RODOLFO MARQUES

RODOLFO MARQUES

Rodolfo Silva Marques é professor de Graduação (UNAMA e FEAPA) e de Pós-Graduação Lato Sensu (UNAMA), doutor em Ciência Política (UFRGS), mestre em Ciência Política (UFPA), MBA em Marketing (FGV) e servidor público.

Narrativas, discursos e retórica na comunicação eleitoral

Rodolfo Marques

Anos eleitorais sempre guardam consigo, para além das questões eleitorais, um conjunto de discursos e narrativas que compõem as manifestações públicas de candidatos, partidos e coligações. O público eleitor tem suas próprias pautas e dita algumas das demandas, mas a classe política, em geral, abarca os caminhos que são mais convenientes a ela. 

A análise do discurso (BRANDÃO, 2012) emerge não somente como um campo linguístico (BOURDIEU, 1977), mas também com vários desdobramentos no contexto político.

Os discursos se forjam como processos de conexão com os diferentes públicos e reforçam componentes ideológicos a partir de conteúdos veiculados no meio acadêmico e na mídia. 

As narrativas, dessa forma, crescem como um importante instrumento de comunicação eleitoral, no uso das plataformas digitais e como uma espécie do “controle da pauta”, usando enquadramentos necessários para fortalecer determinado grupo político. O combate à corrupção, por exemplo, é um assunto que aparece constantemente em momentos eleitorais, como ocorreu em 2018, por exemplo. O pré-candidato Sérgio Moro (Podemos) tende a evocar esse “mantra eleitoral”. Para se fortalecer junto à opinião pública (LIPPMANN, 1922), é comum o uso dessa pauta por vários candidatos e partidos. 

Outros discursos podem ser utilizados, por exemplo, a respeito do contexto pandêmico, vivido a partir de março de 2020, no Brasil. A corrida pelas vacinas e o enfrentamento do cenário pandêmico reforçaram as narrativas de gestores públicos que concorreram ao pleito de 2020 e devem aparecer novamente em 2022. Ao mesmo tempo, em um polo oposto, um discurso negacionista dos efeitos da Covid-19 e na propaganda de remédios ineficazes contra a doença permearam a estratégia do presidente da República, Jair Bolsonaro (PL-RJ). 

Nesse contexto, Bolsonaro manteve sua base de apoio alinhada e mobilizada, através dos discursos e de suas falas públicas contra as medidas restritivas ao coronavírus. Aliás, o presidente da República, em sua campanha à reeleição, deve usar a narrativa de que a pandemia prejudicou e muito a sua campanha e que a crise econômica é derivada das medidas restritivas como o distanciamento físico – e não do contexto pandêmico.

Além disso, as narrativas também se assentam no contexto da chamada “guerra cultural”, perspectiva defendida pelo guru bolsonarista, Olavo de Carvalho, falecido no início de 2022. Para os seguidores dele, caberia aos movimentos de direita fazer uma ação de combate ao comunismo e globalismo, entre outras questões mais alinhadas ao campo progressista, além da defesa dos valores conservadores. Tais discursos permanecem fortes. Recentemente, tal movimento ganhou evidência, com a decisão do Ministério da Justiça em proibir a veiculação do filme “Como se tornar o pior aluno da escola”, do apresentador de TV e comediante Danilo Gentili. A proibição do filme, de 2017, insere-se em um contexto de defender a agenda conservadora e, de certa forma, de dispersar o contexto de um cenário de crise em que o país está inserido. Chama a atenção o fato, também, que Gentili era incensado pelos eleitores bolsonaristas em 2018 – e, em 2019, o presidente foi inclusive entrevistado pelo comediante em seu programa de TV. 

Em outro contexto, há a premissa de pré-candidatos como Ciro Gomes (PDT-CE), que apostam em um discurso de desenvolvimentismo e que ataca, em sua retórica, as duas forças políticas que devem dominar o pleito – o ex-presidente Lula (PT-SP) e Bolsonaro. Lula, por sua vez, investe em defender os avanços sociais obtidos nos seus oito anos de governo – 2003-2006 e 2007-2010 – e as conquistas no campo econômico e no âmbito internacional, além de reforçar a necessidade de evitar um segundo mandato para Bolsonaro. 

Dessa forma, seja para desviar o foco de um ambiente de crise, para fortalecer a conexão com suas bases eleitorais ou para fazer ataques a adversários políticos, a agenda de narrativas,  retóricas e discursos sempre se apresenta como uma essencial estratégia de comunicação eleitoral e reforça a importância de estudos constantes sobre o tema nas áreas da Ciência Política e da Comunicação Social. 

Referências

BOURDIEU, Pierre. L'économie des échanges linguistiques. In: Langue Française, Paris, n. 34. 1977.

BRANDÃO, Helena. Introdução à Análise do Discurso. 3ª ed. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2012.

LIPPMANN, Walter. Opinião Pública. Nova York: MacMillan, 1922.

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