MENU

BUSCA

COP 30 gera expectativa para artesanato de miriti em Abaetetuba

Abaetetuba é considerada a capital mundial do miriti ; expectativa é criar milhares de peças durante o evento

Dilson Pimentel

O artesão Josiel Gomes, que produz brinquedos de miriti em Abaetetuba, no nordeste do Pará, já está na expectativa da COP 30, que será realizada, em novembro deste ano, em Belém. Abaetetuba é considerada a capital mundial do miriti. E seu artesanato de miriti é conhecido no Pará, no Brasil e, também, em algumas partes do mundo. E, desde 2010, esse tipo de artesanato é considerado Patrimônio Cultural Imaterial do Estado do Pará, pela Lei Estadual 7.433/2010.

O artesanato de miriti produzido pelos artesãos de Abaetetuba é um dos principais elementos do Círio de Nazaré. No começo, a produção, inclusive, era voltada basicamente para o Círio de Nazaré, em outubro. Mas, de alguns anos para cá, essa produção ocorre ao longo de todo o ano, dependendo da temática da época.

VEJA MAIS

Aos 72 anos, entalhadora de miriti mantém viva tradição nazarena
Dona Pacheco é uma das forças femininas que aprendeu, com outras mulheres, a produzir peças de artesanato a partir do “isopor da Amazônia”

Círio 2023: artesãos de Abaetetuba aceleram produção para garantir tradição dos brinquedos de miriti
Eles estão correndo contra o tempo porque, em maio deste ano, houve o Festival do Miriti, naquele município, durante o qual os artesãos venderam todo o estoque de brinquedos

Josiel Gomes, 35, tem mais de 10 anos de profissão. Ele confecciona pássaros regionais e os brinquedos tradicionais, como o barquinho, as canoas referentes ao Círio. “Enfim, as coisas que representam a nossa cultura, a nossa Amazônia”, contou. A produção dele é feita em seu ateliê, que fica no interior de Abaetetuba, no rio Itacuruçá, onde vive uma comunidade quilombola, distante, de barco, uma hora e meia da sede da cidade. Aos domingos, ele vende seu artesanato na praça da República, em Belém.

“A gente vende através das encomendas e uma outra parte a gente vende aqui em Belém”, contou. Josiel Gomes disse que o sustento dos artesãos vem da produção do artesanato de miriti. “A gente está tirando 30% da produção e já estocando para a COP 30”, contou. A sua expectativa é comercializar, nesse grande evento que será realizado em novembro, de 1.200 a 1.500 peças. A temática será produzir canoas com ribeirinhos.

A realização da COP 30 também está sendo uma fonte de inspiração para os artesãos de Abaetetuba. “Na minha comunidade, que é quilombola, já estamos nos programando com feiras, reuniões, várias coisas referentes à COP 30”, contou. Como ocorre muito em Abaetetuba, o artesanato de miriti é uma arte que passa de pai para filho. “Meu pai (José Maria, que é vivo) começou. Mas, quando o meu pai trabalhava, ele não vendia assim para sustentar a família. Era só apenas um hobby dele para passar o tempo”, contou. “Eu já utilizo outros materiais melhores, a tinta original, e já faço pra sustentar a minha família”, contou. Em Abaetetuba, cada artesão tem uma assinatura. Há aqueles que se especializam, por exemplo, em fazer jacarés, canoas, artigos religiosos e pássaros.

"Gosto dos pássaros porque representam a nossa fauna", diz artesão

“A minha assinatura são pássaros. Gosto muito de fazer pássaros porque me identifico bastante com uma arara dessa aqui, essa linda e maravilhosa arara azul, que é o símbolo da nossa floresta”, contou, enquanto mostrava sua produção. “A coisa da preservação, cuidar do meio ambiente”, contou. “Então hoje, as pessoas não estão cuidando muito da floresta, e eu gosto muito dos pássaros porque representa bastante a nossa fauna”, disse.

Josiel Gomes disse que os preços de seus produtos variam de acordo com a quantidade. “Se a pessoa encomenda uma certa quantidade, a gente faz um abatimento no valor”, explicou. Em sua banca há peças de R$ 7 a R$ 150, dependendo do tamanho e da complexidade do trabalho. Para produzir um pássaro grande, leva metade do dia, porque depende da secagem do material.

A macia polpa ou bucha da palmeira, após a retirada da casca de talas que a envolve, é suporte para a fabricação do tradicional brinquedo de miriti, joia do artesanato artístico que é símbolo do município de Ababetetuba. A produção desse artesanato envolve milhares de artesãos.

Reportagens publicadas pelo Grupo Liberal já mostraram que o brinquedo de miriti é um dos elementos mais importantes do Círio de Nazaré. Levantamentos históricos apontam que, já na realização do primeiro Círio, no século 18, esse tipo de artesanato estava presente nessa manifestação de fé católica realizada em homenagem à padroeira dos paraenses. O miritizeiro é uma palmeira abundante naquela região. É uma árvore que serve como meio de subsistência, para produzir cestaria, material de artesanato, complemento na construção de habitações, além de ser fruto de agradável sabor.

COP 30