COP 29: Arábia Saudita teria alterado texto oficial, diz Jornal
Segundo o jornal britânico The Guardian, um representante saudita teria realizado mudanças diretas no texto, prática que, em princípio, não deveria ser permitida
A Conferência do Clima das Nações Unidas (COP 29) realizada em Baku, Azerbaijão, vive momentos de tensão após denúncias de interferência da Arábia Saudita na elaboração do documento oficial de negociações. Segundo o jornal britânico The Guardian, um representante saudita teria realizado mudanças diretas no texto, prática que, em princípio, não deveria ser permitida.
Em condições normais, os documentos de negociação são disponibilizados para todos os países em formato PDF não editável, permitindo apenas leitura e discussões subsequentes. Porém, para a delegação saudita, a presidência da COP 29, liderada pelo Azerbaijão, teria permitido um tratamento diferenciado, oferecendo a possibilidade de edição direta.
A diretora do International Climate Politics Hub, Catherine Abreu, expressou sua preocupação com o episódio em entrevista ao Guardian. Segundo Abreu, a postura da presidência da COP 29 ameaça a credibilidade da conferência. "Dar a uma parte acesso para editar esses documentos, e uma parte conhecida por seu objetivo de reverter o acordo global histórico feito no ano passado para a transição dos combustíveis fósseis para energia renovável e eficiência energética, sugere uma preocupante falta de independência e objetividade, e claramente contraria tanto o espírito quanto às regras deste processo", declarou.
A presidência da COP 29, a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC) e a delegação saudita foram contatadas pela imprensa, mas optaram por não se manifestar sobre as acusações.
Impasse no financiamento climático
Além das acusações, a COP 29 enfrenta dificuldades para finalizar um acordo sobre o tema central desta edição: o financiamento climático. O evento, inicialmente programado para encerrar na última sexta-feira (22), teve sua plenária final atrasada, e a reunião foi pausada após cerca de uma hora e meia de discussões.
Países em desenvolvimento reivindicam US$ 1,3 trilhão anuais para ações climáticas, mas a proposta mais recente, apresentada também na sexta-feira, sugere um repasse anual de US$ 250 bilhões até 2035, o que representa apenas uma fração do valor solicitado.
A expectativa é de que as negociações sejam retomadas nas próximas horas, na tentativa de alcançar um consenso antes do encerramento da cúpula. Contudo, a situação permanece delicada, e o risco de uma COP 29 marcada por impasses e desconfiança é cada vez mais real.