe-se que havia roda de seresta na janela do quartinho dele. O quintal era de cerca baixa, de madeira”, descreve. O poeta morreu de infarto, decorrente da doença, e não deixou filhos. A mãe dele, Marieta, faleceu seis meses depois. “Foi uma cirrose devido à tristeza”, conta.

Importância histórica

“Antônio Tavernard tem uma importância singular em três aspectos na literatura da região amazônica. Primeiro, o poeta imolado perante a sociedade, que acaba tendo aquela figura mística do poeta isolado, mas não numa torre de marfim, mas no seu Rancho Fundo. O segundo, é toda a mística que se constituiu de atrelar a obra à vida dele, um jovem que aos 18 anos descobre ter uma doença que na época era incurável. E o terceiro aspecto, é a redescoberta que falta ser feita da obra do Antônio Tavernard”, destaca o escritor e jornalista Alfredo Guimarães Garcia.

Alfredo é admirador pessoal e pesquisador da obra de Tavernard. No centenário do poeta, em 2008, ele organizou a reedição com atualização ortográfica do único livro lançado em vida pelo artista “Fêmea”, pela Editora Pakatatu. A obra estava sem reedição havia 80 anos. O segundo livro de Tavernard organizado por ele foi “Sonetos de Tavernard”, lançado em 2017 pela Imprensa Oficial do Estado do Pará (IOEPA), do governo do estado, que reuniu sonetos reunidos pelo Conselho Estadual de Cultura.

“Místicos e Barbaros” é outro livro de Antônio Tavernard, mas que foi publicado em 1953, após o falecimento dele. Para Cássio, “Fêmea” é o preferido: “É um livro de crônicas carregadas de crítica social, ainda muito atual, que me lembram Nelson Rodrigues, sobre traição e adultério”. Um dos contos de “Fêmea”, “De que morreu o Manduca Lambão”, ganhou animação em formato mapping na tese de mestrado de Cássio, intitulada “Quandú - Possíveis diálogos entre a literatura e o cinema de animação”. “O conto é uma pequena tragédia urbana. O personagem Manduca é fruto da miséria, da fome e dos vícios. Ele chega em casa, vindo do bar, e encontra a esposa em cólera porque eles foram despejados. Ela o humilha e o abandona sentado na sarjeta, debaixo de chuva. Chega o cão Quandú, de quem recebe o único gesto de carinho. Ele sofre uma convulsão e morre. ‘Morreu de porre’, diriam alguns. ‘Morreu de triste’, diria o cão se pudesse falar. A realidade do Manduca me parece próxima, conhecemos esse personagem”.

O sobrinho-neto recorda que, nos Anos 90 o grupo da Escola de Teatro e Dança da Universidade Federal do Pará (UFPA), encenou a peça de Antônio Tavernard intitulada “A Casa da Viúva Costa”, sob a direção de Wlad Lima.

 

 

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Cultura
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