COP 30: discussão precisa se conectar às realidades locais, avalia pesquisadora do Pará

Anna Mathis, que participou da COP 29, no Azerbaijão, fala sobre as expectativas para a próxima edição da Conferência, em Belém

Gustavo Freiras
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Nos estúdios de O Liberal, a mestra em ciência política Anna Mathis trouxe relatos sobre a experiência na 29ª edição da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 29), em Baku, no Azerbaijão, e falou sobre as expectativas para a COP 30 com a Amazônia como palco global. A próxima conferência climática carrega o peso de entregar avanços concretos em questões como redução de emissões e financiamento para preservação, especialmente após as críticas direcionadas à edição no Azerbaijão.

O resultado final da COP 29 foi amplamente criticado devido à sua falta de ambição em enfrentar a crise climática. Embora tenha sido acordado um financiamento anual de US$ 300 bilhões até 2035 para ajudar países em desenvolvimento, o valor ficou muito aquém dos US$1,3 trilhão defendidos por essas nações, que enfrentam os impactos mais severos das mudanças climáticas

Em Baku, um dos temas mais discutidos foi a transição energética e o papel do petróleo nesse cenário. Apesar da pressão de grupos ambientalistas e de lideranças indígenas, os resultados ficaram aquém do esperado. Segundo Anna Mathis, “a COP 29 trouxe à tona a urgente necessidade de um compromisso global pelo fim da exploração de petróleo e combustíveis fósseis". Para ela, a discussão global precisa ser conectada às realidades locais, especialmente em países com vastos recursos naturais.

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Difícil debate sobre financiamento não deixou espaço para mais avanços nas reuniões realizadas em Baku, no Azerbaijão

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A Conferência de 2024 era voltada para a discussão de financiamento para conter as mudanças climáticas, mas o resultado não agradou as instituições internacionais

Sobre a infraestrutura, Mathis relatou que o evento foi inteiramente realizado no estádio olímpico de Baku, com poucos espaços para a participação popular. “Tinham placas falando da COP, mas você não tinha uma organização da sociedade civil. A COP 16 em Cali, na Colômbia, ela incorporou muito mais a sociedade, os movimentos sociais, comunidades indígenas e você via muito isso dentro da cidade. Isso é muito importante e simbólico, a COP é um processo internacional, mas é também um processo para você pensar, também, a cidade”, afirmou.

Outro ponto sensível abordado na última conferência foi a falta de representatividade indígena nas decisões climáticas. A Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB) levantou a proposta de uma copresidência indígena na COP 30, algo inédito e que, segundo Mathis, seria um marco histórico. “Uma reivindicação importantíssima defendida na COP 29 pela COIAB é de uma copresidência indígena na COP 30, essencial para garantir que os povos indígenas, que são os maiores guardiões da floresta, tenham voz nas decisões globais. Além disso, quando falamos sobre financiamento, vimos a ministra Sonia Guajajara defender um projeto para que os financiamentos chegassem diretamente às comunidades indígenas, que hoje recebem apenas 1% dos recursos destinados à preservação.”

Marcada para ocorrer entre os dias 10 e 21 de novembro de 2025, a COP-30 deve atrair representantes de quase 200 países, além de líderes indígenas, ambientalistas e membros da sociedade civil. Para além das negociações formais, o evento promete transformar Belém em um centro global de discussões climáticas, com soluções a partir da Amazônia.

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