‘A educação ambiental é a chave para a transformação da região’, diz Semíramis Biasoli
A secretária-geral do Fundo Brasileiro de Educação Ambiental conversou com exclusividade com o Grupo Liberal e contou como o fundo se prepara para o grande evento climático e quais as expectativas.
No ano em que a Amazônia se torna o centro das discussões globais sobre mudanças climáticas, com a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 30) prestes a acontecer em Belém, o Fundo Brasileiro de Educação Ambiental intensifica sua atuação na região com o objetivo de fomentar a educação ambiental e promover ações de sustentabilidade. Em entrevista exclusiva ao Grupo Liberal, Semíramis Biasoli, Secretária-Geral do Fundo, falou sobre as ações do fundo, a importância da COP 30 para a Amazônia e o papel da educação ambiental na construção de um futuro mais sustentável.
“A COP 30 representa uma oportunidade única para a Amazônia, e o Fundo está comprometido em promover ações que garantam que as comunidades mais vulneráveis da região não sejam deixadas para trás”, afirmou Semírames Biasoli.
Durante a entrevista, Semírames destacou as principais iniciativas do Fundo para a COP 30, com ênfase na mobilização das comunidades tradicionais e no fortalecimento da educação ambiental como ferramenta para combater a crise climática. Ela ressaltou ainda o papel crucial das políticas públicas, da justiça ambiental e da inclusão social nas discussões sobre mudanças climáticas. “É fundamental que o Brasil, especialmente a Amazônia, se posicione como líder no combate às mudanças climáticas, não apenas na preservação da biodiversidade, mas também na promoção de uma transição justa e equitativa”, completou.
Confira a entrevista:
Como você avalia a importância da COP 30 para a Amazônia e para o Brasil?
Semíramis Biasoli: A COP 30 é um evento muito importante, pois coloca a Amazônia no centro das discussões globais sobre mudanças climáticas. O Brasil, ao sediar a COP 30, tem uma responsabilidade enorme, tanto para cumprir compromissos ambientais quanto para reforçar a relevância da Amazônia como um ativo global. A Amazônia, além de ser um dos maiores biomas do mundo, é essencial na regulação do clima e no combate ao aquecimento global. Sua preservação é crucial não só para o Brasil, mas para o planeta. Então, a COP 30 é uma oportunidade para o país se reposicionar globalmente, reforçar seus compromissos com a sustentabilidade e mobilizar recursos para a preservação da floresta e o desenvolvimento sustentável.
O que você acha que este ano representa para o Fundo esses evento que antecedem esse grande evento? Quais são as pautas mais urgentes para a região amazônica sob a perspectiva da COP?
Bom, não vou falar apenas da Amazônia, mas do planeta como um todo, porque a COP precisa considerar o equilíbrio climático global. As pré-COPs, como chamamos são fundamentais nesse contexto, reunindo diversos setores para discutir a crise climática e construir soluções. Esse movimento precisa acontecer em cada território, incluindo Belém e a Amazônia, garantindo que a sociedade civil tenha mais voz. No entanto, a Amazônia tem um papel crucial por sua biodiversidade e contribuição ao clima. Além dela, é essencial dar visibilidade a outros biomas, como o Cerrado, que abriga importantes aquíferos, mas sofre com o desmatamento e a monocultura – um problema que também cresce na Amazônia, agora com o açaí. O primeiro passo é trazer essa pauta para o cotidiano, e a COP tem ajudado nisso. Mas precisamos ir além e entender as causas da crise climática, que estão no nosso modelo de produção. Exaurimos recursos naturais, comprometendo a biodiversidade e elevando as temperaturas globais. Por fim, um tema essencial para a COP 30 é o combate ao racismo ambiental, garantindo que as populações mais afetadas tenham participação ativa nas decisões.
O que significa para o Brasil ser anfitrião da COP 30?
Ser anfitrião da COP 30 coloca o Brasil em uma posição de liderança nas discussões sobre clima e meio ambiente. Isso é uma oportunidade única para destacar as ações do país na preservação da Amazônia, promover projetos sustentáveis e buscar novas formas de crescimento econômico que estejam alinhadas com a preservação ambiental. A COP 30 pode ajudar a fortalecer a imagem do Brasil como um líder na agenda climática global e promover a colaboração entre diferentes setores – governo, empresas, sociedade civil e comunidades locais – para enfrentar os desafios ambientais.
Como o Brasil pode impulsionar ações efetivas durante a COP 30?
O Brasil precisa utilizar a COP 30 como uma plataforma para não só reforçar seus compromissos de redução de emissões e preservação dos biomas, mas também para propor ações concretas. Isso inclui a promoção de tecnologias limpas, o aumento do financiamento para a proteção ambiental, e o fortalecimento de políticas públicas que incentivem práticas sustentáveis. É fundamental que o Brasil mostre ao mundo que é possível conciliar crescimento econômico com preservação ambiental, utilizando a Amazônia como um exemplo de desenvolvimento sustentável.
Qual o papel do fundo nesse cenário de sustentabilidade?
A FunBEA, como um elo entre o setor público e privado, tem trabalhado para desenvolver soluções práticas que ajudem a mitigar os impactos das mudanças climáticas. Nosso papel é apoiar projetos que promovam a regeneração e preservação ambiental, além de incentivar a criação de políticas públicas que contribuam para a redução de emissões e proteção dos biomas. A FunBEA busca também garantir que as comunidades locais se beneficiem de iniciativas sustentáveis, fortalecendo a economia local e promovendo a inclusão social.
Quais foram os principais acordos ou avanços conquistados na COP 29? Houve algum progresso relevante?
Havia uma grande expectativa de que a questão do financiamento climático ganhasse mais robustez, com acordos mais audaciosos, mas essa pauta não avançou. Pelo contrário, acabou sendo postergada para a COP 30. Agora, esperamos que o tema seja tratado com maior seriedade, no sentido de garantir que recursos e políticas públicas prioritárias para o enfrentamento da crise climática sejam direcionados para o campo socioambiental.
Infelizmente, no ano passado, os resultados ficaram aquém do esperado. Ainda assim, foi um passo importante, porque as conferências precisam acontecer e os acordos precisam ser firmados. Um exemplo claro da importância desses compromissos foi a saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris durante o governo Donald Trump, retirando um ator essencial das negociações climáticas.
Isso representou uma grande derrota para a humanidade, pois os Estados Unidos têm uma responsabilidade enorme, especialmente em relação à emissão de gases de efeito estufa. Ao sair de um organismo que tem justamente o compromisso de promover estudos, incentivar pesquisas e viabilizar acordos eficazes para o enfrentamento da crise climática, demonstram uma incompreensão da gravidade do problema — tanto por parte da população quanto, às vezes, até mesmo de líderes políticos, como o próprio presidente dos Estados Unidos.
Quais as perspectivas para a Amazônia nos próximos anos?
A perspectiva para a Amazônia é que, a partir da COP 30, o Brasil possa fortalecer suas políticas ambientais e obter maior apoio internacional para combater o desmatamento ilegal, incentivar o reflorestamento e garantir a sustentabilidade da região. A Amazônia é uma prioridade global devido ao seu impacto direto no equilíbrio climático do planeta. O Brasil precisa investir em soluções que tragam benefícios para as comunidades locais, ao mesmo tempo em que preserva a floresta e promove o uso sustentável de seus recursos. As políticas públicas e os investimentos precisam estar alinhados com as metas do Acordo de Paris para garantir a preservação a longo prazo.
Como garantir que o desenvolvimento econômico da Amazônia seja sustentável?
Garantir que o desenvolvimento econômico da Amazônia seja sustentável requer um planejamento estratégico, alinhando as atividades econômicas com práticas ambientais responsáveis. Isso envolve a promoção de atividades como a agricultura sustentável, o manejo florestal responsável e a bioeconomia, além de investir em tecnologias limpas e no uso sustentável dos recursos naturais. Também é fundamental que o governo crie políticas públicas que incentivem essas práticas, ao mesmo tempo em que protege as comunidades locais e a biodiversidade da região. O desenvolvimento sustentável na Amazônia depende de um equilíbrio entre crescimento econômico, preservação ambiental e inclusão social.
Qual o papel da sociedade civil e das empresas na preservação da Amazônia?
A sociedade civil tem um papel crucial na mobilização para a proteção da Amazônia, seja por meio de ações de conscientização, pressão política ou apoio a iniciativas de preservação. As empresas também têm um papel importante, não apenas cumprindo com as regulamentações ambientais, mas adotando práticas sustentáveis em seus modelos de negócios. O investimento em tecnologias verdes e a promoção de cadeias produtivas que respeitem o meio ambiente são fundamentais. A colaboração entre governos, empresas, organizações sociais e comunidades locais é essencial para garantir a preservação da Amazônia e o desenvolvimento sustentável da região.
Como o Brasil pode equilibrar as questões ambientais com o desenvolvimento econômico?
Equilibrar as questões ambientais com o desenvolvimento econômico no Brasil exige uma abordagem integrada, que promova práticas sustentáveis em todas as áreas da economia. O Brasil pode se beneficiar do desenvolvimento de tecnologias limpas e de modelos econômicos baseados na preservação ambiental. Além disso, é necessário implementar políticas públicas que incentivem o uso responsável dos recursos naturais e protejam os biomas, ao mesmo tempo em que promovem a geração de empregos e o crescimento econômico. A chave está em desenvolver soluções que beneficiem tanto o meio ambiente quanto a população, garantindo que o progresso seja duradouro e inclusivo.
Qual é a importância da colaboração entre o Brasil e a comunidade internacional na preservação da Amazônia?
A colaboração entre o Brasil e a comunidade internacional é fundamental, pois a Amazônia não é apenas uma responsabilidade do Brasil, mas de todo o planeta. O apoio internacional pode ser decisivo para fornecer recursos financeiros, tecnologia e expertise para enfrentar os desafios ambientais da região. Além disso, a cooperação internacional pode ajudar o Brasil a cumprir seus compromissos climáticos e a fortalecer políticas públicas que promovam o desenvolvimento sustentável. A preservação da Amazônia é um esforço coletivo, e a parceria entre países é essencial para garantir seu futuro.
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