COP 30: descarte de caroços de açaí vira desafio na busca por soluções sustentáveis em Belém
Empresas especializadas e pesquisas acadêmicas apontam caminhos para o reaproveitamento do resíduo gerado pelos batedores do fruto
O descarte de caroços de açaí segue como um desafio para os vendedores do fruto em Belém. Enquanto alguns comerciantes pagam empresas especializadas para a coleta, outros conseguem esse serviço gratuitamente. Contudo, em muitos casos, os resíduos acabam acumulando nas calçadas e ruas da cidade, tornando-se um problema ambiental e de saúde pública.
A empresa responsável pelo recolhimento dos resíduos sólidos de Belém explicou, em nota, que os caroços de açaí são recolhidos juntamente com a coleta do lixo doméstico em toda a cidade, desde que dentro do limite especificado de até 200 litros/dia. Quando esse volume é excedido – o que geralmente acontece com grandes batedores de açaí – a empresa orienta que os responsáveis o armazenem em ecobags e contratem empresas especializadas para o seu recolhimento, dando o destino adequado ao este material.
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Na Feira da 25, Leoclides Andrade, 69 anos, vende açaí há quase três décadas. Ele precisa pagar R$ 30 para adquirir uma bag e mais R$ 30 pelo recolhimento dos resíduos. "São milhares de lojas de açaí. As empresas fazem uma relação e saem coletando", relatou. Assim como Edson, Leoclides reforça a preocupação com a limpeza do local.
Já Lays Sampaio, 36 anos, também trabalha na Feira do Açaí e bate o fruto há quatro anos. Recentemente, conseguiu parcerias para que a coleta fosse feita sem custo. "Antes, pagava R$ 30 por volume de bag, mas percebi que havia alta demanda pelo caroço e fui atrás de parceiros", disse. Para ela, o resíduo poderia ser reaproveitado de forma mais produtiva, como no artesanato ou na produção de adubo.
Universidades propõem soluções sustentáveis
A Universidade Federal do Pará (UFPA) está desenvolvendo pesquisas para transformar os caroços de açaí e tucumã em bio-óleos, biocombustíveis, biocarvão e até ligantes para asfalto. O projeto Sustenbio Energy, conduzido por um grupo de pesquisadores interinstitucional, busca valorizar as cadeias produtivas sustentáveis do açaí e do tucumã nos estados do Pará e Amazonas.
Os ensaios ocorrem no Laboratório de Transformação e Valorização de Resíduos Agroindustriais da UFPA, que conta com financiamento do CNPq e da Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e Pesquisas (Fapespa). A pesquisa, iniciada em 2016, já avançou na caracterização dos resíduos e está na fase de testes para obtenção de biocombustíveis e bioasfalto.
O professor Nélio Teixeira Machado, coordenador do projeto, explica que os testes mostram grande potencial para a produção de gasolina verde, querosene e diesel sustentáveis, além de produtos com propriedades antioxidantes e farmacológicas.
"Já realizamos estudos avançados sobre a composição físico-química desses materiais e estamos iniciando a fase prática para avaliar a viabilidade econômica e os benefícios sociais dessa inovação com o caroço de açaí", afirmou o professor Nélio.
O estudo também envolve a Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA), a Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa), a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e a Universidade do Estado do Amazonas (UEA), consolidando um esforço conjunto para fortalecer as cadeias produtivas amazônicas. Além disso, os pesquisadores realizam um mapeamento da quantidade de caroços descartados na Região Metropolitana de Belém, utilizando ferramentas de geolocalização e entrevistas com vendedores de açaí.
A cobertura da COP 30 envolve todos os veículos do Grupo Liberal, com dezenas de profissionais comprometidos em divulgar as notícias do evento. O projeto tem patrocínio da Hydro, Agropalma e Grupo Status, e apoio da Vale.