COP 29: Dia dos Povos Indígenas reúne lideranças do Pará e do mundo em busca de mais espaço
O objetivo dos grupos presentes no evento é fortalecer as vozes e a participação dos povos indígenas nas COPs
O penúltimo dia da 29ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 29), em Baku, no Azerbaijão, nesta quinta-feira (21), contou com uma programação voltada para os povos indígenas. Embora não tenha havido muita mobilização, já que as manifestações no país ocorrem sob restrições, o Dia dos Povos Indígenas na COP 29 reuniu diversas lideranças do Pará e do mundo todo.
Quem participou da agenda foi Alessandra Korap, liderança indígena do povo Munduruku, no território paraense. “A gente está aqui neste espaço gritando, falando o que está acontecendo, que é a seca, a fumaça, a queimada, peixes mortos, rios desaparecendo, então estar neste momento é ter vozes também para nos ouvir”, pontua ao Grupo Liberal.
Os povos indígenas brasileiros participam da Conferência desde os primeiros dias e lançaram uma aliança de cooperação com ilhas do Pacífico e Austrália, candidata a sediar a COP 31, em 2026. O objetivo é fortalecer as vozes e a participação dos povos indígenas nesses eventos da ONU.
Autoridades indígenas
Coordenadora das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), Alana Manchieri diz que a herança para a COP 30 é enxergar que as autoridades, ou seja, os presidentes dos países, não têm a competência de firmar compromissos que vão fazer a diferença para barrar as mudanças climáticas que as autoridades indígenas têm, segundo ela.
“Temos pautado a não proliferação de combustíveis fósseis e que os países, de fato, tenham compromissos reais, não simplesmente de papel, que às vezes não têm um efeito prático nos territórios. A questão do petróleo, do potássio, do gás nos seus territórios, a gente tem trazido essa pauta de que não adianta os presidentes estarem colocando como pauta a questão das mudanças climáticas se, nos territórios, eles estão executando outras práticas”, afirma.
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Já Alessandra Korap completa: “A gente está aqui e não é fácil. A gente que mora na base, nos territórios, não tem muito acesso a informações como a internet, até televisão, e muitas vezes não sabe o que é uma Conferência do Clima. Quando se decide aqui em cima, o povo não sabe e muitas vezes nós não somos consultados”.
A assessora jurídica da Organização Terra de Direitos, Bruna Balbi, reforça que quem mais sente os efeitos das mudanças climáticas está nos territórios, na “ponta”, respirando a fumaça das queimadas, e que todas as discussões que estão ocorrendo na COP 29 reverberam também nos territórios.
“A nossa intenção é que a COP seja cada vez mais acessível para a sociedade civil em geral, mas, principalmente, para os povos indígenas e para as comunidades tradicionais. A gente tem um trabalho muito grande de assessoria jurídica popular na Amazônia, então a gente tem tentado trazer essa linguagem do clima, das COPs, o que é falado aqui, que muitas vezes parece muito distante da realidade que a gente vive nos territórios”.
Texto final da COP
O penúltimo dia da Conferência em Baku começou com novidades. Foi divulgado o primeiro rascunho do texto final da COP, que aponta que alguns debates climáticos avançaram, enquanto outros ainda apresentam lacunas. O dinheiro necessário para países vulneráveis se prepararem para as mudanças climáticas e diminuírem a emissão de poluentes é o assunto principal da COP 29, e o pouco avanço no tópico preocupa especialistas.
Segundo o coordenador internacional da Laclima, Enéas Xavier, é preciso pensar em termos de financiamento climático para atender às necessidades e prioridades dos países em desenvolvimento. “O núcleo da nova meta coletiva quantificada de financiamento climático permanece ainda em aberto, especificamente o valor. Há muitos números sobre a mesa, US$ 400 bilhões, US$ 600 bilhões, US$ 900 milhões, até mesmo a meta de US$ 1,3 trilhão anuais até 2030 com a possibilidade de revisão. O necessário é entender como essa meta vai ser entregue; se através de recursos públicos, de subvenções ou de empréstimos”, destaca.
Faltando apenas um dia para o fim da Conferência em Baku, em meio ao clima de tensão pelo medo de esta ser uma COP que fracassou, alguns seguem esperançosos. Para Xavier, ainda há muito em que se avançar, mas há alguns pontos positivos. “Falta mais um dia ainda pela frente, pode mudar muita coisa. A presidência da COP assumiu esse compromisso de entregar uma meta ambiciosa, audaciosa, que possa fazer frente aos desafios das mudanças climáticas”, adianta o coordenador.