CONTINUE EM OLIBERAL.COM
X

COP 30: descarte de caroços de açaí vira desafio na busca por soluções sustentáveis em Belém

Empresas especializadas e pesquisas acadêmicas apontam caminhos para o reaproveitamento do resíduo gerado pelos batedores do fruto

Dilson Pimentel
fonte

O descarte de caroços de açaí segue como um desafio para os vendedores do fruto em Belém. Enquanto alguns comerciantes pagam empresas especializadas para a coleta, outros conseguem esse serviço gratuitamente. Contudo, em muitos casos, os resíduos acabam acumulando nas calçadas e ruas da cidade, tornando-se um problema ambiental e de saúde pública.

A empresa responsável pelo recolhimento dos resíduos sólidos de Belém explicou, em nota, que os caroços de açaí são recolhidos juntamente com a coleta do lixo doméstico em toda a cidade, desde que dentro do limite especificado de até 200 litros/dia. Quando esse volume é excedido – o que geralmente acontece com grandes batedores de açaí – a empresa orienta que os responsáveis o armazenem em ecobags e contratem empresas especializadas para o seu recolhimento, dando o destino adequado ao este material.

VEJA MAIS

image Estudantes estaduais em Breves criam filtro com caroço de açaí
Além de transformar água da chuva em água potável, o projeto integra outras atividades sustentáveis envolvendo a comunidade escolar

image Marca de calçados de Castanhal usa borracha e caroço de açaí para fabricação de tênis sustentável
Os calçados passarão a ser vendidos em 2025 na Europa. Uma pré venda já foi realizada para uma loja da Suíça

image Biofertilizantes de caroço de açaí são produtos de projeto da Escola Vilhena Alves em Belém
Escola desenvolve uma incubadora de produtos e serviços voltados para bioeconomia

A rotina dos batedores de Belém

Edson Calandrini, 38 anos, trabalha há 18 anos na venda de açaí no bairro da Pedreira. Ele produz cerca de 100 quilos do fruto diariamente e conta com uma empresa que coleta os caroços sem custo. "Fecho a bag todo dia porque, se deixo aberto, jogam lixo junto. Esse caroço é reaproveitado", explicou. Além disso, ele destaca a importância de evitar que o resíduo se espalhe nas calçadas, reduzindo riscos de acidentes.

image Edson Calandrini, 38 anos, disse que os caroços de açaí que descarta são coletados por uma empresa. Ele não paga por esse serviço (Foto: Adriano Nascimento/Especial para O Liberal)

Na Feira da 25, Leoclides Andrade, 69 anos, vende açaí há quase três décadas. Ele precisa pagar R$ 30 para adquirir uma bag e mais R$ 30 pelo recolhimento dos resíduos. "São milhares de lojas de açaí. As empresas fazem uma relação e saem coletando", relatou. Assim como Edson, Leoclides reforça a preocupação com a limpeza do local.

Já Lays Sampaio, 36 anos, também trabalha na Feira do Açaí e bate o fruto há quatro anos. Recentemente, conseguiu parcerias para que a coleta fosse feita sem custo. "Antes, pagava R$ 30 por volume de bag, mas percebi que havia alta demanda pelo caroço e fui atrás de parceiros", disse. Para ela, o resíduo poderia ser reaproveitado de forma mais produtiva, como no artesanato ou na produção de adubo.

image Antes, Lays Sampaio pagava uma empresas coletar os caroços de açaí. Agora, não paga mais por esse serviço (Foto: Adriano Nascimento/Especial para O Liberal)

 

Universidades propõem soluções sustentáveis

A Universidade Federal do Pará (UFPA) está desenvolvendo pesquisas para transformar os caroços de açaí e tucumã em bio-óleos, biocombustíveis, biocarvão e até ligantes para asfalto. O projeto Sustenbio Energy, conduzido por um grupo de pesquisadores interinstitucional, busca valorizar as cadeias produtivas sustentáveis do açaí e do tucumã nos estados do Pará e Amazonas.

Os ensaios ocorrem no Laboratório de Transformação e Valorização de Resíduos Agroindustriais da UFPA, que conta com financiamento do CNPq e da Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e Pesquisas (Fapespa). A pesquisa, iniciada em 2016, já avançou na caracterização dos resíduos e está na fase de testes para obtenção de biocombustíveis e bioasfalto.

O professor Nélio Teixeira Machado, coordenador do projeto, explica que os testes mostram grande potencial para a produção de gasolina verde, querosene e diesel sustentáveis, além de produtos com propriedades antioxidantes e farmacológicas.

"Já realizamos estudos avançados sobre a composição físico-química desses materiais e estamos iniciando a fase prática para avaliar a viabilidade econômica e os benefícios sociais dessa inovação com o caroço de açaí", afirmou o professor Nélio.

O estudo também envolve a Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA), a Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa), a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e a Universidade do Estado do Amazonas (UEA), consolidando um esforço conjunto para fortalecer as cadeias produtivas amazônicas. Além disso, os pesquisadores realizam um mapeamento da quantidade de caroços descartados na Região Metropolitana de Belém, utilizando ferramentas de geolocalização e entrevistas com vendedores de açaí.

Entre no nosso grupo de notícias no WhatsApp e Telegram 📱
COP 30
.
Ícone cancelar

Desculpe pela interrupção. Detectamos que você possui um bloqueador de anúncios ativo!

Oferecemos notícia e informação de graça, mas produzir conteúdo de qualidade não é.

Os anúncios são uma forma de garantir a receita do portal e o pagamento dos profissionais envolvidos.

Por favor, desative ou remova o bloqueador de anúncios do seu navegador para continuar sua navegação sem interrupções. Obrigado!