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Decisão da Big Tech Meta nos Estados Unidos e possíveis reflexos futuros no Brasil

Rodolfo Marques

A recente decisão da Meta em encerrar seu programa de checagem de fatos (fact-checking) nos Estados Unidos e substituí-lo pelo sistema de "Notas da Comunidade" traz preocupações substantivas em todo o planeta, ainda mais em países como Brasil, em que a desinformação, há tempos, é um problema crônico. No país, as notícias falsas têm sido usadas para manipular opiniões políticas, descredibilizar instituições democráticas e disseminar teorias conspiratórias. A remoção de um sistema estruturado de checagem independente pode piorar essa situação, incrementando os riscos de desinformação e da de influência negativa em processos democráticos.

O protocolo de "Notas da Comunidade", nesse contexto, depende da participação de usuários comuns, que podem não possuir a capacitação necessária para identificar informações falsas ou enganosas. No contexto brasileiro, marcado por polarização extrema, isso pode resultar em notas enviesadas ou mesmo em campanhas coordenadas para validar conteúdo enganoso. Em vez de combater a desinformação, o sistema pode incrementá-la, colocando em risco o acesso da população a informações mais confiáveis.

Ao lado disso, a progressiva retirada de especialistas em checagem de fatos diminui a credibilidade na etapa de confirmação dos conteúdos publicados. No Brasil, por exemplo, onde ainda há muita infoexclusão, como pouco conhecimento efetivo sobre o uso das plataformas digitais, a sociedade, em geral, pode ainda não estar preparada para diferenciar entre conteúdo falso e verdadeiro sem suporte adequado. Ao mesmo tempo, uma certa confusão na apresentação das informações pode gerar um aumento da desconfiança nas instituições.

Outro eventual impacto da decisão da Meta, caso ela se espraie em vários outros países, é o potencial enfraquecimento do combate à desinformação em segmentos como o da saúde pública. Quando da pandemia de Covid-19, entre os anos de 2020 e 2022, especialmente, o Brasil enfrentou uma avalanche de informações falsas, que atrapalharam sobremaneira as medidas preventivas, como o uso de máscaras, e os esforços de vacinação. 

Ao fim e ao cabo, portanto, esse movimento da Meta reforça alguns aspectos importantes em relação ao uso das redes sociais: a responsabilização das empresas de tecnologia; as ações dos governos; a relevância da educação midiática; e como será, em um futuro próximo, os processos de checagem de fatos?

Para o Brasil, a médio prazo, embora haja ainda um longo debate pela frente, o cenário que se desenha é de retrocesso, pois reduz as ferramentas disponíveis para combater um dos maiores desafios da dita “Sociedade do Conhecimento”. O modelo ideal seria aquele em que o governo brasileiro, a sociedade civil e as empresas de tecnologia trabalhariam em conjunto para combater a desinformação.

 

Rodolfo Marques