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A Amazônia do futuro agora; conheça o movimento artístico 'Amazofuturismo'

Vertente artística quer mostrar futuros possíveis para populações amazônicas

Lucas Costa

A ficção científica tem se encarregado de imaginar futuros tecnológicos para a sociedade há séculos. Mas dentro deste gênero, que mesmo sem prever o futuro, cumpre a importante função social de influenciar pontos de vista; as perspectivas de quem os cria podem representar pesos diferentes para a sociedade atual.

É dentro desse cenário que movimentos artísticos têm ganhado popularidade por abranger futuros possíveis para populações historicamente marginalizadas: são estes o afrofuturismo e amazofuturismo. O termo ligado a cultura afro tem sua cunha datada do final da metade da década de 90, e ganhou força como uma forma de imaginar um futuro onde negros sobreveram à violência policial, à falta de oportunidades de estudos, aos salários menores e ao racismo institucional como um todo, como descreve a ativista Nátaly Nery em sua palestra do TED Talk (2020). Um exemplo forte do afrofuturismo na cultura pop recente é a Wakanda de “Pantera Negra”, que mistura tecnologia e ancestralidade.

Bebendo um pouco da fonte do afrofuturismo, outro movimento tem ganhado força no sentido de mostrar futuros possíveis aos seus povos: o amazofuturismo. O termo ainda é novo, mas vem sendo defendido por artistas amazônidas das mais diversas expressões. O autor do romance “Amazofuturismo”, Rogério Pietro, define o termo como um subgênero da ficção científica, e atribui sua criação ao ilustrador João Queiroz, em 2019.

A artista divide seu trabalho em dois momentos: o primeiro deles utiliza a técnica da colagem com influências afrofuturistas. Moara utilizava fotografias do acervo do Instituto Moreira Salles, datadas do século XIX. “Eram tiradas muitas fotos científicas de indígenas de forma exotizada, focavam em um lugar de exótico, de que estavam morrendo e seriam extintos. Me deparo com essas imagens feitas por europeus e me aproprio delas na colagem”, explica a artista.

“Por eu não ter um álbum da minha família, dos meus ancestrais, acabo vendo como minha família, e trago como um altar que crio no futuro, onde estão empoderadas, protagonizando suas histórias e onde possam construir suas narrativas”, explica Moara. 

Na segunda fase de seu trabalho, a artista tem focado em trazer mais mulheres indígenas para o centro de suas narrativas, formando também outras mulheres que tenham interesse em se tornar artistas. Dessa forma, Moara fortalece uma das vertentes que o amazofuturismo traz do afrofuturismo: de perspectivas sobre futuros de povos indígenas construídas a partir de seus próprios olhares.

Outro artista visual que carrega o amazofuturismo de resistência em seu trabalho é Jean Petra. “Eu entendo que o lugar que a gente vive traz muitas cargas que não vem só do afro, tem também os povos originários do Brasil. É muito legal ter essa dualidade de coisas, uma mistura de referências”, defende.

Jean vê o amzofuturismo em seu trabalho como uma combinação entre entre elementos ancestrais da cultura amazônica e afro, com técnicas que envolvem diretamente ferramentas tecnológicas como o 3D, no que vem focando seu trabalho recentemente.

O artista relembra ainda um de seus trabalhos recentes intitulado “Nheengatu”, aprovado em um edital da galeria digital Homeostasis Lab. Trata-se de uma colagem que faz referência à língua utilizada entre os Cabanos para se articularem e dar vida à Revolta dos Cabanos, uma das revoltas mais importantes do Brasil, que aconteceu no Pará.

“O nosso passado também é nosso futuro. Sinto falta dessa raiva dos Cabanos, dessa revolta, e me inspirou muito para fazer essa arte. Nosso passado pode fazer muita diferença no nosso futuro, e essas pesquisas que a gente faz são voltadas para esse sentido”, defende Jean, que também fala do poder de resistência que o amazofuturismo carrega com seus elementos.

“No fim das contas a gente pode brincar com tudo ao mesmo tempo. Quando a gente traz esses elementos é mais uma questão de resistência para deixar registrado o que a gente é, as nossas cargas. É muito forte e muito bonito”, diz.

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