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Ida de Bolsonaro à Rússia e alguns recados diplomáticos

Rodolfo Marques

A visita de Jair Bolsonaro (PL-RJ) à Rússia, incluindo um encontro oficial com o presidente do país desde 2012, Vladimir Putin, trouxe várias reflexões a respeito das posturas diplomáticas do atual chefe do Executivo do Brasil e dos “recados” ditos aos públicos através de tais movimentos. Em falas públicas, Bolsonaro destacou que o Brasil teria a responsabilidade de defender os princípios democráticos e proteger a ordem baseada em regras, reforçando essa mensagem junto à Rússia.

A despeito de várias orientações de seus auxiliares para não fazer essa visita à Rússia nesse momento, Bolsonaro manteve a agenda e levou uma comitiva com vários militares e com a insólita presença de um de seus filhos – o vereador pelo Rio de Janeiro, Carlos Bolsonaro (Republicanos). Aliás, Jair Bolsonaro teve que se submeter a cinco testes de Covid-19 para se encontrar com Putin – e em nenhum momento reclamou sobre a necessidade de fazê-los, assim como não questionou quaisquer medidas restritivas existentes no país russo.

Um primeiro movimento que pode ser detectado nessa decisão é algo que vale tanto para o presidente brasileiro quanto para o líder russo: denotar que as nações comandadas por eles não se encontram em isolamento diplomático, embora o histórico recente indique isso tanto para o Brasil quanto para a Rússia, muito em virtude, exatamente, dos comportamentos de Bolsonaro e de Putin.

Um segundo aspecto que pode ser observado, em especial no que se refere ao presidente brasileiro, é um possível “afastamento” em relação ao Estados Unidos, que desde janeiro de 2021 é comandado pelo democrata Joe Biden. Tal cenário evidencia uma situação muito peculiar da postura diplomática de Bolsonaro. A política internacional do governo brasileiro, desde 2019, prioriza as preferências pessoais do presidente, a partir do alinhamento por viés ideológico, em detrimento de alianças bilaterais e multilaterais no âmbito institucional. Bolsonaro era muito ligado ao ex-presidente ianque, o republicano Donald Trump (2017-2020), assim como mantém relações complicadas com parceiros comerciais importantes, como com o presidente da Argentina, Alberto Fernández, e com o da França, Emmanuel Macron, por exemplo.

Um terceiro fator a ser discutido nesse contexto é a crise na fronteira entre Rússia e Ucrânia, envolvendo a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) e os Estados Unidos. A situação está bem tensa no local, em virtude de interesses difusos, e a visita de Bolsonaro praticamente passou ao largo da questão. Tal fato, aliás, reforça a ideia de que o Brasil perdeu muito prestígio e qualquer tipo de protagonismo no campo das relações internacionais, principalmente a partir de janeiro de 2019.

Por fim, Bolsonaro encerrou sua passagem pelo Leste Europeu realizando um encontro com o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Órban. Na reunião, o presidente brasileiro chamou seu interlocutor de “irmão” e reforçou o seu alinhamento ideológico a Órban, que comanda a Hungria desde 2010 (está no terceiro mandato), com um discurso nacionalista e defensor da extrema-direita, e com ações autoritárias junto aos poderes constituídos, à imprensa e às instituições educacionais.

Dessa forma, mesmo sem grandes impactos em relação ao posicionamento do Brasil no contexto internacional, Bolsonaro conseguiu fortalecer um diálogo com dois líderes do continente europeu e reforçou seu discurso político associado ao populismo, à direita ideológica e à defesa dos valores conservadores – a religião, a pátria e a família tradicional.

Rodolfo Marques