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RODOLFO MARQUES

RODOLFO MARQUES

Rodolfo Silva Marques é professor de Graduação (UNAMA e FEAPA) e de Pós-Graduação Lato Sensu (UNAMA), doutor em Ciência Política (UFRGS), mestre em Ciência Política (UFPA), MBA em Marketing (FGV) e servidor público.

Moro pede demissão, governo continua errático e Brasil lida com instabilidade política e na saúde

Rodolfo Marques

O pedido de demissão do ministro Sérgio Moro, da pasta da Justiça e Segurança Pública, causa um dano praticamente irreversível no governo de Jair Bolsonaro (sem partido), iniciado em janeiro de 2019. Moro era a principal vitrine da gestão federal, não tanto pelos feitos do então ministro – que foram discretos e pouco efetivos, em sua maioria dando continuidade a políticas do ex-presidente Michel Temer (MDB-SP). Moro representava, pois, a imagem de combate à corrupção, muito na esteira da operação Lava-Jato, iniciada em 2014 e que auxiliou – e muito –, nos movimentos antipolítica e antissistema, predominante no pleito de 2018 e, em consequência, na vitória do então candidato Jair Bolsonaro.

No pronunciamento de despedida do ministério, na manhã dessa sexta-feira, 24, Sérgio Moro enfatizou suas divergências com o presidente da República, questionando a demissão do diretor-geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo, a maneira como isso ocorreu e os motivos que levaram à decisão de Bolsonaro. Ficou muito claro, principalmente a partir das palavras de Moro, que o presidente queria, de alguma forma, interferir nas investigações e ações gerais da Polícia Federal, o que por si só é extremamente grave, considerando-se a autonomia da instituições e por não fazer parte das atribuições de um chefe de poder executivo nacional. Um dos principais motivos da contrariedade de Bolsonaro com a chefia da Polícia Federal estaria ligado a supostas investigações em curso contra filhos do presidente, com apurações referentes a supostos envolvimentos deles com milícias (físicas e virtuais) e à propagação de Fake News.

Do ponto de vista político, Moro acabou se colocando como um potencial candidato à presidência da República, em 2022. Ele reforçou, em seu discurso, sua ideia de combater o crime organizado e a corrupção, no geral. E tem a opção também de, neste momento, sair um pouco de cena, reforçar o capital político obtido nos últimos anos e se manter no páreo para ocupar uma cadeira, no Supremo Tribunal Federal (STF), após 2022. Pode se dizer, de certa forma, que Moro "saiu atirando", fortalecendo sua posição junto a um público que sempre lhe foi simpática. O agora ex-ministro sempre gozou de mais popularidade do que o próprio presidente, nos 16 meses em que integrou o governo.

Para a gestão cada vez mais trôpega e desarticulada de Jair Bolsonaro, as contradições já existentes ficaram mais visíveis. Mesmo contrariando o seu discurso de combater a chamada "velha política", Bolsonaro vem flertando com políticos do chamado "Centrão", com a possibilidade de oferecer cargos para obter mais apoio no Congresso Nacional, até mesmo para enfrentar um possível processo de impeachment. Mesmo tardiamente, o presidente percebe que é necessário construir uma base parlamentar, dadas as características da República no Brasil.

Pela parte da tarde de sexta-feira, o presidente Jair Bolsonaro também fez um pronunciamento, com o objetivo de "repor a verdade". Em sua fala, ladeado por vários ministros de Estado, o presidente da República reforçou o seu compromisso com o Brasil. Aproveitou, também, para tentar esvaziar o discurso de Sérgio Moro, insinuando que o ex-ministro se preocupa mais com o seu ego e com a sua biografia – e que o ex-juiz tentou "jogar o povo contra o presidente". Bolsonaro ressaltou que ele foi eleito por milhões de brasileiros e tem a legitimidade para tomar as decisões – e que os subordinados devem seguir a hierarquia. Já no final de sua fala, o presidente insinuou que Moro teria insistido que só aceitaria a demissão de Valeixo no mês de novembro, quando da possível indicação do ex-juiz para o Supremo Tribunal Federal. Durante o discurso presidencial, houve "panelaços" em todas as principais capitais brasileiras, em protesto.

E, no meio de tudo isso, o Brasil continua enfrentando um cenário cada vez mais preocupante em relação à expansão da pandemia do novo Coronavírus. Já são mais de 3.600 mortes confirmadas e cerca de 53 mil casos no país, até essa sexta-feira. Ressalta-se que o distanciamento social é ainda o único meio cientificamente provado para enfrentar a doença, em caráter preventivo.

O Brasil continua em seu "turbilhão" político, com uma crise sanitária sem precedentes, problemas econômicos desembocando no contexto da recessão global e um governo federal errático, sem qualquer rumo e apoio parlamentar. Para além dos embates do presidente da República, é necessário que haja um foco maior para enfrentar a pandemia e minimizar os efeitos da expansão da doença no Brasil.

Em tempo: o Procurador-Geral da República, Augusto Aras, pediu abertura de inquérito ao Supremo Tribunal Federal para investigar as declarações de Sérgio Moro sobre o presidente da República. Aguardem-se os próximos movimentos.

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