Tradutores se preparam para alta demanda com a chegada da COP 30 em Belém
Na capital paraense, esses profissionais comentam as expectativas para o setor este ano.
A proximidade da COP 30, marcada para novembro de 2025, já provoca movimentações no mercado de tradução em Belém. O evento, que deve atrair participantes do mundo inteiro, está sendo visto como uma oportunidade para tradutores e intérpretes, que esperam um aumento expressivo na demanda por serviços de tradução de materiais e interpretação em tempo real. Na capital paraense, esses profissionais comentam as expectativas para o setor este ano.
Segundo Kyria Monteiro, tradutora e intérprete de inglês há 15 anos, a expectativa é que a necessidade por esses serviços cresça não apenas para atender ao evento, mas também em atividades paralelas, como o treinamento de equipes em estabelecimentos comerciais, tradução de cardápios e materiais promocionais, e guias turísticos. “O mercado de tradução sempre teve espaço com trabalhos acadêmicos, artigos científicos e materiais técnicos. Mas agora, com a COP 30, isso vai se intensificar, principalmente na área de interpretação, para que restaurantes, bares e pontos turísticos estejam preparados para receber pessoas do mundo inteiro”, explica Kyria.
Thaís Azevedo, tradutora há 10 anos, também vê um cenário positivo para o mercado local. “O mercado atualmente está bem em alta, justamente por conta da COP 30. Desde o ano passado (2024), já havia crescido bastante a demanda de traduções simultâneas, com eventos internacionais que aconteceram no Hangar ao longo do ano.”
Kyria alerta para a necessidade de antecipação. Segundo ela, muitos estabelecimentos ainda não começaram a se preparar para a chegada dos visitantes. “Em cima da hora, fica desorganizado. Não adianta só traduzir cardápios ou contratar alguém para o evento. É necessário um planejamento para que os funcionários estejam preparados e saibam como interagir com os turistas, transmitindo nossa cultura de maneira autêntica e bem estruturada.”
Thaís Azevedo complementa que a expectativa para o ano de 2025 é de um aumento ainda maior na demanda. “Acredito que esse ano irá aumentar ainda mais, pois estamos com os olhos do mundo inteiro voltados para a Amazônia, e mais especificamente para Belém. Quando falamos de tradução, normalmente pensamos em Inglês-Português, mas acredito que a demanda irá crescer muito para outros idiomas além do inglês, como francês, alemão, mandarim etc. Então acho que vai ser um cenário rico para quem também fala esses outros idiomas menos ‘comuns’.”
O impacto da COP 30 no turismo e na tradução
Além de representar um marco ambiental, a COP 30 também coloca Belém em evidência no cenário turístico internacional. Nos últimos meses, a cidade já observou um aumento na chegada de cruzeiros. Kyria, que também atua como guia turística, relata que um navio com 600 turistas dos Estados Unidos aportou na cidade em janeiro, e outros estão programados para os próximos meses. “Essa demanda maior está diretamente ligada à visibilidade que Belém está ganhando por ser sede da COP 30. Isso reflete tanto no turismo quanto na tradução e na interpretação, já que muitos desses visitantes não falam português.”
Thaís também observa que a COP 30 não só beneficia o mercado de tradução, mas traz uma visibilidade única para a cidade. Ela acredita que a preparação para o evento também vai trazer benefícios a longo prazo: “Acredito que estamos com a faca e o queijo nas mãos. Estamos com a visibilidade necessária para tornar Belém referência em Amazônia para o resto do mundo. Mas precisamos manter o investimento que tem sido feito nas áreas de turismo e, especialmente, nos cursos de inglês que têm sido ofertados pelo governo do estado para os profissionais dessa área.”
Preparação e desafios
De acordo com Kyria, o treinamento de profissionais que atuam no setor de serviços e turismo é um ponto-chave. Ela enfatiza que não basta dominar o inglês; é necessário ter conhecimento sobre a cultura local e saber como comunicá-la de forma clara e atrativa. “Os tradutores precisam se preparar com vocabulário voltado para o turismo e para a nossa cultura. Saber como traduzir pratos típicos, como filhote ou maniçoba, ou explicar a história de pontos turísticos, como o Forte do Castelo ou a Igreja da Sé, é fundamental para transmitir uma experiência rica e única aos visitantes.”
Thaís Azevedo, que também é professora de inglês e estudante de pós-graduação, tem se preparado para o aumento da demanda. “Acredito que o maior desafio seja conciliar a agenda do trabalho regular com os trabalhos ‘extras’ que vão surgir com a COP, mas a gente vai ajustando. Para além disso, também é importante fazer cursos para se manter atualizada.”
Outro desafio mencionado por Kyria é a organização de processos seletivos para contratação de tradutores e intérpretes. Segundo ela, muitos profissionais com experiência de mercado ainda não foram acionados para atuar na COP 30, e há poucos editais abertos para essa área. “Seria ideal que houvesse uma seleção organizada, valorizando os profissionais qualificados, para que a experiência dos visitantes seja positiva e Belém possa ser reconhecida como um destino de excelência.”
Oportunidades para tradutores
O mercado de tradução em Belém já apresenta movimentação crescente, impulsionado não apenas pela COP 30, mas também por um interesse maior na cidade como destino turístico. Além dos serviços mais tradicionais, como tradução de documentos acadêmicos e técnicos, os tradutores têm encontrado novas oportunidades em nichos como o aluguel de imóveis para turistas. “Proprietários de imóveis no Airbnb estão contratando tradutores para facilitar a comunicação com os turistas, o que é uma demanda relativamente nova no mercado local”, afirma Kyria.
Para os próximos meses, a expectativa é que a demanda por tradutores e intérpretes continue a crescer, principalmente no segundo semestre, quando os preparativos para o evento entrarão em sua fase final. Kyria reforça a importância de iniciativas públicas e privadas para capacitar equipes e organizar a recepção dos visitantes. “Se estivermos preparados, a COP 30 será uma oportunidade única de mostrar o potencial de Belém para o mundo. Mas é preciso começar agora, porque o tempo está passando rápido e a organização será determinante para o sucesso do evento.”