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Paula Sampaio e Paul Setúbal: artistas que compõem o Arte Pará

A partir de 22 de setembro, o público poderá conferir o trabalho desses e de outros artistas no Museu de Arte Sacra e na Casa das Onze Janelas

Bruna Lima

Nesta edição da série “Selecionados Arte Pará- 40 anos”, O Liberal apresenta mais dois artistas que compõem o time da Mostra Nacional. Paul Setúbal, de Goiás, fala das diferentes linguagens em que transita na arte, do lugar de nascimento como referência para suas produções e do prazer em transformar idealizações em obras.

Na fotografia, a mineira de nascimento, mas paraense de coração, Paula Sampaio, fala da trajetória na fotografia, das diferentes formas de participações no Arte Pará e de um trabalho carregado de poesia e metalinguagem no universo da fotografia.

A partir de 22 de setembro, o público poderá conferir o trabalho desses e de outros artistas no Museu de Arte Sacra e na Casa das Onze Janelas, no bairro da Cidade Velha, em Belém.

O Projeto Arte Pará 2022 é apresentado pelo Instituto Cultural Vale, com patrocínio do Centro Universitário Fibra e do grupo Equatorial Energia e com apoio institucional do grupo O Liberal e dos Institutos Inclusartiz e Pivô Arte e Pesquisa. O Arte Pará é uma realização da Fundação Romulo Maiorana.

Paul Setúbal, Goiás, 1987

Nascido no interior de Goiás, o artista considera esse fato como um dos movimentos fundamentais para o seu trabalho na arte.  “Estar no interior do país e, ao mesmo tempo, perto da capital do poder, me possibilita enxergar uma dinâmica de problemáticas que passam pelas disputas territoriais e controle do país. Desde cedo, me interessei pelas engrenagens que movem o poder, tentando compreender seu funcionamento”, explica.

No mesmo sentido, ele explica que o corpo é também uma das fontes mais importantes do seu fazer artístico, sempre sendo revisitado como suporte, como em performances, vídeos e fotografias. “O corpo é uma unidade frágil que em minha pesquisa se transforma em uma unidade capaz de resistir a todo tipo de pressão social, uma unidade de poder. Acredito, que atualmente, meu trabalho se dedica a essa relação, entre corpo e território, corpo como território ou como essas relações se intercruzam no contexto social”, acrescenta.

Obra em destaque

O artista apresenta obras em dois formatos: escultura e vídeo. "Proposta para monumento (morte ou glória) 2015 -2018" é uma escultura feita a partir da pintura Independência ou Morte, de Pedro Américo, em que Dom Pedro I é retratado empunhando uma espada no ato de independência.

"Conto da Roça", de 2020, é um vídeo que narra uma história real sobre a disputa territorial entre pistoleiros e trabalhadores no interior do país. “No vídeo é possível constatar a partir dos diálogos o quanto conceitos como honra, bravura e dominação ainda são parte da mentalidade dominante na sociedade brasileira e vem cada vez mais sendo sistematicamente estimulada. Ambos trabalhos, especialmente no ano em que se dão as comemorações de 200 anos de independência, trazem em sua gênese um paralelo e inquietação quanto ao passado e presente do país”.

 

 

Arte Pará

“Acredito que a mostra poderá nos dar um panorama capaz de nos permitir discutir, no ano do bicentenário da independência do Brasil, visões sobre um país que passa por um momento turbulento em sua esfera política e social. Ao mesmo tempo que o salão, em sua 40ª edição, é uma importante fonte de fomento e discussões no território da arte contemporânea ao longo de sua trajetória”.

Paula Sampaio, Minas Gerais, 1965

Paula Sampaio diz que descobriu a fotografia como linguagem durante o curso de Comunicação Social na Universidade Federal do Pará e foi no jornal Beira do Rio, da UFPA, que as suas primeiras fotos foram publicadas. “Logo depois, conheci a Fotoativa e fiz oficina com Miguel Chikaoka em 1986, uma experiência transformadora. No ano seguinte comecei a trabalhar em jornal, como repórter fotográfica”, diz a fotógrafa.

A escolha profissional pelo fotojornalismo e a convivência na Fotoativa com o grupo de fotógrafos, artistas, pesquisadores, jornalistas que  discutiam  e se posicionavam sobre  questões no cotidiano Amazônico, determinaram  o percurso  da fotógrafa. “E, pelas estradas, comecei o projeto de documentação do cotidiano nas margens das rodovias Transamazônica e Belém-Brasília, em 1990. No decorrer do processo, fui conhecendo gente, ouvindo histórias de vida e fotografando essa parte da Amazônia de uma forma muito intensa e próxima, tive sorte, fui acolhida pelas comunidades com muita generosidade”.

 Obra em destaque

A fotoinstalação  Sob a pele, ossos da memória”  vem se  construindo nos últimos  5 anos. O ponto de partida foi a descoberta de que estava perdendo seus negativos. “Um dia, ao abrir o arquivo onde guardo o acervo formado ao longo de mais de 30 anos de documentação fotográfica na Amazônia, percebi que os negativos estavam se deteriorando. O acondicionamento inadequado e as condições climáticas da região Norte, agiram de forma devastadora e uma parte dessa memória avinagrou, se retorceu, gerando uma outra pele para essas imagens, muitas nunca reveladas”.

Arte Pará

“Estou especialmente feliz com essa seleção. Estar presente nesse momento em que o Arte Pará  completa  40 anos de existência é muito significativo para mim. Desde a década de 90  participo do salão. Submeti  ensaios  em vários  processos seletivos e também já fui  convidada algumas  vezes. O Arte Pará é um dos poucos salões de arte no Brasil que sempre acolheu a criação de fotojornalistas e documentaristas, aplicações da fotografia com as quais me identifico.  E para mim, isso é um diferencial no processo curatorial presente no Arte Pará: a valorização da história, que é também  feita de imaginação e abstração”.

 

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